Poemas -> Dedicatória : 

Florbela e eu

 
Inventei-me num abençoado dia poetisa,
Sem imaginar (inconsequente!) o que fazia.
E num livro, incrédula, descobri,
Uma rainha, sonetista de pura magia!
Em rimas descrevia-me toda a alma,
Com doces palavras rasgava-me o peito,
De sonetos povoava a minha angústia.
Trazia no colo uma pesada cruz:
Mulher sofredora ou diamante em flor...
Coabitava com apaixonadas amarguras,
E reinventava o amor no peito em chamas,
Por ser tão desditosa, tão mal amada.
Nasceram-lhe assim excelsos versos,
Encrostados nas delicadas mãos de fada.
Foi criando poemas, como que amados filhos,
Bailando mansamente em pedras de cetim.
Ofertou-me este gosto doido pela poesia
E um deleitoso teimar em ser poetisa.
Mas, ainda que mil poemas eu fizesse,
Não chegaria sequer a tocar-lhe os pés.
Partilhamos a sina das mulheres desgraçadas,
Vivendo desafortunados amores em cinzas
E sonhando jubilosas vidas de pó e nada.
Descontentes, loucas, incompreendidas...
A dor adormece-nos subtilmente os sentidos,
Como se desfolhasse-mos lágrimas de sal.
Tristes madrugadas ou exultante desalento?
Cânticos dissonantes, perfumados de jasmim.
Lamentos compadecidos, perdidos no vento...
Florbela, quisera eu, um dia, ser poetisa assim!


Fui à floresta porque queria viver profundamente,sugar o tutano da vida e aniquilar tudo que não fosse vida.E não,ao morrer,descobrir que não vivi. (Dead Poet Society)

 
Autor
Paula Correia
 
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