CARTA-POEMA AO POETA XAVIER ZARCO

Olá Poeta, gostei de ler esta carta logo pela manhã, seria apenas mais uma carta,mas não o é, existe apenas uma pequena diferença, é que quem a escreveu respeita a palavra escrita muito mais do que se respeita a si próprio, beijinhos e cuide dessa saúde faça isso pela escrita.

Camarada Júlio Saraiva,
Acuso a recepção da sua missiva, a qual me encontrou à janela vendo a bela Lianor a passar de cântaro à cabeça, ou não fosse o pátio defronte, o Pátio da Fonte, onde um dia eu nasci.
Há, nesta linda terra de Santa Clara, a terra das três rainhas: Joana, Isabel e Inês; um rumor de Rosalía de Castro, "I o romor dos seus passos, mentres se iñan, / De tal modo hastra mim veu resoar, / Que non máis tristemente / Resoará quisais / No fondo dos sepulcros / O último adiós que un vivo ós mortos dá".
E esse seu rumor, Camarada, um destes dias levar-me-á também pela ponta ardente deste cigarro que acorda esta neblina - dizem que azul; mas que é de fio por onde se tecem as nossas mortalhas.
Acompanho-o pois por esta razão de escrever, porque escrever é possuir o poder efémero das palavras dos outros, de todos quantos antes de nós o fizeram.
Um abraço, Camarada, com a certeza de ser fortuna essa jóia de Rosalía que na volta do correio irei receber.
Xavier Zarco

Deixo a minha ternura ao Poeta Júlio Saraiva,
a minha admiração incondicional.
E menino Júlio, deixa de ser casmurro e trata bem dessa saúde.
O que seríamos sem ti?
Beijo, rezingão que eu tanto admiro!
Vóny Ferreira