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O real valor do amigo

 
O real valor do amigo

Uns meses atrás conheci um velhinho amoroso, passou pela minha porta, batendo de forma gentil e na sua voz fraca pedindo comida. Mandei entrar e o sentei na mesa, dado já ser tarde, cozinhei para ele uma boa refeição, enquanto cozinhava quis saber um pouco de si.
Estava encantada com ele a sua forma gentil de falar, aqueles olhos meigos, sua calma e como aceitou tudo que a vida destinou.
Contou que fora pastor durante toda a sua juventude e ate ser velhinho, bem longe dali em Fátima, onde tinha a sua responsabilidade centenas de ovelhas, passando dias a fio nas montanhas.
O ouvindo sentia uma paz, ele conseguia transmitir sabedoria as suas experiências eram de completo abandono por parte de pessoas sem qualquer escrúpulos.
Os patrões descontavam do seu salário o que teria que pagar ao estado, durante longos anos ele foi enganado e abusado, quando ficou fraco e adoeceu voltou para a sua terra Natal. Coitado, nem sequer tinha caixa para poder tratar das suas doenças e nem sequer reforma tinha direito, passando a viver com a bondade das pessoas.
Mesmo com tudo isto ele não se queixou, não lamentou, somente dizia que era a vontade de Deus e que teria que aceitar com paciência. Confesso que revoltou, era indigno
tratar assim um homem que trabalhou uma vida inteira e na hora de ter paz ainda tinha que lutar pelo sustento e caridade alheia.
Um dia perguntei o que mais sentia falta do seu tempo de pastor, ele respondeu prontamente:
- Os meus dois cães, que eram os meus companheiros, confidentes e amigos, salvaram, varias vezes dos perigos e não gostaria de morrer sem me despedir deles.
Sinceramente isso me deixou triste, como um homem que vive uma vida inteira só tem dois amigos, os cães, como é possível, isso ao ponto que nós abandonamos os mais velhos.
Mas ele sempre sorria, calmo, dizendo que agora tinha mais uma amiga especial mas eu me sentia impotente, tentando arranjar um lar, onde ele fosse tratado com dignidade e amor.
Convivi com ele um ano, era visita especial de minha casa, trazia roupa e eu lavava e preparava, comia e levava o dinheiro para comprar os medicamentos.
Sempre saia com ele, para o levar ao café conforme estivesse sujo ou limpo, conversamos, riamos, ele era como um anjo na minha vida, eu sempre falava isso a ele.
Uma das vezes desapareceu dois meses e eu, preocupada não sabia dele mas logo que ele pode, andar veio me visitar dizendo que esteve internado, que não deixou cortar a sua perna que queria morrer com dignidade, tinham roubado as roupas, calçado e tudo o resto.
Logo tratei de arranjar tudo de novo, ainda por cima temperaturas abaixo de zero, ele ficava grato com tão pouco, sorria contente, dizendo que só por si tudo o que estava acontecendo tinha valido a pena. Um dia o levei para que não atravesse sozinho as estradas e sem mais nem menos, ele me abraça a chorar, dizendo que o seu tempo era pouco, que iria para junto de Deus mas que me levava no seu coração.
Nesse dia tudo mudou em mim, nada foi ao acaso, aprendi a maior lição de amor, amizade e fraternidade com este velhinho. Ele me ensinou tanto, deu tanto, eu pode aprender que devemos dar valor ao que temos, outros tem bem menos e são mesmo assim felizes. Talvez o valor real de uma linda amizade fosse a minha maior lição de vida, eu dei ajuda sim mas o que este meu amigo me deu não tem preço, tem sim um grande lugar no seu coração e no meu.
O real valor das amizades devem ser cultivadas e guardadas pois são essas que nos ensinam e fazem crescer e tornar seres melhores aos olhos de Deus.

Esta história é veridica e até chegou a ser publicado num jornal o seu caso mas como sempre neste país tudo cai no esquecimento, talvez por nao dar destaque publico aos politicos deste país.


Betimartins



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Betimartins
 
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