BALADA DA TERRA

amigo amandu...

pois é, a situação do lavrador aqui no brasil é triste. recebem uma miséria. morrem à míngua. e os latifundiários cada dia mais ricos.

abração,

j.

fiz este poema de madrugada. estava triste e deprimido. escrevi exatamente para você, que também ama os simples. quanto ao "bispo vermelho", como chamavam pedro casaldáliga por aqui, além de humanista, é um grande poeta também. foi duramente perseguido. sofreu atentados. mas resistiu sempre. aposentado e doente, poderia retirar-se em um mosteiro e viver seus dias em paz. mas preferiu continuar junto do seu povo, numa choupana humilde. o araguaia foi o lugar escolhido, na época da ditadura, para começar revolução.a polícia política descobriu. muitos mortos, outros presos, outros desapareceram. pedro, que não gostava que o chamassem de dom ou de senhor, escondeu muitos em sua casa, teve os óculos quebrados, sem contar as ameaças, inclusive a de extradição, por ser estrangeiro, além das represálias do vaticano, que ele sempre ignorou. sobreviveu, sabe-se lá como. quando foi sagrado bispo, além do anel que recusou, dispensou a mitra, substuindo-a por um rústico chapéu de palha e o cajado episcopal por um par de remos, que lhe deram os pescadores do lugar. não quis deitar-se no tapete vermelho, mas numa esteira de vime. a cerimônia foi feita à beira do rio araguaia. quem o sagrou foi dom thomás balduíno, outro bispo vermelho.

abraço, amigo poeta.

j.

linda lu,

apesar de eu não professar nenhuma religião, tenho em dom pedro casaldáliga um exemplo de homem. sua coragem me fascina. fui a são felix entrevistá-lo uma vez. tentando ser simpático, fui beijar-lhe a mão. ele beijou a minha também. e não permitiu que eu o chamasse dom pedro ou senhor, mas de pedro apenas. um homem como poucos.
encontrei-o numa choupana, de calça jeans surrada, camiseta branca e sandálias de couro cru.
beijo,

j.