POR FALTA DE ADEUS NÃO SERÁ

salve, flavio,

relendo, fico achando este meu poema tão confuso, tão confuso, que tenho medo levar-me a sério. até porque hoje por aqui o dia amanheceu nublado. e um pouquinho só de luz não me faria mal. obrigado sempre pelas suas palavras.

abração,

j.

meu querido amigo,

aqui, deste outro lado do atlântico, ninguém perdoa nada - nem crises, quanto mais dívidas. na dúvida, vou adiando.

abração.

j.

pois é, meu bom amigo, como dizia o velho manuel bandeira - "ainda bem que existe o álcool na vida gente." o cigarro, dizem, esquenta por dentro. continua fumando, enquanto o sinal não fecha de vez.

abraço,

j.

maria joão,

ainda tenho alguns adeuses no meu estoque. poucos mais tenho. quando vejo que vão acabar, tenho a vantagem de observar a vida aqui do 7º andar. então a gente repete tudo de novo. só mudam as caras e as cores.nublado, como está agora, ou com sol, os dias são os mesmos, assim como os fatos que os jornais trazem na tv. os drinques e os cigarros felizmente ajudam a empurrar a coisa.

beijo,

j.

dorinha,

isqueiro é coisa que eu vivo perdendo. fico com a caixa de fósforos mesmo. se faltar, vou até ao fogão - mas como o gás tá sempre atrasado, o remédio é chegar pra qualquer um na rua e pedir - ô meu, empresta o fogo. e assim vamos, sabe deus até quando.

carinho,

j.

amigo domingos,

você tem razão: é um sanduíche de realidade. e de triste realidade. na verdade, eu chamaria geleia geral, porque se trata de uma quase-homenagem ao poeta torquato neto, a começar pelo título, inspirado nos belos versos que ele escreveu para a canção Pra dizer adeus, de edu lobo. o gás atrasado não deixa de ser também uma alusão à maneira como ele escolheu para dar fim à vida. sei que este poema, pelos comentários que recebi, teve várias leituras. mas eu me inspirei, à minha maneira, no torquato neto, inclusive procurando usar a linguagem mais coloquial possível.

abrs,

j.

mathilde,

respondo ao seu comentário parafraseando o título do livro de um poeta brasileiro,Thiago de Mello, muito perseguido na época da ditadura militar: "Faz escuro, mas eu canto."

carinho,

j.

meu caro siljo paipe,

acho que a gente já nasce com a alma insatisfeita. mas no caso deste poema, eu o revelei apenas ao fogomaduro (domingos da mota, porque eu já lhe havia falado da pessoa em quem me inspirei para escrevê-lo). este poema, na verdade, é um quase homenagem póstuma ao poeta e compositor brasileiro torquato neto. ele se suicidou um dia depois de ter completado 28 anos, em 1972, ligando o gás e vedando todas as possíveis entradas de ar do apartamento onde morava. só preservou o quarto onde a mulher e o filho pequeno dormiam. deixou um bilhete, que foi publicado na imprensa na época. torquato teve muita importância, ao lado de gilberto gil e caetano veloso, no movimento cultural tropicália. era também jornalista. a ideia do suicídio, porém, sempre se mostrou visível nas entrelinhas dos poemas e das letras de música que escrevia. o título do poema foi tirado de uma de suas letras mais famosas, Pra dizer adeus, que recebeu melodia de edu lobo. o gás atrasado no meu poema é alusivo à forma como ele escolheu para acabar com a vida. eu não citei a homenagem porque pouca gente, entre os brasileiros inclusive, o conhece ou se lembra dele. mesmo no movimento tropicália, embora fosse um dos articuladores, quase não aparecia. era tímido e discreto. sua participação ficava mais por conta das letras de música que fazia e da coluna irreverente, Geleia Geral, que mantinha no Jornal do Brasil.

abraços,

j.

maria fernanda,

embora este poema tenha recebido diversas leituras aqui, só agora decidi revelar como e para quem foi feito. eu o escrevi como uma quase homenagem póstuma ao poeta e compositor brasileiro torquato neto. parceiro de gilberto gil, caetano veloso e edu lobo em várias canções conhecidas, pelo menos aqui no brasil, torquato neto se matou aos 28 anos, um dia depois de fazer aniversário, com gás de cozinha. foi também jornalista e um dos principais articuladores do movimento tropicália. eu não citei a menção porque de nada adiantaria. nem mesmo os brasileiros mais jovens conhecem ou se lembram dele. era muito tímido e discreto. o título foi inspirado numa das letras que escreveu para uma famosa canção de edu lobo, Pra dizer adeus, e que obteve inúmeras gravações. a mais comovente delas com elis regina, que chega a chorar ao cantar os últimos versos.

beijo,

j.