Poemas : 

Escolhas lentas

 

Deambulo em um querer louco, numa desenfreada conquista antiga,
mesclo dúvidas com incertezas, dou ao Divino uma razão para me amar.
Sei que há um abandono perene. Rio da emoção.
Remo em fúria no espaço que me foge, nego a dita que me abraça,
encandeio a sina veloz, caminhante, peregrina, reflexo silencioso,
amedronto-me com a noite calada.
Tenho medo do sol já posto, da não-luz da escuridão nocturna.
Tenho danças minhas, vibrações esbeltas, crivadas na pedra dura.
Respiro a longínqua espera do desconhecido,
realizo-me com o abrupto das falésias,
vou e venho, danço com as marés.
Recordo-me quando me esqueço, tenho-me quando não me quero.
Canso-me das partidas vãs, das escolhas lentas,
canso-me dos silêncios quebrados, das palavras que se estilhaçam,
canso-me do som que há dentro e que não se grita,
da emoção de me consome e que não expresso,
da luta guerreira, intensa, atroz e louca, que não me abandona.

 
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jomasipe
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Enviado por Tópico
Moreno
Publicado: 24/10/2009 22:04  Atualizado: 24/10/2009 22:04
Colaborador
Usuário desde: 09/01/2009
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Mensagens: 3482
 Re: Escolhas lentas
Uma coisa é certa: não me canso de te ler! Aprecio essa luta guerreira que travas contigo mesmo, com o universo em que moldas as palavras.

Abraço


Enviado por Tópico
rosafogo
Publicado: 24/10/2009 22:44  Atualizado: 24/10/2009 22:45
Usuário desde: 28/07/2009
Localidade:
Mensagens: 10484
 Re: Escolhas lentas
É um espanto, sempre linda, a poesia que aqui se lê.

Faço minhas as palavras do comentador acima, na verdade é sempre muito bom ler-te.
Adorei, o «vou e venho com as marés» ou «tenho-me quando não me quero».

É assim que vale a pena fazer poesia, desta maneira bela e compreensível, que nos dá muito prazer a sua leitura.

abraço amigo
da rosa


Enviado por Tópico
ÔNIX
Publicado: 24/10/2009 23:36  Atualizado: 24/10/2009 23:36
Membro de honra
Usuário desde: 08/09/2009
Localidade: Lisboa
Mensagens: 2683
 Re: Escolhas lentas
"Tenho medo do sol já posto, da não-luz da escuridão nocturna."
"Respiro a longínqua espera do desconhecido,
realizo-me com o abrupto das falésias,
vou e venho, danço com as marés."

Sinto em cada palavra tua,
a respiração certa
para te afirmares na força das marés,
nesse encontro que te espera
no lusco-fusco...
Semeias a luz por onde passas;
em cada sílaba,
em cada verbo,
em cada sol posto,
e até na ausência de luz,
esse teu cansaço reluz.

Saúda-te daqui,
este divino presente em mim e em ti


Bjs

Matilde D'Ônix