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lugares de r.

 


. façam de conta que eu não estive cá .






estava sempre só. às vezes por companhia uma rua mais agitada. quase sempre junto a um candeeiro de esquina, onde as pombas encontravam pousio entre os seus voos. imagino-o assim: seis da tarde, a rua semi-vazia, no fio electrico que cruza a rua um monte de pombas, ele de olhar baixo e corpo inclinado para a frente, pousado no candeeiro, com a mão no peito e as palavras a saltar-lhe dos dedos. há algum tempo que não o vejo, há qualquer coisa no tempo que me perturba, sei de lugares que passam tão rápido, de pessoas que o tempo afasta e esconde em lugares por onde não mais passarei. creio que r. é um deles. ainda que todas as noites me visite a insónia da sua presença, agarrado à boca, unhas cravadas no lábio. acredito que r. é este estado de estar entre, o mundo morto ao colo do corpo, como fechar o peito à bala, como dar o coração.



 
Autor
Margarete
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Enviado por Tópico
sampaiorego
Publicado: 20/06/2010 17:14  Atualizado: 20/06/2010 17:14
Membro de honra
Usuário desde: 31/03/2010
Localidade: algures virado para o mar com gaivotas
Mensagens: 1147
 Re: lugares de r.
sabes. eu também tenho uma rua dentro de mim deserta. tem apenas uma casa de um lado. o lado bom. o lado de quem quero recordar – sento-me na ponta da rua. que é só minha. abro um livro. pequeno. tem todas as memórias que um dia me fizeram feliz e dou vida à rua – coloco-lhe candeeiros. carros. bazares. mulheres que eram apenas donas de casa e homens donos das chaves que davam corda ao mundo – o sol a pique assinala o ponto alto da minha criação. aparece o meu d. sebastião vestido de amigo. senta-se a meu lado e voltamos a ser amigos como antigamente – amigos porque éramos amigos. gostávamos um do outro. ele tinha umas sapatilhas de sola branca e eu um relógio de pulso que tinha um pilha a comandar a engrenagem do tempo - AMIGOS


beijo mar

sampaio(r)ego