Poemas : 

Jactância de quietude (Jorge Luis Borges)

 
Escrituras de luz embestem a sombra, mais prodigiosa que meteoros.
A alta cidade irreconhecível se faz violenta sobre o campo.

Seguro da minha vida e da minha morte, vejo aos ambiciosos
e quisera entendê-los.

Seu dia é ávido como o laço no ar.
Sua noite é trégua da ira no ferro, pronto em acometer.

Falam de humanidade.
Minha humanidade está em sentir que somos vozes
de uma mesma penúria.

Falam de pátria.
Minha pátria é um palpitado de violão, uns retratos e uma velha
espada, a oração evidente do salgueiro nos entardeceres.

O tempo está vivendo-me.
Mais silencioso que minha sombra, cruzo o tumulto da sua levantada
cobiça.

Eles são imprescindíveis, únicos, merecedores do amanhã. Meu
nome é alguém e qualquer.
Seu verso é um requerimento de alheia admiração.

Eu solicito do meu verso que não me contradiga, e é muito.
Que não seja persistência de formosura, mas sim de certeza
espiritual.

Eu solicito do meu verso que os caminhos e a solidão o testemunhem.
Gostosamente ociosa a fé, passou beirando meu viver.

Passou com lentidão, como quem vem de tão longe que não espera
chegar.

Jorge Luis Borges, poeta argentino, poema traduzido por Héctor Zanetti.
 
Autor
AjAraujo
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