Poemas : 

Extrema unção

 
Tu aí sentado sem luz,
lamento,
o teu tempo acabou
e com ele os míseros instantes,
lamúrias e adivinhas
dessa tua voz lavrada de tédios
com a quilha em rugas.

Tu aí debotado no limbo,
aprende as rédeas da viagem
na cor dos teus olhos,
a cada passo a vida esquiva-se
e foge gretada de sonhos,
fareja o tempo enquanto podes
... hoje é um sol,
amanhã é meio-clarão
e na última planície do teu destino
tudo é negro e espesso,
do ar ao chão,
e tu, empalhado nas latitudes
já és somente a última fome
de um corpo curvado,
numa alma murmurada.

Tu. Lamento,
as tuas horas húmidas e gordurosas
sem sede nem coração
galgando vadios,
serão cinzas e ilusões sem dono,
caça de qualquer arco-íris,
como tu, doidas e pobres!
 
Autor
José António Antunes
 
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Enviado por Tópico
Moreno
Publicado: 29/12/2009 19:58  Atualizado: 29/12/2009 19:58
Colaborador
Usuário desde: 09/01/2009
Localidade:
Mensagens: 3482
 Re: Extrema unção
Haja esse fim ao lamento que é negro...

Excelente poema!

um abraço

Enviado por Tópico
AnaCoelho
Publicado: 29/12/2009 21:24  Atualizado: 29/12/2009 21:24
Membro de honra
Usuário desde: 09/05/2008
Localidade: Carregado-Alenquer
Mensagens: 11253
 Re: Extrema unção
Aprender as rédeas da viagem
Será esse o segredo
para que todos possam
ver as cores do arco-íris?


Beijos