Poemas : 

A impaciência dos rios

 
Tags:  João Coelho Évora  
 
Tanta ave a subir das ruínas ardentes.

- Natércia Freire



Olha este corpo, este corpo que se multiplica

para ser ramo e sílaba e labirinto de sal

entre o sol e o mar, esta voz calada

a rasgar-se por entre as árvores

para fugir à sede das palavras

e arrastar o mundo pelas avenidas

quando a cal da memória seca na pele

tão de repente;



este corpo, corpo meu e às vezes sem dono,

este corpo indomável que se perde na doença da noite,

barco de papel na absurda solidão do sangue,

esta chama teimosa a gritar nas veias uma e outra vez

para manter os olhos bem abertos à confusão dos riachos.



Olha este corpo, tu, indiferente à fome e à tragédia,

que eu confesso já não saber como não ser areia

a escapar-se pelo abismo das feridas.

*

João Coelho
Évora

 
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Thelema
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Enviado por Tópico
Conceição Bernardino
Publicado: 29/10/2009 01:36  Atualizado: 29/10/2009 01:36
Usuário desde: 22/08/2009
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Mensagens: 3357
 Re: A impaciência dos rios
Simplesmente divinal.

Abraço
MG