Contos : 

Socialmente manipulável

 
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Ela olhava com fervor e impaciência para ele, as pernas de fora, os pés descalços e a camisa entre-aberta escondendo os detalhes mais intimos de sua sensualidade. Tinha dezesseis anos, completos, uma menina ainda, mas em seu semblante despontavam os traços de uma sensualidade jovial, satânica e pura. Por hoje chega. Você estava perfeita hoje. Deixe-me ver! Só quando estiver terminado. Ele vira o quadro para a parede e a puxa pelas mãos. Vá se vestir, está ficando tarde. Leonardo, o que há entre nós? Como? Somos amigos? Não, eu não nutro amizades, elas me cansam rápido. Você começou a vir aqui porque quis, nunca obriguei-a a nada. Sempre deixei muito claro minha posição sobre nós. E qual é ela? Você é uma criança, eu sou um velho. Tu até que é bem charmosão. Um sorriso pinta o rosto dela. Você é uma criança e não deveria mais voltar aqui. Hipócrita, eu vejo a forma que me olhas enquanto me pinta. Ela calça as meias, coloca o jeans, calça os tênis. Como isso pode me excitar? Ela é uma criança, ainda. O olhar que lanço sobre você é simples interesse profissional, não gostaria que entendesse errado. Por que tu não expõe os quadros? Eu vi os quadros do quarto do fundo quando fui no banheiro. Você não sabe ouvir um não? Na voz um ódio falso para esconder a paixão. Tu poderia ganhar algum dinheiro, prestígio, as pessoas gostariam de ver uns bons quadros. Eu tenho dinheiro suficiente, além do mais o que eu faria com prestígio? Quem se importa com as pessoas? Você realmente é feliz? Essa é uma pergunta que na minha idade não se faz mais, a felicidade não é um estado, mas o entender de momentos. Ela se aproxima dele, fica na ponta dos pés, passa o braço esquerdo por trás do pescoço dele e com a mão direita acaricia os lábios dele. E por que você não se permite a um momento feliz hoje? Ele sorri e coloca a mão esquerda sobre a mão direita dela. Eu já me permiti, fiz um belo quadro hoje, agora por que você não me permiti dormir um pouco e vai embora? Ele remove as mãos dela de cima dele e sorri canalhamente. Ela junta a mochila e vai embora irritada. Ele fica ali pensando. Ético, hipócrita e infeliz, eis minha sina.
 
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pmatiass
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