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Neste quarto

 
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Neste quarto onde me reservo, como garrafa esquecida em cave escura, tenho por companhia um pedaço de sol alojado no meu peito. Entre nós tudo é claro e sincero, deixo as mágoas ausentarem-se, ficando assim só, com a minha solidão quente. Basta-me a cor azul estampada nas palavras, basta-me a esperança do verso que escolhi. Tudo é tão fácil quando toco as folhas, vermelhas de cansaço, das videiras que em fileira me acompanham o pensamento. Tudo é tão fácil quando abro a janela à vida que me procura, entrando sem pedir licença e me arrastando de encontro à parede degustando-me a alma sem qualquer pudor. Por vezes, retiro a rolha da garrafa onde me encerro e entorno-me tentando chegar ao horizonte que trazes nesses teus olhos felinos. Deito-me em terra molhada junto ao teu corpo de pêlo quente e sedoso. Aninho-me e deixo-me adormecer. As asas do sonho levam-me a terras onde nunca fui, levam-me à lua do teu céu onde te rodeias de gaivotas que te gritam e te encantam, enquanto eu me perco no areal imenso do teu corpo. Com a aurora despeço-me, deixando os teus lábios húmidos, recolho o horizonte e acordo deitada só, na cama deste quarto onde me reservo.

(reeditado http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=59113)
 
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Enviado por Tópico
Moreno
Publicado: 12/11/2009 10:47  Atualizado: 12/11/2009 10:47
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 Re: Neste quarto
É difícil encontrar palavras perante o fascínio deste texto... voa, nas asas desse sonho!

beijo