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MORTE SEM EXPLICAÇÃO

 


O dia não havia amanhecido quando o Sr. Adalberto farmacêutico da cidade começava abrir as portas de sua farmácia. Ao fazê-lo se deparou com o corpo de seu filho Francisco estendido ao chão, próximo do portão lateral que dava acesso a casa nos fundos do comércio.

Seu Adalberto apavorado corre até ao filho gritando e já prevendo o pior. Após chamar várias vezes pelo filho, constatou que o rapaz não respirava, seu corpo estava gelado e sua face de tonalidade pálida acinzentada.

Rapidamente procurou pelo corpo do rapaz algum ferimento, marca de bala, não encontrou nada, verificou que o carro do seu filho estava com a porta do motorista aberta como se ele tivesse soltado do carro para abrir o portão da garagem.

Seu Adalberto em prantos tentava lembrar-se de algum barulho, algum ruído, mas, naquela noite fria, nada ouvira de dentro da casa. Ligou para delegacia da cidade e numa mistura de euforia e choro, tentou relatar o acontecido. Do outro lado da linha estava Josué, um investigador experiente com mais de vinte e oito anos de profissão. Josué foi tentando acalmar seu Adalberto a quem conhecia pessoalmente, para que ele pudesse com nitidez, relatar realmente o que havia ocorrido.

Josué despediu-se do farmacêutico com a promessa que em poucos minutos estaria na farmácia. Não demorou nem vinte minutos e lá estava Josué, bem em frente ao rapaz estendido. Nem passava das seis horas, mas, a rua começava ficar cheia de pessoas indo para o trabalho e os olhos das pessoas se voltavam para aquela cena triste.

Josué examinou a vítima cuidadosamente, sem achar alguma lesão aparente, olhou o carro, mediu distâncias, tirou várias fotos do corpo, do local e das redondezas do acontecido. Pediu a um amigo que era perito, que fosse até o local, para tentar descobrir algumas digitais no carro e no corpo da vítima. Josué telefonou a um outro amigo médico legista, pediu que, depois da perícia, levassem o corpo do rapaz para os procedimentos de necropsia.

Explicou para o pai do rapaz que ainda estava em estado de choque que, o corpo deveria seguir para o instituto médico legal a fim de se obter um laudo médico das possíveis lesões no corpo do seu filho.

O rapaz segundo o pai, era uma pessoa tranqüila, de saúde boa e constituição robusta, pessoa muito querida na cidade, tipo daqueles que não arrumava confusão nunca. Josué procurou alguns amigos de faculdade da vítima, pois seu pai lhe dissera que Francisco cursava o terceiro ano de Engenharia, mas, nenhum dos seus amigos mais próximos, lembrou de alguma pessoa que não gostasse, ou tivesse algum tipo de desentendimento com Francisco, nos últimos meses.

Perguntando daqui e dali, ficou também sabendo que Francisco, havia recentemente, conhecido uma moça estudante de biologia na mesma Universidade e que por isso, o amigo andava um pouco afastado da turma. Um dos estudantes contou ao investigador que a moça, ele havia visto uma vez com Francisco, num barzinho próximo a faculdade, mas que, apesar de extrovertido o amigo era muito reservado quando se tratava de namoradas, pois, mesmo tendo o cumprimentado naquela noite no bar, Francisco nada comentou sobre a moça no dia seguinte na Faculdade.

Josué sem ter muito mais a procurar, vai até ao barzinho onde o rapaz foi visto com a namorada, lá, um dos garçons lembrou que o rapaz havia estado uns três dias atrás e que a moça que o acompanhava era freqüentadora do restaurante, especialmente nas noites de sexta feira, onde sempre havia no local uma banda de rock, animando a rapaziada. A moça ficara mesmo gravada em sua memória, porquanto de algumas vezes que seu pai, passou de carro para levá-la para casa e o pai da moça era nada mais, nada menos que o delegado da cidade, pessoa muito conhecida e respeitada. Josué imediatamente se dirige para a delegacia, a fim de comentar o fato com seu chefe.

O delegado ao ouvir a notícia do falecimento do rapaz e o recente namoro de sua filha, se mostrou surpreso, relatou ao amigo Josué, que sua filha, não havia comentado que estava namorando. Josué pediu então permissão ao chefe para conversar com sua filha, o delegado disse que sim, mas, vai com calma; veja como vai falar Josué, provável que ela nem saiba ainda que o namorado tenha morrido.

Chegando ao prédio onde morava a moça, falou ao interfone com a sua mãe, dona Magna, se apresentou como investigador da mesma delegacia do seu marido e que estava investigando um possível homicídio e que no caso, infelizmente a vítima era o namorado de sua filha e que já havia pedido permissão ao seu marido (O delegado), para tentar junto à moça, colher algumas informações que pudessem ajudar esclarecer a morte do rapaz.

Dona Magna, explicou pelo interfone que sua filha não estava no momento, pois estava na faculdade, mas que, ele poderia falar com ela, num outro momento, quando chegasse da faculdade. Disse também que Joana, costumava chegar por volta das dezenove horas e trinta minutos e que voltasse neste horário. Logo que desligou o interfone, dona Magna liga para o marido, a saber, detalhes. O delegado diz que ficou tão surpreso quanto ela, quanto à filha estar namorando com Francisco, filho do farmacêutico.

Ao chegar a casa, Joana, percebeu sua mãe nervosa e de um modo diferente dos outros dias. Dona Magna indagou como quem estivesse com medo da resposta. Tudo bem minha filha? Percebendo que a moça, não sabia ainda do falecimento, disse: Você conhece o filho do farmacêutico?

Joana deu um sorriso sem graça, porque ele me telefonou?
Dona Magna falou então para moça que o rapaz havia sido encontrado morto na entrada de sua casa. Joana parecia não acreditar naquilo que sua mãe lhe dizia. Mãe, como pode? Como aconteceu isso? Não se sabe ainda filha, o que sei é que um investigador que trabalha com seu pai, esteve aqui querendo conversar com você para obter informações sobre rapaz.

Meu Deus! Ontem mesmo nos falamos pelo telefone, ele estava todo feliz, me lembro bem que ainda brincou que estava malhando na academia, para perder uns quilinhos em excesso e ficar com um corpinho sarado pra mim, rimos e logo ele se despediu e voltou a malhar. Mãe como pode isso? Foi assalto? Só pode, Francisco é tão saudável e não sei de nenhum inimigo.

Joana ficou ansiosa, não sabia bem o que fazia, queria mais notícias, mas ao mesmo tempo, estava constrangida de ligar para o pai do Francisco, provavelmente seu namorado ainda não teria falado dela pra ele. O tempo foi passando e Joana não se conteve, ligou pro seu Adalberto, se apresentou como a namorada do seu filho.

A princípio, os dois choraram muito ao telefone, depois de algum tempo, Joana pergunta ao farmacêutico se ele estava precisando de alguma coisa, diz que seu pai é o delegado da cidade e que iria pedir para ele dar atenção especial para o caso e que sem dúvida tudo seria esclarecido. Seu Adalberto agradeceu a moça e se despediram.

Minutos depois o interfone toca, era o Josué, Joana atende o interfone o investigador se identifica e ela pede pra ele subir. Josué encontra a moça muito abalada, ao mesmo tempo em que ansiosa com os olhos vermelhos como quem havia chorado muito. Cumprimentam-se, a moça pede para o Josué entrar e acompanhá-la até a sala a fim de conversarem sobre o namoro dela com a vítima.

Joana conta ao investigador que havia três meses que havia conhecido Francisco. Ele costumava frequentar algumas festas, que ocorriam sempre no último final de semana de cada mês, em sua faculdade. Era uma espécie de reunião com finalidade de aproximar e divertir os alunos daquela Universidade e numa dessas reuniões, de repente estavam um olhando no olho do outro meio uma música romântica, dali um beijo e se deu então o início do namoro deles.

O investigador, pergunta pra moça, se Francisco nesse tempo, havia comentado algo que ela pudesse correlacionar com o fato. Joana se cala por um momento e diz que, seu namorado não conversava muito sobre os amigos ou coisas como desavenças que pudessem ter ocorrido, mas que, como estava sempre sorrindo, alegre, bem humorado, praticamente impossível ter tido algum tipo desses problemas.

Já se havia passado duas semanas, quando extra oficialmente Josué, procurou seu amigo médico legista. Sem nenhuma pista, vai direto ao assunto, por favor, você encontrou no corpo do rapaz, algum indício, alguma lesão, este caso está muito estranho.

O médico relata que ao exame macroscópico, o rapaz não apresentava nenhuma lesão externa a não ser, algumas escoriações próximo ao antebraço direito, provavelmente ocorridas por conta da queda ao chão, fora observado também, alguns calos nas mãos do rapaz, mas, ao verificar a musculatura desenvolvida do mesmo, entendeu se tratar, de lesões causadas em exercícios de musculação.

Os órgãos estavam preservados, com exceções dos pulmões e coração. Os brônquios estavam dilatados, com secreção abundante e o coração com lesões de necrose da musculatura, mostrando que ocorrera um infarto do miocárdio. Mas que, tecidos de todos os órgãos foram processados e conduzidos a histopatologia, os conteúdos estomacais, intestinais assim como o sangue, seguiram para exames de bromatologia, com a finalidade de apurar-se possível ingestão de alguma substância tóxica.

O médico legista, afirmou que, assim que tivesse algo conclusivo, ele seria o primeiro a saber, até mesmo antes do laudo oficial. Josué agradeceu ao amigo e despediram-se.

No dia seguinte, Josué telefona para Joana, para obter dela se possível o nome da academia que Josué freqüentava, Joana sabia sim o endereço, pois, o rapaz havia certa vez a convidado para assistir uma sessão de malhação. Assim, segue o investigador no outro dia à tarde até a academia. Por lá, todos falavam de Francisco com certa perplexidade, o investigador, procurou conversar com aqueles que costumavam a malhar habitualmente nos mesmos dias e horários de Francisco.

Perguntou então aos colegas de malhação se alguém sabia de Francisco usar algum tipo de droga ilícita. Todos foram unânimes em afirmar que jamais viram ou souberam de tal coisa. Um dos rapazes informou que no grupo existia um amigo, que era mais entrosado com Francisco, muitas vezes, chegavam e saiam juntos da academia e que, esse amigo havia pedido desligamento da academia uma semana atrás, por motivos de grana.

Josué vai à secretaria da academia, identifica-se como policial e pede endereço do amigo de Francisco, a atendente fornece para o policial o endereço e telefone do rapaz.

Josué telefona imediatamente para o amigo de Francisco e diz que precisava conversar com ele, sobre o amigo Francisco. Mauricio, também estudante da mesma Universidade, aluno do último ano da Faculdade de Medicina Veterinária se prontificou imediatamente a prestar as informações e lhe disse que, por saber que o amigo era estudante de veterinária, Francisco havia conversado uns quatro dias antes de sua morte, com ele querendo saber a respeito de um medicamento usado no combate de processos de congestão nasal e problemas respiratórios em cavalos. Disse-me Francisco, que havia ouvido falar que este medicamento estava sendo usado com finalidade de emagrecimento rápido por pessoas acima do peso e por se sentir com alguma gordura localizada no abdome, queria saber sobre o produto.

Eu, disse Maurício ao investigador, não conhecia o produto que Francisco lhe mostrara, mas, lembro-me de ter avisado dos perigos dessas drogas no organismo ainda mais que, era uma substancia usada para animais. Nas mãos de Francisco senhor, existia um frasco de (Pulmonil Gel 500), que me disse havia conseguido através da internet. Maurício advertiu novamente ao amigo sobre os perigos.

Mais duas semanas haviam se passado, Josué recebe um telefonema do amigo legista. Josué, o moço lá que você está investigando o filho do farmacêutico, morreu por ingestão demasiada de uma substância chamada (Clenbuterol), achados em grandes quantidades, tanto no sangue como nos conteúdos gástrico e intestinal do rapaz. Está substância tem propriedades adrenérgicas e, quando ingerida em doses grandes podem provocar, taquicardias, acompanhada de infarto do miocárdio.





Clenbuterol – Substância simpaticomimética, que atua principalmente em receptores beta adrenérgicos, com ação semelhante a da (adrenalina), sua prescrição tem indicação em casos de transtornos respiratórios em animais como: bronquites crônicas, congestionamentos intermitentes de seios nasais, pois funciona como bronco-dilatador e vaso-dilatador. Sabe-se, entretanto, que a droga provoca efeitos anabólicos e ou anti-catabólicos em animais, com doses letais aos humanos. Os principais sintomas dos efeitos da droga no organismo humano são: Dores de cabeça, nervosismo, pressão alta, taquicardia, podendo chegar-se de fato ao infarto do miocárdio.

O efeito é tão significativo que por muitos produtores Americanos usarem o (Clenbuterol) no gado, foi o suficiente para provocar o boicote à carne bovina Estadunidense, pela União Européia.

Embora este conto seja uma história, jovens estão usando esta droga em muitos países, inclusive aqui no Brasil com finalidade de obter "emagrecimento rápido", não conhecem, entretanto, os efeitos da substância no organismo humano e estão morrendo por motivos fúteis.





 
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PCoelho
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