Poemas : 

MEMORIAL

 
"Sei de passado e de porvir, quanto um homem pode saber.
Conheço enfim o meu destino e a minha origem.
Nada me sobra para profanar, nada para sonhar."

- Ungaretti -


nada mais espero de mim
nada mais espero de ti
a manhã que acontece lá fora
é igual a todas as outras que vivi

um poeta não se constrói apenas
com boas intenções
assim como o amor não vive
também só de boas intenções

perdão - não me interessa mais
saber que dia é hoje
da janela vejo com tristeza
as crianças que brincam na praça

hoje entendo que a minha poesia
foi um exercício de inutilidade plena
vivi meio século dividido
entre o ócio e o desespero
desci ao inferno muitas vezes
fui o morto esquecido que ninguém reclamou

abusei de mim quando não devia
demorei a descobrir que em todos os carnavais que inventei
fui eu apenas eu o grande folião
o destaque maior dançando comigo mesmo
nos bailes de mascarados

________________

júlio

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Júlio Saraiva

 
Autor
Julio Saraiva
 
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Enviado por Tópico
Xavier_Zarco
Publicado: 14/05/2010 07:59  Atualizado: 14/05/2010 07:59
Membro de honra
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 Re: MEMORIAL
Camarada,
Nesta estela onde se inscreve este Memorial, virá um dia um miúdo, daqueles bem reguilas, escrever um outro final tendo em conta o global do que até hoje de si li, e que será o seguinte:

Sorpresa
dopo tanto
d’un amore

Credevo di averlo sparpagliato
per il mondo

ao que acrescentará

porque

M'illumino d'immenso


Um abraço
Xavier Zarco


P.S.: reproduzo de memória estes versos de Ungaretti. Se tiverem alguma incorrecção é da minha inteira responsabilidade.


Enviado por Tópico
Antónia Ruivo
Publicado: 14/05/2010 08:39  Atualizado: 14/05/2010 08:39
Membro de honra
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Mensagens: 3855
 Re: MEMORIAL
Já tudo espero de ti
poeta, camarada, amigo
do tanto que de ti li
colherão assim como o trigo

beijinhos


Enviado por Tópico
RoqueSilveira
Publicado: 14/05/2010 08:52  Atualizado: 14/05/2010 08:52
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 Re: MEMORIAL
vir aqui é sempre descoberta.
bjs


Enviado por Tópico
RoqueSilveira
Publicado: 14/05/2010 09:02  Atualizado: 14/05/2010 09:02
Membro de honra
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Localidade: Braga
Mensagens: 8104
 Re: MEMORIAL
é sim, vou ler ungaretti...acho que vou gostar.


Enviado por Tópico
Alexis
Publicado: 14/05/2010 10:43  Atualizado: 14/05/2010 10:43
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Mensagens: 7238
 Re: MEMORIAL
ao sujeito poético:
encho o meu ser de toda esta "inutilidade" que me engrandece o olhar e o ser em toda a minha cada vez mais ciente pequenez.e nem tenho/tinha ,nunca tive sequer intenção de o fazer.também eu estou à janela e me sinto por vezes só e até triste.e quantos como nós...
mas nada isto tem de grave ou que importe ao mundo, porém.não demorarás a descobrir que tudo isto faz parte da tal vida,de que falam.da que tanto queres fugir por te magoar.

ao julio:tás bom?e o pé ?ainda com a idéia das mudanças?

beijo,meu amigo e poeta




Enviado por Tópico
eduardas
Publicado: 14/05/2010 17:39  Atualizado: 14/05/2010 17:39
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 Re: MEMORIAL p/Júlio
de te espero sempre o melho...e este foi sem dúvida um momento que me fez abanar, deste lado do mar.

bj


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 14/05/2010 23:13  Atualizado: 14/05/2010 23:14
 Re: MEMORIAL
Júlio,

Não é Manoel de Barros, no seu poema "Poeta, s.m. e f." que diz, a prósito do poeta:"Sujeito inviável: aberto aos desentendimentos como/um rosto"?
Ora, ao assumir:"hoje entendo que a minha poesia/foi um exercício de inutilidade plena", está assumir-se como poeta que é, plenamente, mas em muito boa companhia, como o Ungaretti que cita, e Manuel de Barros, e Drummond e Vinícius e tantos, tantos mais, felizmente.

DM


Enviado por Tópico
Nanda
Publicado: 15/05/2010 07:13  Atualizado: 15/05/2010 07:13
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Mensagens: 11076
 Re: MEMORIAL
Júlio,
Quando a vida se torna tão amargamente previsível...
Beijo
Nanda


Enviado por Tópico
Caopoeta
Publicado: 15/05/2010 07:18  Atualizado: 15/05/2010 07:18
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Mensagens: 1988
 Re: MEMORIAL
todo homem é descoberta de outro homem
de outro ser homem,
queria eu
falar com o corpo
mas este já se foi
apenas a voz almeja a virtude e faz roseira
e enlouquece a pagina azul

lavram crivas
nas pontas dos dardos afiados
e os peixes que sempre fomos
morrem afogados.
-havemos de ser mais...


um abraço ao Brasil!
a ti ; meu caro julio.