Poemas : 

CANÇÃO DO BREVE DESESPERO

 
devo matar-me amanhã
perto da rua onde moro pra que todos vejam
não sei se vão sentir
devo cagar na minha memória
memória é isto
devo meter uma bala no ouvido
saída do revólver que nunca tive
devo relaxar os intestinos
e cagar na minha história

perto da rua onde moro
pra que todos vejam e não ouçam
a bala explodir no ouvido
não quero assustar as crianças
nem os pombos
nenhum bicho de estimação
nada vale a pena
quando se pensa na morte

não sei se tomo alguma bebida antes
seria covardia com a morte
devo morrer amanhã
sem rumo
sem par
devem me colocar num cemitério qualquer
com os braços cruzados
como se eu devesse alguma coisa a deus

devo nada...
devo morrer amanhã
quando o relógio marcar 14h45
devo morrer

____________________

júlio, 15-12-09


Júlio Saraiva

 
Autor
Julio Saraiva
 
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Enviado por Tópico
antóniocasado
Publicado: 16/12/2009 01:43  Atualizado: 16/12/2009 01:43
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Mensagens: 1656
 Re: CANÇÃO DO BREVE DESESPERO
Ola

A morte apenas assusta quem a teme. A hora marcada incomoda quem dela foge. Quem tem as mãos abertas de dar, o coração a abarrotar de entrega, a alma plena da irradiação distribuída, e um sopro divino na palavra terrenas, não pode temer o inevitável.
A morte é apenas o sinónimo do renascimento. Erguer o paraíso do caos. Vamos morrer sim, para nos tornarmos mais fortes e mais vivos.

Morto não foi quem morreu, mas quem nunca soube viver!

António Casado


Enviado por Tópico
ângelaLugo
Publicado: 16/12/2009 02:29  Atualizado: 16/12/2009 02:29
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 Re: CANÇÃO DO BREVE DESESPERO
Olá caro poeta Júlio

O que dizer depois de sentir
este desespero em minh'alma
de ter a hora marcada e não
saber se vai acontecer?
O que dizer que ninguém morre
antes da hora pré estabelecida?
Nada meu caro amigo só posso dizer
que teu poema está intenso e excelente
tua criatividade é sensacional....

Parabéns mesmo!

Beijinhos no coração


Enviado por Tópico
Alexis
Publicado: 16/12/2009 02:29  Atualizado: 16/12/2009 02:29
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 Re: CANÇÃO DO BREVE DESESPERO para julio
14.45 parece-me uma boa hora para se ser cobarde.ou para se fazer um poema.qualquer hora é boa para te ler.até esta já tardia.



Enviado por Tópico
DianaBalis
Publicado: 16/12/2009 02:40  Atualizado: 16/12/2009 02:40
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 Re: CANÇÃO DO BREVE DESESPERO
Espero voce aqui amanhã nesse horário contando amenidades, a triste visita da morte este ano fez-me ver como é bom viver, diante da cidade e das diferenças sociais nem mesmo os pombos tem paz, vamos caminhar na busca de um lugar ao sol. Beijos, triste tema.


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 16/12/2009 12:31  Atualizado: 16/12/2009 12:31
 Re: CANÇÃO DO BREVE DESESPERO
é um poema muito belo, intestinal, desesperante, solto. espero é que esse relógio se atrase muitos anos e esses prémios façam uma chuva colorida. que bem merece o poeta.

um abraço

mário


Enviado por Tópico
HorrorisCausa
Publicado: 16/12/2009 13:15  Atualizado: 16/12/2009 13:15
Administrador
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Mensagens: 3560
 Re: CANÇÃO DO BREVE DESESPERO
"qualis vita, finis ita"
tal vida tal morte


beijo


Enviado por Tópico
Amora
Publicado: 16/12/2009 18:34  Atualizado: 16/12/2009 18:34
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Localidade: Brasil
Mensagens: 4705
 Re: CANÇÃO DO BREVE DESESPERO
À la Julio, uma canção imperdível!
Feita pra durar pra sempre!
Excelente!

Ah, não pude ir por isso não te encontrei, em fevereiro se Deus quiser!

Beijo

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 17/12/2009 03:40  Atualizado: 17/12/2009 03:40
 Re: CANÇÃO DO BREVE DESESPERO
Então poeta? A morte com hora marcada? espero que a morte não tenha pontualidade britânica. Há muitas formas de morte. A morte corporal e cerebral não é única. Esta não me apavora.

Um excelente poema

Boas festas

Beijo azul