Poemas : 

Kafka Comigo

 
Defronte a um lago gigante e límpido,
Detonando mais um maço de cigarros,
Sem me deter com os ruídos dos carros
Que vão levando, lentamente, meu juízo,

Vejo, na grama, uma manada de formigas
Numa labuta danada sob o sol escaldante
Com uma força relativa de um elefante
Numa laboriosa, agigantada e fina fila,

Cegas sem saberem o que querem
E onde vai dar toda aquela labuta.
Eu, que sou mais um filho da puta,
Não quereria ser uma formiga saúva.

Eu não.
Eu preferia ser uma barata bem graúda
Com as pernas peludas, porém compridas,
Vestida com bombachas a moda gaúcha
A vadiar por aí, pelos tantos palcos da vida.

Levaria minha guitarra argentina (antiga)
Meu bumbo feroz e mui gigante
Gritaria para os mil um alto-falantes
Que trabalhar noite e dia não é minha sina.

Que chegue o inverno rigoroso em minha casa.
Que minhas cômodas estejam todas vazias.
A poesia me serve como poderosa fornalha
O meu alimento serão essas maus traçadas linhas.

Kafka que o diga.



Gyl Ferrys

 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 23/09/2010 00:41  Atualizado: 23/09/2010 00:41
 Re: Kafka Comigo
Gostei gyl, parabéns poeta, Beijos.


Enviado por Tópico
varenka
Publicado: 23/09/2010 21:34  Atualizado: 23/09/2010 21:34
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 Re: Kafka Comigo
No teu poema colocaste a transformação do homem
em uma barata,proprio da metamorfose de Kafka.E este homem tem a poesia como balsamo.Uma poesia profunda!!! Gostei!!!

bjs
Varenka


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 26/09/2010 14:31  Atualizado: 26/09/2010 14:32
 Re: Kafka Comigo
Aqui está um poema dos que me interessam. Muito embora pouco eu saiba de poesia. Mas quando, e só, um poema me diz algo eu não me eximo de comentar.
Acontece que Franz Kafka fez as delícias da minha juventude. Mergulhei no Covil e fui voei com Assim falava Zaratrusta.
O que de relevante encontro neste texto de Gyl, aparte toda a mecânica poética,e química ideológica, é a humanização de Kafka, que, sendo demasiado cruel não parecia humano, mas era.

O meu aplauso.

Abraço