Sepulto-me junto aos ciprestes,
a última morada dos pesadelos vislumbra-se agora,
luzes fuscas de fogo fátuo bruxuleiam,
encantam-me as narinas os odores inacabados.
Enforquei a minha dor lá nas prisões do tempo.
Amanhã demorarás a chegar,
as falésias continuam abruptas,
os espinhos nos roseirais nascem de vez em quando,
sempre que a mórbida puta canseira da vida me vem beijar e dilacerar as unhas cansadas de te tocar.
Semeio uma tempestade numa asa de andorinha,
tenho condores alados de braço dado comigo,
jazem em mim abutres e milhafres,
são a minha companhia nos dias menos verdes.
A lua, essa, ficou-se pela noite,
agora, que nasceu mais um dia negro,
já não mais a tenho por companheira.
Alertam-se as nuvens carregadas de chuva mansa,
carregam-se as marés de chuviscos e ventos.
Amanso a minha face, queimam-se-me as palavras,
serpenteie o teu corpo nu, devotado ao abandono,
unji-te com óleos finos, sagrados pela passagem do tempo, que te cobre a pele cor de cobre.
Agora,
que o pântano se encobre de neblina,
que o frio se deposita nos pinhais,
que as flores silvestres não mais nascem.
Agora,
que o tempo se vem desvanecendo,
se esvaí, como o sangue quebrado nos espelhos.
Agora,
dou descanso ao sepultado corpo,
que ficou torpe, flácido, frio e lívido,
de tanto prazer insatisfeito.