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Leituras 15 - Caopoeta (Rogério de Fradelos)

 
Pois é, uma marca marca a diferença. Nos dias que correm uma marca, por vezes, e muitas vezes, vale mais do que a empresa ou instituição que identifica. É a força do marketing. Um exemplo, nesta introdução sobre este autor, Xavier Zarco hoje é mais do que a própria obra. O seu valor supera o valor da obra, tal como, por exemplo Google vale muito mais que a empresa em si. Se as empresas ao nível estratégico devem ser definidas de forma a cumprirem as três valências: financeiras, sociais e ambientais; as marcas devem comunicar eficazmente para que tal seja cumprido.

Voltando ao assunto, Caopoeta, melhor: Cão Poeta; é algo que chama a atenção e chamou-me. Depois, soube prender-me pela arrogância de escrever, simplesmente dizer, ter a veleidade de dizer, que não queria saber dessas coisas das regras ortográficas: digitado estava e como digitado ía.

E eu continuei a lê-lo.

É um dos autores que tenho acompanhado, sobretudo porque possui uma imaginação e um poder de observação bastante bem cuidados, isto é: os seus trabalhos conseguem transmitir segurança ao leitor, ao nível do que o circunda, mas vendo-os sempre por dentro, isto é: o autor incorpora em si as múltiplas leituras que faz para, posteriormente, as levar até ao outro.

O melhor exemplo que posso encontrar é o do nosso sistema digestivo: entre o que colocamos na boca, o que aproveitamos e o que excretamos, há diversos estágios e o Rogério de Fradelos sabe-o bem, domina-o, dando-nos somente o que este aproveita.

Como exemplo, deixo-vos o convite para a leitura de: memórias de um amnésico, que, embora de dois mil e nove, é sintomático de uma organização interior, que, só após a depuração, pode ser pública, ou, mais recentemente, A Gaveta de Pedra; trabalhos onde o autor promove uma auto-exegese, não no sentido comummente atribuído a esta palavra, exegese, mas algo mais vasto, não circunscrita aos textos bíblicos.


Xavier Zarco

 
Autor
Xavier_Zarco
 
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Leituras
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Enviado por Tópico
Alexis
Publicado: 17/06/2010 16:39  Atualizado: 17/06/2010 16:39
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 Re: Leituras 15 - Caopoeta (Rogério de Fradelos)
puxa,xavier...marketings à parte,que lá disso de negócios percebes tu...

o que me revela a escrita do cao.sensibilidade,inteligência,originalidade,trabalho,memória,experiência acumulada como ser vivente,como leitor e escritor,talento,vontade,garra.a escrita de alguém que se nota lucrar imenso com a interacção do que lhe interessa.que incorpora e transforma a seu modo.alguém que tenho observado crescer a olhos vistos,com muito prazer.

abraço


Enviado por Tópico
Margarete
Publicado: 17/06/2010 19:44  Atualizado: 17/06/2010 19:44
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 Leituras 15 - Caopoeta ao xavier zarco.
rogério cão. não precisa de marcas. chamando-se só rogério bastaria. o seu nome nada dá ou tira à sua magnífica escrita. entraria no site lusopoemas a doze de julho de dois mil e sete, tendo publicado dois dias depois "de onde vem esse teu medo", poema forte, cativante já na expressividade. pergunta-me: "porque não choras um pouco?" e eu choro o resto, tudo. eufemismos à parte é este um dos melhores autores desta casa e fora dela. escrita à parte é uma das pessoas que mais gosto me deu conhecer. pouco mais tenho a acrescentar ao que vou dizendo nos seus poemas. uma merecida distinção e análise. tomei o à-vontade de escrever um "pequeno" texto, tendo como base o título e expressões de todos os seus poemas publicados aqui no site.





pergunto-me "de onde vem esse teu medo", arrancaste ao coração a "consciência",mas nos "meus ouvidos" "ainda" te ouço falar a língua dos fortes. "disseram-me que tu hoje não sairias à rua". vou sem ti, atirar-me ao céu e "também aqui te encontro". "NÃO TE DEIXO CAIR!" grito-te. e então o "beijo", os "teus lábios de sol" "e é nesta azáfama" de encontrar-te que o coração se deixa morrer "eternamente teu". se partir hoje "deixo o rasto dos sapatos", talvez me sigas um dia. "estas ruas não sabem o meu nome", como encontrar-me seria difícil quando "o meu corpo abandonado" se esconde. E "vós!", "alcateia de lobos, matilha de cães", nunca ireis dizer-lhe onde estou, quando escondido nas "barbas de Monet" vos meter num quadro "de pinceladas vermelhas e verdes ao fundo". E é esta a "desilusão" de vos ter perto, pessoas. A ti, fiel, todo o amor, "meu coração duro cobarde por não te dizer", "elevo-te entre os dedos" e o "medo" e o "silêncio" são "esta dor que não passa". "Aos meus olhos" "o intragável apenas". "Apenas eu". Tenho um "caos em turbilhão", a "minha casa" fica onde "o sol no corpo" queima. Já "pari da janela" uma tentativa de "ascenção à lua" que a "língua dos pássaros" não compreende. e " à entrada do abismo", na "fé", os pássaros "mastigam elásticos". onde o "deus-fogo" fez "a parede" cresceu "o personagem imaginário" com uma "autenticidade contemporânea". apareceu "por detrás do cenário", com "a cor das palavras" tristes, onde o "deserto das ideias" se impregna e mata. onde "o idiota" cria as palavras, "sobre os amigos", sobre "o teu nome", sobre "veias podres", à "luz do pensamento" surge então " a crítica" "que arde" na "existência" como a "água da fonte" para "os poetas malditos". apeteceu-me então o "suícidio", "aceitar-te" na "simplicidade" das "coisas de ainda", "coisas de um outro saber", onde o "pássaro das tuas formas" procura "voar mais alto". apetece-me dizer-te "volta, volta! melhor será dizer para não ires". e na "imolação" desta vontade digo apenas "não te percas". é esta dor que "hajartad hamast" sabe de cor, esta dor, e "orfeu canta tragédia" e "tão pesada é a sensibilidade". gostava de te falar na "mafalda" ou na "ana", minhas vontades que regressam no "negro" "aconchegado" dos "poetas", mas "o amanhã" pertence-te. não saberia que "monólogo" utilizar para dizê-las. talvez numa "conversa de bar", conseguisse dizer-te "as memórias de um amnésico" que tenho em mim, talvez porque às vezes me dá um "cepticismo das coisas pequenas" tas não diga e fique em silêncio. descobrirás a "ana" e a "mafalda" nas minhas "cartas a uma desconhecida", não quero "comentários" do que lá escrevi, fi-lo porque "O Amor é Cego". ainda hoje penso que "tu eras como as pedras" " e eu seria o musgo que te protegia das intempéries da vida". penso isto quando estou só e são tantos os dias de estar só, quando "o agitado corpo" tira "da terra a lua gélida" e tudo escurece. mas "nada sei nem quero" dessa "máscara de um olá ausente" que perturbou a nossa "cidade de água" como "uma nuvem branca no céu da maçã verde", qual "flauta de fauno". "o que inventei de ti", "estenia e amor", é como o "regresso a este sonho" onde estivemos, quando "OPorto" nos teve. "permanecer" dentro dele é pulir uma "pedra de sentimentos", uma "apoteose da morte" no coração da "cidade de água". há dias em que não sei "como chegar a esta pedra", e os "nossos dedos" não se tocam uma única vez, no entanto sei que são teus os meus poemas e que estás em algum lugar, a "enaltecer o pensamento e absorver o dilúculo". O "meu poema! porque o mataste?" que era teu como o "teu casaco castanho", ou o segredo dito à "orelha esquerda de vincent", ou " a ânsia dos ideias". e "que casa agora". tudo o que lembro "do hoje" é teu, tudo o que lembro " da palavra e do abismo" é teu. edificarei "quatro elementos" "sobre o silêncio" ou "sobre sensibilidade e tempo". nunca soube "como enganar o sono", preocupam-me os "ruídos" deste "amor helicoidal". apetece-me dizer "cinco afirmações inúteis" para o sossego. como por exemplo: "não me fazes falta(pela estrada nua)". o meu corpo voa leve quando as penso. e nem a "insónia" "mantém o brilho" "de todas as coisas raras" que te ofereci. "coisas da memória sensível": "a fuga", "au revoir", o rapto", " a discussão". e neste momento "avançou mais uma perna" para dentro desta "impressão claustrofóbica": o "abraço". "dizem" por "te escrever bela" que as " coisas do coração" são um "engate". mas "em dias como este", surge o "poema-carne", profetizado na "sodomização da terra morta". a certeza que "deus morou na rua que tu mandaste cinzar" e "uma parte de mim morre". " porque não choras um pouco" se sabes que "tens um cão dentro", "tens um cão dentro de ti", "um cão que canta, voa e chora". "porque não choras um pouco" a "corrente da água vã do suspiro" de uma vez só. ainda que "noutra voz que não esta". porque aqui ainda existe "um homem", "um aperto de mãos", "uma cidade que flutua em ti". mas diz-me "numa outra voz", como quem dá "um beijo no céu", "na horda dos carrascos", como "montar o cavalo de tróia" ou "onde anda o cavalo de tróia". "no azul dos rabiscos", no "tecido" da "pedra que dos amantes sente", a certeza que "todo o desejo deve ser no mínimo sensato". por isso ainda quero e "a pólvora que restou" ainda aqui anda "em contemplatividade". "antes da noite" deixa-me só beijar-te "com os cães negros enormes que tenho dentro", onde "não há nome nem há boca" e "uma criança no encobre do robe" foge como "o bicho homem poético" "no espaço sobrevivente no interior das veias". mas "não há homem agora nem sequer noite" e tu voltas "como quem tem facas escondidas dentro da pele" quando "a boca no nu da satisfação" beija " a porcaria do mundo nesta passagem secular". e "tal como as cidades" "em plena faculdade mental" escrevo "a gaveta da pedra" para que me ouças. mas "o amor é uma taça de vinho quente" e estou "só", tenho por isso que "aguentar o arado". "o sol é um cavalo dançante na visao do rato" e agora quero "pedir o cigarro ao lume" e deixar andar "o tambor da máquina de lavar" com este "pássaro negro ferido da asa" dentro. é este o "momento" do "amargo de outras roupas vestidas no corpo" voar. pretendo segui-lo até à "última estrela da cassiopeia" porque "o coração é casa de todas as memórias" e eu tenho "uma casa no bolso", é preciso deixá-la voar. " não saberei a minha idade" e então "saio na barca para a aurora". "pela manhã hortelã dos olhos" e a certeza que "com beijos vai este homem chorando o teu amor".




Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 17/06/2010 23:11  Atualizado: 17/06/2010 23:11
 Re: Leituras 15 - Caopoeta (Rogério de Fradelos)
boa noite xavier, não irei acrescentar nada ao que já foi dito, a não ser que o Rogério "é um diamante em bruto, necessitando somente de limar umas arestas", mais palavra menos palavra, que não foram minhas, aliás.

De resto deixo aqui um modesto texto que lhe dediquei


quando mordo não ladro

Rogério respirava o dia, vivia a noite.
Dizia ele que a noite era.
Era vê-lo todo lampeiro, ainda o sol dava os primeiros sintomas de cansaço, descer a rua rumo ao largo dos poetas. Trazia a tiracolo uma sacola carregada de histórias. Algumas ainda por inventar, outras ainda não contadas, que o cão que sempre o acompanhava era meticuloso e escolhia a dedo os seus ouvintes. Trazia-o preso pela palavra. Rogério não punha trela nos animais, muito menos nas palavras. Dava-lhes liberdade.
Não dava um i, não dava um ai, um ão que fosse aquele cão, mas fazia auuu.
Rogério tinha umas asas do tamanho do mundo, mas não era anjo. Chamavam-lhe, a cada verso, diabo e ele respondia que o demo, à beira dele, era um aprendiz. No entanto, não conhecia a maldade, mas soletrava a palavra.
Sempre que esticava as asas, as palavras saíam em catadupas, todas em sequência lógica e encaixadas no sentir. Imparável, Rogério voava. Voava tão alto que se perdia de vista e só quando um auuu se ouvia, é que Rogério caía, no meio dos aplausos. Não obstante, Rogério caía sempre em pé, verticalmente direito. Os seus pés eram enormes, do tamanho das asas, e assentavam bem no chão.
E sempre que algum banco de jardim, ouvinte por natureza, lhe queria atraiçoar a queda, tinha sempre um cão a roer-lhe os tornozelos. Incrédulo, o banco questionava. O cão respondia: - quando mordo, não ladro!

Abraço

au au

Enviado por Tópico
Nanda
Publicado: 19/06/2010 07:55  Atualizado: 19/06/2010 07:55
Membro de honra
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Localidade: Setúbal
Mensagens: 11076
 Re: Leituras 15 - Caopoeta (Rogério de Fradelos)
Xavier,
O Rogério é um autor do seu tempo, um jovem promissor, com uma escrita muito própria, coerente e vincada.
Beijos aos dois
Nanda

Enviado por Tópico
Caopoeta
Publicado: 20/06/2010 02:31  Atualizado: 20/06/2010 02:33
Colaborador
Usuário desde: 12/07/2007
Localidade:
Mensagens: 1988
 Re: Leituras 15 - ao camarada Xavier Zarco
camarada:
é bem verdade que o nome apropriado pela minha pessoa tem a desenvoltura de outros continentes,
black dog na Austrália significa :um caso de depressão crónica.

-também, é bem verdade que esta coisa de acordos ortográficos não me fazem grande sentido,não mudam a minha conduta social, a minha conduta e magnitude interior.não me torna mais ávido,mais inteligente ou mais ágil.
claro que a tendência para isto é suportada com o rigor que eu próprio exijo.
poderão os queixosos ou os aristocratas lamentarem-se da minha imperfeição.
nada contra,nem nada a favor.
também é bem verdade que uma grande parte do que escrevo encontra-se por aqui.nomeadamente neste site! honras e saudações aos mentores do mesmo.saudações ao trabis!

-já fazia algum tempo que andava-te a seguir ,Xavier,e se bem te lembras ,tive a ousadia de comentar um texto teu ou um texto do valdevinoxis,
em que andavam numa tertúlia interessante.

falei-te da sian hornick,a prostituta que Van Gogh conheceu.
creio que foi o inicio de uma boa amizade,esta que temos, e que saúdo.

-escrevo unicamente para me sentir mais próximo de mim,escrevo com esta necessidade.
a sabedoria que levo da escrita é esta.

terás razão quando falas das memorias de um amnésico ( já agora, descobri este titulo com uma ediçao de um livro sobre erik satie) tenho que pegar novamente no que escrevi e ser mais rigoroso.tem partes boas,reconheço, e tem partes que de longe de mim me encontrava,e não esse o meu intuito.

a gaveta da pedra já foi mais cuidadoso,mesmo assim,não está realizado como eu queria.
a ver vamos, também não quero assumir neste momento o que poderia ser chamado de escritor,
tenho que ler muitos mais livros,descobrir a minha essência dentro destes,pesar-me pelas palavras e só depois me desprender das mesmas,para que sejam vossas também.

-sabes Xavier que nutro imenso da nossa amizade e que te tenho o respeito devido.
foi com prazer que li o que aqui escreveste sobre este ser.

agradeço também aos comentários postados.

a Margarete por ser umas das pessoas,tal como ela,que me habituou a regressar a esta casa.


Cordial abraço.