Poemas : 

20.A Gaveta da Pedra

 


Aglutinemos nossas almas, talvez possamos dar um pouco de alegria à nossa infindável tristeza.

Respiramos
E da palavra nasce o regresso dos lunáticos
Avivam a alma
E abrem o corpo ao corpo desnudado

Uma pequena morte os acompanha

Permanecem nas gavetas
Outros escritos
Da memória distante
De um outro corpo
De um outro caminhante

É bom falar para o coração da noite

No encontro do silêncio sangue
Na passagem do suicida
E no nascimento da ossificação da flor breve

Nas ruas a imensidão das horas
No corpo a casa
Que casa agora

Um último beijo deixo às matérias sensíveis


Aos homens magma
Pois o húmus é longo e ágil na pedra da fraternidade



[que casa agora rebentam
Últimos suspiros do mar revolto]

Mas é das raízes
O som que eu reclamo
As que nascem no fundo do ventre
Como as amo

Escalam neves e pedra-lágrima



E adormecem nas areias áridas



São a erosão da terra e feitas da lucidez de quem ama

São os nossos antepassados celestiais



Vem comigo
Vem comigo agora
Derramemos o vinho encostamos-nos ao tempo.


 
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Caopoeta
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Enviado por Tópico
Dakini
Publicado: 13/04/2010 18:49  Atualizado: 13/04/2010 18:49
Da casa!
Usuário desde: 24/03/2010
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Mensagens: 338
 Re: 20.A Gaveta da Pedra
"É bom falar para o coração da noite"...Lindo


Todo o poema é digno de admiração.

Abraço

Enviado por Tópico
Conceição Bernardino
Publicado: 13/04/2010 20:31  Atualizado: 13/04/2010 20:31
Usuário desde: 22/08/2009
Localidade: Porto
Mensagens: 3357
 Re: 20.A Gaveta da Pedra
Olá rogério,

estou a gostar muito das tuas gavetas.

beijo

Enviado por Tópico
LaRoche
Publicado: 13/04/2010 22:10  Atualizado: 13/04/2010 22:10
Colaborador
Usuário desde: 26/02/2010
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Mensagens: 706
 Re: 20.A Gaveta da Pedra
neste numero 20 o (caop)oeta parece tecer um longo e meticuloso nonólogo em que fala com a própria noite. A noite real e noite que o acompanha.
que se mostrou determinante para esta minha leitura foi:
Uma pequena morte os acompanha

Como se na noite, o que dele ficasse, fosse dito, escrito, ou sentido correspondesse a uma parte de si que assim cristalizasse e não mais pudesse voltar a ser incorporada.

Também prepassa a ideia de que o tempo decorrido nesse "viver nocturno", são como que grãos de areia da ampulheta tempo irreversivelmente gastos

Enviado por Tópico
Caopoeta
Publicado: 14/04/2010 15:11  Atualizado: 14/04/2010 15:11
Colaborador
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Mensagens: 1988
 Re: 20.A Gaveta da Pedra
houve a necessidade de percorrer pelas sombras ,pelo vazio,pelo discernimento ,audácia ,pensamento...
houve a necessidade de recorrer aos cárceres,
criar martelos nos braços quebrar dentes e bocas ,mutilar o corpo,mais grave,vender o corpo..e da-lo às ruas,abraça-lo nas ruas.
houve necessidade de atirar o coração ao asfalto do tempo ,quebra-lo para depois o construir e pedir ,apenas pedir,que venham daí.


abraços.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 14/04/2010 17:43  Atualizado: 14/04/2010 17:43
 Re: 20.A Gaveta da Pedra
Olá, Rogério.

A tua colecção de pedras tem-me estilhaçado os ossos. Esta especialmente reduziu-me a pó.
Fico em fila de espera, para quando sairem da gaveta. Porque vão sair, não vão?


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 08/02/2011 15:56  Atualizado: 08/02/2011 15:56
 Re: 20.A Gaveta da Pedra
Meu querido... há ja quase 4 anos "contigo" aqui... como é fácil ler a tua gaveta de pedra e como é bom para mim conseguir compreende-la...

... apesar de só agora a ler, mea culpa! ---

um beijo em ti lindo!