Poemas : 

MELANCOLIA TALVEZ

 
minha mãe nunca ouviu falar em voltaire
nunca leu proust e nem sartre
jamais se chocou com o retrato de dorian gray
porque ignorava oscar wilde
da minha poesia ela também não gostava:
- Te criamos com todos os mimos e você está sempre revoltado, e ainda deu de escrever palavrões. Quem vai ler isso?

de minha mãe o que sei é que - além de me por no mundo por uma trepada talvez mal dada -
foi a mulher mais bonita do bairro
arrancada do cinema onde fez dois filmes
pelo machismo do meu pai
"Toda atriz é puta" - ele dizia bebendo as pernas de Odette Lara

quando nasci prematuro
ela me colocou o nome dos dois avós
o júlio eu tolerei e carrego até hoje
o carlos eu aboli - não tinha efeito poético
minha mãe nunca me perdoou por isso
mas meu avô carlos como bom português
por certo fez que entendeu

_____________

júlio



Júlio Saraiva

 
Autor
Julio Saraiva
 
Texto
Data
Leituras
764
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
4 pontos
4
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
luciusantonius
Publicado: 24/06/2010 21:24  Atualizado: 24/06/2010 21:24
Colaborador
Usuário desde: 01/09/2008
Localidade:
Mensagens: 669
 Re: MELANCOLIA TALVEZ
Caro Júlio Saraiva
Suponho que nunca o comentei e vá lá eu saber porquê, até por que o reconheço um homem de letras que navega num mar acima do meu (talvez por isso…) isto apesar de ser leitor assíduo das suas mensagens. Mas algum dia teria de ser até por que para além da sua qualidade de escritor, sensibiliza-me a frequência e forma humilde com que se refere a sua mãe, saúdo-o por isso. O facto de um meu bisavô ser Brasileiro( de Vassouras) é, penso, factor de indelével laço com o Brasil.

Um abraço do meu apreço
Antonius


Enviado por Tópico
Runa
Publicado: 24/06/2010 22:26  Atualizado: 24/06/2010 22:26
Colaborador
Usuário desde: 24/04/2010
Localidade: Santo Antonio Cavaleiros
Mensagens: 1174
 Re: MELANCOLIA TALVEZ
Gosto de ler estes flashs, desencantados e ao mesmo tempo ternos, com que nos brinda amiúde. Gosto deste tipo de poesia.

Abraço