Poemas : 

CANÇÃO DE QUASE NADA

 
- este poema de certa forma dedico aos meus mortos, jayme e therezinha - meus pais.


olha,
bem eu te queria
escrever um poema
olhar bestamente a primeira estrela
e dizer que é parecida
com os teus olhos
mas teus olhos
desculpe
nada se parecem com a primeira estrela
e daí o poema seria inútil
mero exercício de palavras
afinal
o exercício de olhar nos teus olhos de brinquedo
me dariam um poema inútil

desculpe
eu menti a vida inteira fazendo poemas
remendei o mundo
&
dormi nas sarjetas como os cães de rua
mas a lua cheia não me quis
então dei de uivar sozinho
a mulher da minha vida
me matou com um beijo
: punhal assassino que tinha nos lábios
deixei que ela o fizesse
morri tantas vezes... nem sabes quantas

nas mesas dos bares
tive amigos & putas
com as putas trepei muito
e fiz a todas elas delicadas declarações
de amor
na minha cama cabia o mundo
hoje lamento meus mortos
hoje me enterro com eles

- eu não sabia que a vida era assim

_________________

júlio


Júlio Saraiva

 
Autor
Julio Saraiva
 
Texto
Data
Leituras
948
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
13 pontos
13
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
Xavier_Zarco
Publicado: 03/03/2010 15:27  Atualizado: 03/03/2010 15:27
Membro de honra
Usuário desde: 17/07/2008
Localidade:
Mensagens: 2207
 Re: CANÇÃO DE QUASE NADA
Camarada,
Quando o poema nasce para cantar a Poesia, canta o Amor, mesmo que seja o amor alugado (no fundo, o Amor não se faz, é), canta necessariamente a morte. E cantamos porque há memória, mesmo quando a memória nos acorda para o presente.
Um abraço
Xavier Zarco


Enviado por Tópico
eduardas
Publicado: 03/03/2010 16:51  Atualizado: 03/03/2010 16:51
Colaborador
Usuário desde: 19/10/2008
Localidade: Lisboa
Mensagens: 3731
 Re: CANÇÃO DE QUASE NADA p/Júlio
quem sabe o que a vida nos reserva, ou que fazemos dela. apenas nos podemos recordar do amor que foi coisa única e que mesmo morta ainda vive. Lembrar os mortos nos momentos menos vons é comum nos mortais. só eles nos entendem.

bj
Eduarda


Enviado por Tópico
Conceição Bernardino
Publicado: 03/03/2010 17:25  Atualizado: 03/03/2010 17:25
Usuário desde: 22/08/2009
Localidade: Porto
Mensagens: 3357
 Re: CANÇÃO DE QUASE NADA
desta canção quase nada faço um hino uma escola da vida, quem nunca teve frio que se agassalhe.

beijo


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 03/03/2010 17:25  Atualizado: 03/03/2010 17:25
 Re: CANÇÃO DE QUASE NADA
Júlio,

Parafraseando um velho ditado, há alturas da vida em que o amor também se serve frio.
Assim alguma boa e bela poesia.

DM


Enviado por Tópico
Alexis
Publicado: 03/03/2010 18:19  Atualizado: 03/03/2010 18:19
Colaborador
Usuário desde: 29/10/2008
Localidade: guimarães
Mensagens: 7238
 Re: CANÇÃO DE QUASE NADA para julio
a vida é.
o amor é.
a morte é.
o poema é.

utilidade?zero,na maior parte das vezes.mas há algo que cresce e não para de crescer até morrermos.depois não sabemos.

adoro ler-te.
porque gosto de ler.
alex


Enviado por Tópico
HorrorisCausa
Publicado: 03/03/2010 18:35  Atualizado: 03/03/2010 18:36
Administrador
Usuário desde: 15/02/2007
Localidade: Porto
Mensagens: 3560
 Re: CANÇÃO DE QUASE NADA
alguém sabe como a vida é? pergunta que se impõe...a saber, quererias nascer? não precisas responder, sei a resposta...não?? olha que sei.

...do poema, da dedicatória, de tudo o que te conheço, de tudo o que te adivinho...hoje, nasces com os teus mortos. será esta a "melhor forma" de se morrer na morte que não é nossa, mas que nos pertence.

...cantemos a uma só voz

beijo


Enviado por Tópico
Margarete
Publicado: 05/03/2010 22:32  Atualizado: 05/03/2010 22:32
Colaborador
Usuário desde: 10/02/2007
Localidade: braga.
Mensagens: 1199
 CANÇÃO DE QUASE NADA ao mestre júlio
quase nada é tanto
quase nada é tanto e eu trago tão pouco
nos bolsos
no coração
no rosto
só umas lágrimas
compradas numa casa de cristais.
trazia-te o mar
o sal
os dias
mas era tanto
tão pesado
e quase nada é tanto
quase nada é tanto e eu trago tão pouco
de muito para chorar.



um beijo,
mar.