Putrefação...

Olá Dolores,

Obrigado pela visita e pelo incentivo, mas de facto já cá não estou, vim apenas espreitar e deixar um mimo.

Tenho pena... O ambiente aqui não é saudável; chega a ser nauseabundo! E eu já tenho idade para ver para além da minha própria sombra.
Depois, há pessoas que, apesar de se arvorarem em autores APENAS literários, acabam por ser, em boa verdade, autênticos malfeitores culturais, salteadores sem regra nem lei. Melhor dito, que querem impor uma só lei: a sua! Já passamos o Cabo das Tormentas há muito tempo e a democracia, que nos libertou para o uso total dos nossos direitos, ainda não estabeleceu qualquer tipo de "comissários" para a criação, seja ela cultural, literária, ou outra! Que uns têm mais qualidade que outros é inegável; que todos têm direito a escrever e publicar é igualmente inegável; quem nem todos temos que comer tudo o que nos põem à frente, porque não gostamos ou até repugnamos, é outra verdade tão absoluta, como comezinha! Mas por favor, não sejam malcriados ou impertinentes com ninguém! Criticar é acima de tudo querer bem, pugnar pelo crescimento do outro e não deitar abaixo, matar, escravizar ou banir! Isso é terrorismo e não concedo a ninguém, mesmo que letrado e erudito, o direito de me impor um formato, seja ele quadrado, rectangular, redondo ou abstruso! Respeito é lindo e eu gosto!
Por isso já estou fora e só volto de vez em quando, para ver o que se passa. A menos que me bloqueiem o acesso!

Reitero o agradecimento pela visita.
Deixo um até sempre, uma vez que ando por aí noutras paginas.
Saúde, sorte, amor e alguma paciência, já que fica!
Abraço.
PC

“E eu já tenho idade para ver para além da minha própria sombra.”

Esta é daquelas frases que me prendem. imobilizam-me nas alturas por onde eu possa me perder, me entreter a ver com os olhos de cima o que a terra há-de comer.
Na sombra encontrarei o meu “espécimen”, aquele que me encolheu na sua própria sombra. Tão distorcido ficou, que virou cadáver ainda antes de ser sombra. Mas entendo quando diz que já tem idade para ver mais adiante, eu é que ainda me falta crescer mais um pouco. Ando a alimentar-me mais de palavras, e actos e contrições para ver se cresço e me encontro então para além dela. “A menos que me bloqueiem o acesso”, também eu me perco em becos sombrios, onde as palavras ganham raízes e delas só poderei mesmo, retirar a seiva que percorre todos os veios rugosos que a envolvem.

“Criticar é acima de tudo querer bem, pugnar pelo crescimento do outro e não deitar abaixo, matar, escravizar ou banir! “

Nem sempre uma apreciação prima pelo bom tom em matéria de gostos, preferências, pelo que, os temas são muitas vezes satirizados de uma forma inteligente e diria até, (para além das suas próprias sombras), mas outros há que deixam muito a desejar, e esses poderão (ou não) satisfazer as mentes mais sedentas de sangue. Nem sempre existem predisposições para ver, ouvir, e sentir o que não estamos “para ai virados”. Certo é que eu escrevo algumas “merdas”, e que poderão até pensar que há algum alvo definido e objectivado e no entanto, muitas são as vezes que escrevo para mim, e para outro eu que tenha pachorra para me aturar. Sabe, é que faço um esforço danado para me aturar. Mas pensando bem, num espaço aberto a quem quiser entrar, deveria haver pelo menos um mínimo de respeito pelo que qualquer um, tenha para partilhar.

Depois, há também aquele ditado, “ganha fama e deita-te a dormir”. O pior é quando o sono é tão profundo, que quando se acorda, já nem o caminho existe e nem a nossa sombra por lá ficou.

Gostei da sua resposta, e como diz outro ditado. “se não podes com eles, junta-te a eles”, e ao que me parece, não quer ganhar guerras que já estão perdidas à partida, ou então como diz outro ditado; “Em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”. Pelo que também me parece, não quer ter razão numa casa onde não há vontade, e nem de partilhar o pão.

Um abraço

Dolores Marques