Poemas -> Surrealistas : 

Coaxam-me rãs na boca ávida

 
Coaxam-me rãs na boca ávida
quando a tarde se enterra em lodos
e os sapos verdes sobem os musgos dos barros.

Sinto ao longe, na encosta íngreme dos medos,
silêncios de silvas e cardos.

Do mar o sal e o leite branco das cabras,
na feição feérica,
no requeijão,
no negro pão em vime repousado.

O cheiro acre e forte, de um dia em quase morte,
do coalho em que, perpétuas se eclodem
fúrias de marés bravas.

...atmosferas ácidas. Mariposas revoltas
na cólera de um mar, num plantio de rosas.
Em espera, jaz inútil
a toalha posta e as frescuras verdes de pomar.

No postigo, vislumbro cheiros mestiços
de um roçagar imberbe. No restolho dos trigos,
besouros sem bicos...
No sapal, ali ao lado,
tertúlias recalcadas nas coxas altas de garças.

Sem bordão e sem cajado,
descalça, viajo a dor numa gota híbrida
de sangue e suor, no rumo de nenhum lado.



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Autor
Mel de Carvalho
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 15/08/2007 15:49  Atualizado: 15/08/2007 15:49
 Re: Coaxam-me rãs na boca ávida
.......

estes três versos me chegavam, a magia do poema

"Sem bordão e sem cajado,
descalça, viajo a dor numa gota híbrida
de sangue e suor, no rumo de nenhum lado."

(no entanto tu vais a tanto lado, por muito que teimes na solidão, tu estás sempre acompanhada e acompanhas)

...........................

Beijinho

Enviado por Tópico
MariaSousa
Publicado: 15/08/2007 16:25  Atualizado: 15/08/2007 16:25
Membro de honra
Usuário desde: 03/03/2007
Localidade: Lisboa
Mensagens: 4038
 Re: Coaxam-me rãs na boca ávida
Um verdadeiro poema surrealista, Amiga Mel.

Bem escrito.

Bjs