Poemas : 

lira morta

 
soltou-se uma limalha
do gume mal afiado
de uma faca canalha
bradida sobre um calado...

soltou-se ao raspar num osso
preso dentro de um peito
que continha um colosso
repulso e sem jeito,

o enorme desajeitado,
encolhia e inflamava
com corte de morte cravado
nas pancadas que o coração dava...

desajustado por provocação
mas soldado desde semente,
o siamês, inconho, chegado irmão
fenecia, caído em solo dormente...

oh lira que se lhe deu escrita
ao silêncio esfaqueado por sombra
de um corpo dado à desdita
por palavras que já ninguém lembra...

oh morte que mataste nova,
rasgando pele, ossos e tudo,
os resquícios fugídios da prova
que se cinge à voz do dono que é mudo...

morreu a lira...
o estro que nasce e foge
quando a alma se estira
para mais longe do que ontem e hoje.

Valdevinoxis


A boa convivência não é uma questão de tolerância.


 
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Valdevinoxis
 
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Enviado por Tópico
Vera Sousa Silva
Publicado: 30/08/2007 23:18  Atualizado: 30/08/2007 23:18
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Mensagens: 4098
 Re: lira morta
Gostei! E fez-me lembrar uma canção... Que não me consigo lembrar do título!
Mas aqui está um belo poema! Inspiradinho!!!

Beijo