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sem número

 


. façam de conta que eu não estive cá .



imagino que andes cansado, às voltas na cidade-mar flutuante, dentro do corpo fechado o coração lendo, qualquer coisa inquietante, talvez sobre sereias. imagino que não saibas respirar e que como eu sintas os pulmões encolher-se - há dentro de nós buracos que vazam o oxigénio do corpo - tu sabes. também sei que te habitam pensamentos disfarçados, espera, e que os embalas com cânticos de amor e dor, para isso construiste um baloiço de silêncios, conheço-o bem, habita o fundo do jardim abandonado da tua infância. imagino que não saibas da vida que sonhamos, que não a vejas atrás de ti a carregar-te as pegadas para com elas te construir outros caminhos, novos - caminhos de partir. queria-te perto, do outro lado da rua, à espera, ir à janela e ver-te o corpo de homem só, cercar-te de poemas, ditar-te sonhos, como se fosse possível com isto construir outra história que nos pertença. imagino que andes perdido, que não me ouças chamar-te quando a maré sobe ou chove na cidade-mar flutuante aqui.

 
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Margarete
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Enviado por Tópico
Bruno Sousa Villar
Publicado: 19/03/2010 00:04  Atualizado: 19/03/2010 21:10
Da casa!
Usuário desde: 09/03/2007
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 Re: sem número
não sei comentar. apenas escrever de que gosto. que me é significante. que preciso disto.

A cada texto teu, mais e mais ofuscado, Mar.

Beijo

Enviado por Tópico
Caopoeta
Publicado: 19/03/2010 06:25  Atualizado: 19/03/2010 06:25
Colaborador
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 Re: sem número
já me foi imaginado o amor nos ossos no peito do homem que se entrega às dolências da rua sem candeias.
já fora morto este homem que tu bem conheces das noites esvaziadas em lume quando se atirava às luzes estilhaçadas de outras bocas .
não há homem agora nem sequer noite,sobretudo existe cansaço da espera.esta,minha e tua.na memoria resiste apenas chuva e sol, o que chora e o que queima a própria memoria.por onde vamos nós,minha amiga das palavras de dor e sangue e a quem nos pertence este jardim de versos intermináveis.
gostaria de encontrar um pretexto para dizer que não te amo.estaria a enganar o corpo e o coração do homem,estaria a deitar-me na rua nu,despido,ou estaria eu a inventar vestes num corpo e num coração que é teu.já me preocupei mais com os alicerces da vida,já me dei a outras sombras miando no vazio.meus dedos agora são chumbo,são árvore com a desculpa de morrer só.também sei que o azul das ondas do mar onde as sereias te cantam te comem os dentes e depois o leito.e que não existe outra solidão que não esta que te geme o escrever.
queria partir hoje,beber-te na insónia tal como beber-te o interior do corpo.é o que faço agora afinal,olho-te nu.
dizer-te que a cidade onde sou extensão, não te espera, é dizer-te que a minha existência é apenas um lápis que te escreve ,sem sonhos.

-continuas a escrever o melhor-

um beijo mar.

Enviado por Tópico
GE3
Publicado: 19/03/2010 20:48  Atualizado: 19/03/2010 20:48
Da casa!
Usuário desde: 22/09/2008
Localidade: Moçambique
Mensagens: 350
 Re: sem número p/ margarete
andaria perdido se chegasse até a este texto por acaso. não! não cheguei por acaso, cheguei porque sabia para o que vinha, cheguei porque procurava ler boas escritas e sabia de antemão que este seria um porto de abrigo seguro.

sobre o texto:

de uma forma sublime e metafórica consegues, entre outras coisas, mostrar o nosso mundo - que pode ser o mundo da escrita luso-poemas - de uma forma linda.
voas pelos tempos, pelos espaços, com uma fluidez fantástica que instigas que lê, a ler mais ou a escrever melhor – este texto – é mais um bom exemplo.

parabéns, mais uma vez, pela tua flamante escrita

um beijo

Enviado por Tópico
Moreno
Publicado: 19/03/2010 20:57  Atualizado: 19/03/2010 20:57
Colaborador
Usuário desde: 09/01/2009
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 Re: sem número à mar
dos teus da tua escrita respiram imagens que são ilhas.

um beijo