Contos : 

Ele e Ela

 
Ela era linda, um olhar acastanhado, a pele morena pelo sol da aldeia que incide forte nos campos onde Ela costumava levar a comer as ovelhas, o sorriso amarelado que nunca conheceu o sabor de um a pasta de dentes, os cabelos loiros, brilhavam pela montanha abaixo enquanto Ela a subia com os pés descalços.
Ele era bonito, olhar doce e azul como o mar calmo das águas do rio, a pela branca nunca tinha conhecido mais sol do que aquele que lhe entrava pela janela do escritório, o sorriso límpido e aberto, os cabelos atrapalhavam-lhe o olhar de vez enquanto quando o vento os trazia para a frente da face redonda e bela que a sua mãe tanto admirava.
Ela tinha acordado já com o sol a bater-lhe no olhar, cedo se despachou a encaminhar as 30 ovelhas na sua frente rumo ao cimo do monte. Ele acordou tarde, só às 9h é que tinha de estar no escritório, era sempre a monotonia do costume, atender clientes, atender clientes, atender clientes, sorrir, sorrir, sorrir e atender clientes. A essa hora já Ela se sentara no cimo da montanha a desejar que o dia se despachasse a findar.
Quando Ele chegou ao escritório mandaram-no pegar no automóvel da empresa para ir a uma aldeia do interior do país cobrar uma dívida, embora não querendo Ele lá foi com um sorriso no rosto, ar condicionado ligado, afastando-se cada vez mais do litoral e do cheiro a mar. Ela sozinha no cimo do monte assistiu à queda repentina de uma das suas ovelhas monte abaixo, depois juntou o rebanho e sem pressa começou a descer a montanha. Ele desconhecia os caminhos por onde se passeava, estradas estreitas, de terra batida, sempre ladeados pela erva tenra, pelo verde dos campos. Ela vinha devagar, tão devagar que de vez enquanto o sol parecia parar de girar em volta da terra só para a ver passar, até o vento inexistente passava mais rápido que Ela.
Ele perdido no meio dos caminhos, sentado em cima de um rochedo ao lado do carro, esperava que alguém aparecesse para lhe pedir informações. Ela viu o carro e ainda pensou não mais avançar mas depois lembrou-se que só por ali podia conduzir o rebanho. Ele viu-a ao longe e correu estrada acima gritando pela menina. Ela escondeu-se por detrás dos seus cabelos longos e deixou-se corar. Ele perguntou por onde deveria seguir mas Ela que conhecia de cor todos os caminhos desconhecia aquele senhor. Ele deixou-se levar pelo impulso e com o seu lenço branco limpou o rosto à menina, Ela escondeu-se ainda mais e Ele afastou-lhe os cabelos do rosto e deu-lhe um beijo, naqueles lábios que ainda ninguém provara. Ela deixou-se levar pelo sentimento que lhe ardia no peito e deixou-se cair sobre a relva verde enquanto ele a cobria de beijos pelo corpo nu, inocente e puro que nunca havia sido tocado.
O rebanho esperava-a pacientemente no pasto ao lado, a erva ali era tenra, Ela vestiu-se e encaminhou-o à corte quando a tarde já se deitava pelo corpo do homem nu, Ele nem a viu partir e quando este acordou as estrelas já lhe despenteavam o cabelo, pegou no carro e voltou à cidade com um sorriso de orelha a orelha.
Alguns meses depois Ela sabia-se grávida e com o rebanho no pasto recordava a sorriso dele e a sua delicadeza. Ele continuava agarrado ao computador da empresa, Ela era apenas uma recordação…


. façam de conta que eu não estive cá .

 
Autor
Margarete
Autor
 
Texto
Data
Leituras
7250
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
0 pontos
0
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.