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A SAGA DE UM QUARENTÃO - Parte III

 
(continuação)

Tive vontade de mandar o Zeca para a puta que pariu, mas dominei a minha raiva e fiquei calado. Pensei na felicidade que eu sentiria se um dia pegasse aquele filho da puta fazendo coisa errada. Ah! Seu eu pego aquele desgraçado “mijando fora da bacia”. O mínimo que eu faria era cortar o pau dele em quatro pedaços, enfiar um em cada ouvido, um na boca e outro no seu ânus (no dele, é claro) e ainda deixaria o porco pendurado em praça pública com uma placa no peito escrito: aqui jaz um tarado.

Ainda bem que o miserável desceu na estação Praça Onze e eu segui minha viagem até a estação Uruguaiana. Desci do trem, tomei um cafezinho e lá fui eu caminhando devagar, desolado e na esperança de nunca chegar ao meu destino, mas a realidade e outra e infelizmente cheguei no “abatedouro” e imaginei a cara do meu algoz babando de felicidade esperando a minha chegada.

Peguei o elevador e quando ele parou no 3º andar senti um arrepio que subiu da ponta do dedão do pé até o último fio de cabelo (da cabeça é claro) dando-me a sensação que uma entidade de Umbanda estava tentando se apoderar do meu corpo. Fiz o sinal da cruz três vezes, rezei pelo meu anjo da guarda e entrei no consultório.

A atendente era uma senhora gorducha e metida a engraçadinha, apesar da aparente simpatia. Entreguei o cartão do plano de saúde para fazer a ficha.

- Bom dia, minha senhora!

- Bom dia Sr.Francisco. – respondeu ela, olhando para o cartão.

- É a primeira vez? – perguntou olhando nos meus olhos.

- Sim - respondi baixinho como se estivesse contando um segredo.

- A primeira vez aqui ou a primeira vez que vai fazer o exame? - insistiu a chata.

- É a primeira vez que vou fazer o exame, moça – respondi morto de vergonha.

- Aí que lindo! Moça? Só se for no ouvido, bonitão! – disse ela sorrindo.

- Obrigado pelo bonitão e desculpe pela moça – falei meio constrangido.

- Hoje você perde a virgindade, mas fica tranqüilo que a vaselina é da boa. - Falou a engraçadinha.

- Heim!? – balbucie incrédulo com o que acabara de ouvir.

- Liga não Sr. Francisco, rapidinho o senhor acostuma. – respondeu a gorda, deixando a mostra, no seu sorriso, a ausência dos dois principais atacantes.

Pelo calor que senti no rosto, acho que fiquei vermelho de vergonha e ensaiei um sorriso meio sem graça. Ao mesmo tempo deduzi que os dentes que faltavam no sorriso da gordinha fugiram agarrados na mão de alguém menos paciente do que eu.

Como o meu saco não parava de doer, peguei uma revista para tentar esquecer a dor. Nisso chegou um cara, tipo executivo, de terno e gravata, boa pinta, desembaraçado. Cumprimentou a gorda e sentou-se ao meu lado. Eu não conseguia ler, mas continuei olhando para a revista. O cara tentou puxar conversa:

- Bom dia, amigão, tudo bem?

- Tudo – respondi sem tirar os olhos da revista.

- Troço chato esse exame né?

- É – respondi com a cara na revista

Ele percebeu que eu não estava a fim de papo e nada mais falou. Pegou o celular, ligou e avisou que ia chegar mais tarde. Deu algumas ordens desligou e virou-se para a atendente:

- O Dr. Alfredo já chegou?

- O Dr. Alfredo viajou. – respondeu a gorda abusada – A Dra Heloísa está atendendo os pacientes dele.

- O que!!!??? Doutora!!!??? – indaguei a mim mesmo, horrorizado.

Ai meu Deus...é uma mulher...to fodido...porque esse filho da puta resolveu viajar logo hoje? Acho que vou embora...prefiro morrer do que mostrar minhas partes tão íntimas para uma mulher desconhecida.

Antes que eu pudesse me recompor do susto, ouvi uma voz feminina:

- Sr. Francisco Pimenta.

Olhei na direção do cara na esperança de que ele fosse o meu homônimo.

- Sr. Francisco, pode entrar – falou a gorducha, olhando pra mim.

O mundo desabou na minha cabeça. Levantei em silêncio e adentrei o recinto pornográfico que estava a minha espera.

- Bom dia, Sr. Francisco, tudo bem?

- Porra, minha senhora, se estivesse tudo bem eu não estaria aqui. – pensei, mas não falei.

- Tudo mais ou menos doutora – respondi um pouco desanimado.

- Sr. Francisco, conte pra mim, em detalhes, o que o senhor está sentindo.

- Bem...é...é...eu to...na verdade...sabe doutora...eu...

- Pode falar, Sr. Francisco, - disse ela - não fique envergonhado, eu estou acostumada com isso, pode se abrir comigo.

- Se abrir!!!??? Ficou maluca, mulher? Acha que eu sou desses que vai se abrindo para qualquer mulher logo no primeiro contato? – novamente pensei, mas não falei.

Ela, com a mão no queixo, olhava pra mim com ternura e aguardava pacientemente a minha resposta. Fiquei contemplando o rosto lindo daquela mulher de pele bronzeada contrastando com seus olhos levemente esverdeados e que deixavam transparecer toda a sua sensualidade. Voltei para a realidade quando ouvi sua voz.

- Vamos, Sr. Francisco, preciso saber o que o senhor está sentindo.

- É...como eu ia dizendo...to...quer dizer... – eu tentava, mas não conseguia falar.

- Sr. Francisco, - disse ela demonstrando impaciência – o senhor precisa confiar em mim e falar abertamente o que está sentido para que eu possa examina-lo. Não podemos ficar aqui olhando um para a cara do outro. Lá fora tem outros pacientes aguardando atendimento. Vamos lá! O senhor tem duas opções: falar ou falar. – sentenciou a fera vestida de fada.

Criei coragem, ou melhor, aceitei o velho ditado, “quando o estupro é inevitável, relaxa e goza”. Comecei a falar tudo sobre a dor que me atormentava desde a noite anterior. Eu só não falava abertamente que era no “saco”, eu dizia que era na região da bolsa escrotal e apontava para o “Nelson Ned”. Falei que após a reportagem do GNT eu tinha ficado desiludido e achava que ia morrer. Contei tudo sem esconder nada. Falei até da discussão que eu tive com a Verinha. Ao final da minha confissão, pedi a ela que fosse sincera comigo e estimasse quanto tempo eu ainda teria de vida. Ela tentou me tranqüilizar:

- Calma, Francisco, nem sempre dores nos testículos significa câncer de próstata. Fica tranqüilo que eu vou te examinar.

- Francisco!!??. Há poucos minutos atrás eu era Sr. Francisco e agora já está me tratando com intimidade. – pensei em silêncio - Onde ela está querendo chegar?

- Vá para trás daquele biombo, tire toda a sua roupa e vista esta camisola, quando estiver pronto me avise, ok?

- Camisola!? Puta que pariu! Quarenta anos na cara e tenho que vestir camisola na frente de uma desconhecida. Oh! Meu Deus! Quanta humilhação. – pensei, quase chorando.

Fui para trás do biombo e mais uma vez um pedaço do céu caiu sobre a minha cabeça. Percebi que não tinha como escapar daquele estupro e me entreguei. A tristeza e a vergonha tomaram conta de mim. Vesti a tal camisola e gaguejei:

- Esto...tou...pron...pron...to...dou...to...to...tora.

Ela pediu que eu aguardasse um pouco. Fiquei igual a um babaca, peladão dentro daquela camisola horrível e toda aberta atrás. Pensei em despertar o “Nelson Ned’ para não passar amenizar um pouco a vergonha, mas quando tentei acaricia-lo não o encontrei. O danado estava só com o olhinho de fora, o corpo e a cabeça simplesmente desapareceram e quase que eu digo para a médica: traga uma pinça doutora.

- Francisco, - chegou ela toda decidida, cortando o meu pensamento - senta na maca, coloque esse pedaço de borracha entre os dentes, pegue essas duas bolinhas e aperte-as, alternadamente, uma em cada mão.

Não entendi porra nenhuma, mas fiz o que ela mandou. A danada levantou a minha camisola e deixou a mostra o maior motivo da minha vergonha. Percebi um risinho sarcástico no rosto da filha da puta. Possesso de raiva, fechei os olhos e comecei a morder a borracha e apertar as bolas que estavam em minhas mãos. Senti quando o meu saco foi envolvido pela maciez de suas mãos e fiquei todo arrepiado, mas o “Nelson Ned” nem deu sinal de vida, continuou escondido na sua toca. Ela começou a esfregar os meus testículos...eu calado...ela esfregava...eu calado...parou de esfregar e começou a apertar...eu calado...mais pressão e eu calado engolindo a minha dor. De repente, não satisfeita com a tortura, a danada apertou com mais força. A dor foi tão violenta que me fez quicar na maca. Eu não conseguia gritar porque estava mordendo a borracha, mas gemi com todas as forças da minha alma e numa manobra desesperada, larguei as bolas que eu estava apertando e agarrei a doutora pelos cabelos.

- Meu Deus! – pensei comigo - Como pode um pai permitir que a sua filha passe o dia todo apertando os culhões dos mais variados tipos de homem que aparecem a sua frente. Ah! Se fosse minha filha...eu não deixava...eu não deixava e se insistisse entrava na porrada.

Agarrado aos cabelos daquela bela mulher eu me sentia um verdadeiro inútil balançando a cabeça negativamente.

- Por favor, pare. Não me torture mais. Largue o meu saco, pelo amor de Deus. Não faça isso comigo. Eu sou um cara legal e não mereço esse sofrimento – implorava o meu olhar desesperado.

Acho que ela compreendeu o apelo dramático que eu fazia com o olhar e largou o meu saco.

- Tudo bem, Francisco, fica calmo, já vai acabar. Quer tomar um pouco de água?

- Porra! – pensei revoltado - Água numa hora dessa. Na verdade eu precisava é de uma garrafa de pinga pra tomar um porre e não vê o que estava acontecendo. Não, doutora, quero não, muito obrigado – respondi.

- Francisco, – começou ela toda sedutora - a próxima etapa é um pouco desconfortável e você precisa relaxar para que tudo corra bem, ta legal? Não se preocupe que eu não vou machucar você.

- Que porra é essa de “não vou machucar você”? – pensei de cabeça baixa olhando, de soslaio, os movimentos que ela fazia.

Vi quando a minha bem intencionada estupradora pegou um par de luvas e uma latinha de vaselina.

- Puta que pariu, chegou a hora da dedada. Será que vai doer muito? – pensei.

(continua)

 
Autor
MagnoRobertoAlmeida
 
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