Da casa!
Usuário desde: 22/09/2008
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Re: a carta reveladora p/ margarete
falei com ele à pouco. pediu-me para dar-te um poema dele ou parte dele... estivemos em conversa aberta e a sua opção foi para o - "se te queres" e como quase sempre, o poema longo, ficou no tempo para deixar-te uma parte...
álvaro escreveu assim, o que podia ser para ti ou para qualquer um:
"Encara-te a frio, e encara a frio o que somos... Se queres matar-te, mata-te... Não tenhas escrúpulos morais, receios de inteligência! ... Que escrúpulos ou receios tem a mecânica da vida?
Que escrúpulos químicos tem o impulso que gera As seivas, e a circulação do sangue, e o amor?
Que memória dos outros tem o ritmo alegre da vida? Ah, pobre vaidade de carne e osso chamada homem. Não vês que não tens importância absolutamente nenhuma?
És importante para ti, porque é a ti que te sentes. És tudo para ti, porque para ti és o universo, E o próprio universo e os outros Satélites da tua subjetividade objetiva. És importante para ti porque só tu és importante para ti. E se és assim, ó mito, não serão os outros assim?
Tens, como Hamlet, o pavor do desconhecido? Mas o que é conhecido? O que é que tu conheces, Para que chames desconhecido a qualquer coisa em especial?
Tens, como Falstaff, o amor gorduroso da vida? Se assim a amas materialmente, ama-a ainda mais materialmente, Torna-te parte carnal da terra e das coisas! Dispersa-te, sistema físico-químico De células noturnamente conscientes Pela noturna consciência da inconsciência dos corpos, Pelo grande cobertor não-cobrindo-nada das aparências, Pela relva e a erva da proliferação dos seres, Pela névoa atômica das coisas, Pelas paredes turbihonantes Do vácuo dinâmico do mundo..."
álvaro de campos
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