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. setenta e oito .

 


. façam de conta que eu não estive cá .

tenho uma dor no peito,
sopro-lhe para doer menos mas é mais que dói.
é pequena e minha e
sopro-lhe para doer menos mas é mais que dói.
esta dor, de pequena, ocupa a casa, a rua, a vivenda em frente, o jardim abaixo desta, a escola, o pátio, a paragem do autocarro, o autocarro, as pessoas dentro dele. quando me dou conta regressa-me, vem a doer mais, como se a nomeação das coisas lhe enchesse a imaterialidade do corpo. trago esta dor comigo, a bater-me no coração, que é a porta por onde entra. às vezes mato-a mas é na sua ressurreição que me sei, como se a dor em si guardasse o que sou.
 
Autor
Margarete
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Enviado por Tópico
Henricabilio
Publicado: 27/12/2009 22:02  Atualizado: 27/12/2009 22:02
Colaborador
Usuário desde: 02/04/2009
Localidade: Caldas da Rainha - Portugal
Mensagens: 6963
 Re: . setenta e oito .
Se uma forma muito anti romântica, a dor mantêm-nos a alma aquecida - embora o corpo possa gelar...

Feliz Ano Novo!
Abíl!o.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 28/12/2009 09:53  Atualizado: 28/12/2009 09:53
 Re: . setenta e oito .
esta dor de vida... penso percebê-la...

Bjs.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 31/12/2009 00:37  Atualizado: 31/12/2009 00:37
 Re: . setenta e oito .
reconheço esse vagido que se propaga em fundo pela vida. agradecido por soprares aqui as tuas palavras.