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Um texto único (Versão Completa)

 
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Num amanhecer diferente, ou num despertar incomodo algo acontece ou nunca terá sido assim?
Fiquei ali parado a olhar, não sentia a respiração nem sequer o eco de uma batida do meu coração, continuei parado por momentos de olhos abertos mas, sem um único pestanejar. Senti encerrado um sentimento de inactividade constante, dormente, …
Não sei quanto tempo durou, não me contentei num qualquer sufoco ou sequer tremi, mesmo que por um pouco, estava ali mas, sem num pensamento inócuo.
Tentei levantar-me, creio ter sido esse o meu único pensamento, tentei fazer algo com o meu corpo para desviar o medo, criar uma barreira a todos os sentidos para que ao permanecer ali “presente” me defendesse, mas senti-me, …cuidado.
Afastei os lábios, num fechar de olhos delicado, senti uma secura enorme, apesar das mãos suadas, continuei ali deitado aproveitando o sussurrar de mais um amanhecer frio e bastante calmo.
A agitação empurrava os sentidos para uma luminosidade imperfeita, ofuscada uma e outra vez pelos fantasmas do pensamento ou de um abrir de olhos encadeado, … porque à procura de uma ilusão perdida ou vagamente imaginada.
O silêncio de novo, sim o silêncio voltava como uma onda de dor vibrante, arrebatadora como um coágulo que aumenta a cada inspirar profundo de tristeza, assim devastador porque de uma maneira ou de outra existem acontecimentos que não vamos nunca controlar.
Foi durante muito tempo algo iníquo, não saberei bem quanto porque ainda não terminou.
Continua a ser tão difícil entender, como um desejo me leva à obsessão e mais impraticável, porque não posso aceitar o quão ténue e rarefeito coloco desse ponto, a distância imensurável, ao ódio penoso.
A caminhada continua longa, ainda que encantado, não à espera de um carinho, mas de uma outra desilusão, vingança.
Obcecado no teu olhar, sem nunca o dizer era com o maior orgulho que te sentia na minha companhia todos os dias. À medida que os acontecimentos irrequietos iam moldando as nossas vidas, o memo orgulho que me inspiravas foi-se revelando na sua plenitude, ao ponto de parecer não ter retorno.
Vi o Amor, pensei e compreendi que jamais poderia estar a acontecer algo de tão excepcional, mas mais uma vez, lembrei-me da maneira mais dura que, … o Amor é cego porém os amantes, … conhecem-se.
Consegui reconhecer também a enormidade nesse mesmo Amor, porque a vastidão do Universo reduzida apenas a dois seres, o tempo que altera de ritmo quase tão depressa como o bater do nosso coração, a respiração ofegante, a procura do Amor.
O Amor é perfeito, apenas isso entendo, e retiro dos momentos vibrantes em que fomos amantes.
Já perdido numa traição ou vingança, resta-me apenas partilhar por instantes, alguns momentos, …
São momentos de paixão, estejam preparados, porque o que conto é intenso e nada ficou como antes, escutem…
-Posso dar-lhe um abraço?
Foi assim o reconhecer de uma enorme paixão.
-Claro meu Amor, …
Levantei-me e fui em sua direcção, dizendo com o meu olhar para que permanecesse onde estava, … agarrei-a nos meus braços e desviamo-nos de olhares indiscretos, se bem que não havia mais ninguém.
Encostado fortemente à parede do escritório senti o aperto de seus braços, mas era o seu toque, o seu chorado de prazer, o seu cheiro, que foram imperando, preenchendo e bem vorazmente obrigando-me a limitar os meus receios.
Sentia os seus delicados peitos que me tocavam e aqueciam o corpo suado com a fragrância do imenso desejo. Castigando num beijo molhado, forcei-me a esquecer tudo ou a não querer pensar em mais nada.
Sim foi isso, foi assim que nos mantivemos por longos momentos, mas um castigo merecido corrigia o tempo acelerando-o ao ritmo dos nossos corações, mas acredito que por escassos instantes soube o que era a verdadeira paixão. Os nossos lábios tocavam-se, enquanto as nossas mãos percorriam os contornos dos nossos corpos, tínhamos de sair dali, …
Ainda hoje procuro compreender o que aconteceu depois, porque nunca me irei esquecer, foi como viver de novo.
Recordo-me apenas daquele amor conforme o entreguei pois dificilmente voltará para o reaver.
Não passou muito tempo até que nos voltássemos a encontrar, pois estávamos ali – como disse antes os dois – constantemente, mas agora o tempo escorria por entre os dedos como a areia fina das praias, onde passeámos juntos e o mar albergava os nossos corações com o som inconfundível do rebentar das ondas sobre o tom acobreado do areal.
O nosso olhar reflectia – ao que sei até hoje ser – Amor, em cada piscar de olhos perdi a oportunidade de contemplar a sua beleza e mesmo em silêncio compreendíamos instintivamente o que certamente iria acontecer.
Porém nada aconteceu.
Na minha cabeça, pensei estar rodeado de paixão mas tudo desapareceu tão rapidamente em relação ao que o meu Amor sentia por mim como o final deste conto.

FIM

“As mãos de um louco não dizem pouco”


Manuel Rodrigues

 
Autor
Manuel Rodrigues
 
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Enviado por Tópico
Juli Lima
Publicado: 31/08/2007 09:46  Atualizado: 31/08/2007 09:46
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 Re: Um texto único (Versão Completa)
Bom dia! Expressivo e reflexivo texto. Muitas vezes reagimos e não sabemos pq, talvez pq sejamos ainda desconhecidos de nós mesmos. Bj poesia