Poemas -> Introspecção : 

O silêncio de ontem não adivinhava o silêncio de hoje

 
O silêncio, para muitos o vazio acústico, para nós sempre fora significativo de divagações ruidosas para o sossego e motivo para outras muitas que nos retiraram o sono e nos levantaram da cama.

Ontem
Gritavas: cala o silêncio com a tua voz!!

Ontem
Meu companheiro nos infortúnios e entre lençóis
Querias calar o silêncio que te acordava as emoções e te trazia incomodo ao teu saber estar. O teu corpo denunciava o constrangimento que te trazia o silêncio. O silêncio era para ti inoportuno e fazia-te lembrar que estávamos calados. Estar calado era sinónimo de assunto esgotado. Parecia-te assustador e levantavas várias indagações desperdiçadas que te ocupavam o tempo útil de vida: que tradução dou ao seu silêncio? não terá interesse em mim? ou será precisamente o contrário? será revelador do seu interesse por mim? em me querer, em me ter? o silêncio trazia-te a dúvida, que em relação imatura é perturbadora da serenidade. Com o silêncio sentiste observados os teus movimentos, os teus pequenos trejeitos. O silêncio, pensavas, era a minha leitura de ti. Com o silêncio explorava-te. Darmo-nos a conhecer traz muitas vezes a insegurança, que todos carregamos, manifesta da incerteza de não gostarem de quem conheceram – todos tendemos gostar que todos gostem de nós (gregos e troianos).

Hoje
Gritas: cala-te! Deixa falar o silêncio calando a tua voz.

Hoje
Meu companheiro nos infortúnios e entre os lençóis
Já perdi as palpitações só de pensar que pensas em mim. Já perdi a inquietude sentida no estômago quando me surges. Já perdi o corar quando me tocas. Mas apanhei a tua verdade, que parte ainda tanto me seduz. Anseio perder as mudanças da tua verdade, no trilho que vais escolhendo para a tua vida. Trazes poucas caricias, mas conheces as delicias que me fazem semicerrar o olhar e soltar sons gemidos, arrastados no silêncio e outros que rasgam o próprio silêncio. O silencio, hoje, representa o aperto das nossas mãos, já não suadas, e o nosso olhar dirigido na mesma direcção para o amanhã, com uns breves desvios de olhar, meio de soslaio...para ganhar as palpitações, as inquietações transmitidas no estômago, o corar no facies...sentires que nos lembram que ainda desejamos e nos desejam.


pessoa nenhuma (reside em mim)

 
Autor
elsa
Autor
 
Texto
Data
Leituras
1003
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
2 pontos
2
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
João Filipe Ferreira
Publicado: 14/07/2007 00:30  Atualizado: 14/07/2007 00:30
Colaborador
Usuário desde: 08/10/2006
Localidade: Lavra-Matosinhos
Mensagens: 1046
 Re: O silêncio de ontem não adivinhava o silêncio de hoje
Olá Elsa

adorei este texto...gosto muito de ler-te. escreves muito bem,profundo e de uma forma capaz de agarrar o leitor até ao fim:)
parabens..
vou ctn atento aos teus textos..gosto muito mm:)
beijinho

Enviado por Tópico
saraaldeia
Publicado: 13/10/2007 17:55  Atualizado: 13/10/2007 17:55
Participativo
Usuário desde: 13/10/2007
Localidade: Setúbal
Mensagens: 26
 Re: O silêncio de ontem não adivinhava o silêncio de hoje
Adorei o significado que atribuis-te ao silencio. Descreveste-o com rigor e ainda assim de uma forma tão melódica e poética!

Parabéns és uma grande escritora ;)

Cumprimentos,
saraaldeia*