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Os Ricos Também são Idosos?

 
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OS RICOS TAMBÉM SÃO IDOSOS?

Quando chegam a velhos os nossos governantes?

Já chegaram muitos, mas existe um pressuposto importante: as pessoas mais dotadas economicamente e com estatuto social elevado não chegam a velhos ou não são assim tratados. Passam directamente de jovens e adultos para mortos. Só após a morte é que se diz: já estava um bocado velho! Antes nunca se diz que um rico é Idoso. Um rico tem sempre muitos anos mas tem o espírito jovem, está sempre muito bem conservado.

Velho e Idoso são pobres, é sujo, é mau, é fraco, é uma nódoa na sociedade, um inútil.

É talvez por esta razão que o poder político, o poder económico, o poder da comunicação social não intervêm na área das pessoas idosas. Os ricos nunca são idosos. São saudáveis e activos, tem cargos importantes depois da reforma nas empresas, nas fundações e noutros locais de enormes privilégios, falam na televisão a fazerem comentários e tornam-se autoridades pela sua extraordinária experiência.

Já alguém conheceu um rico que precisasse de um Lar?
Cuja família desesperasse com as ofertas que existem no mercado mesmo a preços proibitivos?

Não. Não existem velhos ricos com necessidades de equipamentos do género dos Lares.

Então o que andamos nós a fazer? Nós, adultos sonhadores e optimistas? Criar modelos novos de resposta a necessidades de pessoas idosas? Defender a dignidade das Pessoas Idosas até a final da sua vida? Criar estruturas e soluções que respondam às expectativas das pessoas criadas ao longo da sua vida? Mas que modelos, que dignidade e que expectativas?

Os nossos idosos pobres viveram pobremente toda a vida, foram descriminados na escola, no mercado de trabalho, na vida social e em tudo o que viveram. Sempre foram pobres e a sociedade continua a entender que tendo sido sempre pobres devem morrer pobres.

Nos lares sociais amontoados uns por cima dos outros, a comerem sem dentes sopas com o pão que sobrou do dia anterior, a serem chamados de avozinho e queridinho ou noutras vezes de velho ranhoso, sacana e mau.
Que história é essa de quando chegam a velhos termos a ideia que devem ser bem tratados se foram maltratados toda a vida?
Somos mesmo impossíveis de compreender.
Em vez de andarmos a fazer outras coisas, andamos a tentar compensar os velhos de uma vida desgraçada que tiveram.

Há quase uma loucura neste trabalho.
Ficamos admirados dos velhos não fazerem manifestações, não protestarem, não assinarem petições, não se organizarem.
Mas alguma vez, nem que fosse por um pequeníssimo período, eles fizeram isso na vida?

A mudança necessária nos lares é a mudança da sociedade e não especificamente dos lares.

A sociedade portuguesa organizou-se num modelo, criado no tempo da Rainha D. Amélia, chamado serviço social ou cuidados sociais ou preocupação social ou outra coisa qualquer que é irrelevante mas que assenta em princípios caritativos, muitas vezes a roçar a indignidade das acções, um modelo viciado, vicioso e impróprio.

Mas este é modelo da nossa sociedade: dar subsídios aos desempregados e colocá-los a fazer formações na área em que trabalhavam sabendo que estão desempregados porque a área em que trabalhavam tem tendência a anular estes postos de trabalho. Um modelo que motiva a ineficiência, o “para quem é basta” e que não permite a mudança de classe social ou patamar de qualidade de vida aos cidadãos.
Nasce pobre, morre pobre.

O problema é que esta situação da necessidade de cuidados a pessoas idosas começa a atingir fortemente a classe média e até média alta, por alterações significativas na organização e relação familiar, no mercado de trabalho com participação cada vez mais forte das mulheres (eterna cuidadoras dos necessitados) e por outras razões conhecidas de todos e que os académicos não se cansam de divulgar.

Para esta situação, de imediato, foram criadas algumas soluções:
primeiro as residências assistidas que rapidamente concluíram em negócios falhados pela dificuldade de sustentação num pais que afinal não tem tantos ricos como isso e onde a classe média não opta por ofertas de seguros e pacotes de cuidados a longa distância.
Surgem, neste contexto os cuidados continuados e aqui sim, é visível, a manutenção da discriminação dos idosos, criando uma situação ridícula e comparticipando um idoso que se encontre na rede quatro vezes mais que um que se encontre num Lar com as mesmas necessidades de cuidados.

Estarei a ser provocador?
Então apresentem lá um estudo sobre as características económico-sociais das pessoas integradas na rede de cuidados continuados e das pessoas que se mantém nos lares…

É um desafio importante e talvez se perceba porque é que uns são mais idosos do que outros e porque é que uns estão em lares a apodrecer e outros estão em unidades de longa duração na rede nacional de cuidados continuados.

Rui Fontes (Presidente da AAGI-ID)


José Mota

RUI FONTES, PRESIDENTE DA AAGI-ID, "SEM PAPAS NA LINGUA" ...
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PoetaSenior
 
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Enviado por Tópico
FátimaAbreu
Publicado: 08/01/2011 11:34  Atualizado: 08/01/2011 11:35
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 Re: Os Ricos Também são Idosos?
OLHA, TAÍ UM TEXTO QUE EU GOSTARIA IMENSAMENTE DE TER ESCRITO, COM ALGUMAS PEQUENAS MODIFICAÇÕES AO JEITO DO BRASILEIRO E DAS SITUAÇÕES DO IDOSO NO BRASIL, É CLARO!
Mas acima de tudo acho que o dito, é realmente uma verdade a ser lembrada sempre e sempre... ABRAÇO E OBRIGADA POR COMPARTILHAR.