Contos : 

A Demanda (As 7 Maravilhas do Mundo Antigo)

 
Os portões da majestosa cidade da Atlântida fecharam-se atrás de mim. Sem temer caminhei. Onda ante onda, sem me molhar. Dei por mim, então a atravessar o mar sem temer qualquer tempestade. Sem que nenhuma rajada de vento me fizesse desequilibrar.
Falaram-me de sete maravilhas. Teria eu que as visitar antes da última lua cheia chegar. Achei que era impossível. Nunca, ninguém tinha chegado às terras da Grécia em tão pouco tempo.
Seria como um espia ou talvez como um viajante.
Antes de pisar as areias lusitanas, já eu ouvia a saudade dos meus entes queridos, dormindo nos palácios da minha terra.
Com uma estranha canção de paz em mim, cheguei ao meu primeiro destino após um dia de viajem. Olympia era a morada dos deuses rivais gregos. Zeus, em especial, invejava a sabedoria atlante, o poder, mas quando lhe informei da minha vinda, ele recebeu-me de braços abertos.
A sua estátua era imponente, porém frágil. Totalmente feita de ouro! Imortal aos olhos e frágil às chamas. Zeus vangloriou-se pela superioridade daquele monumento perante os do meu povo.
Segui, na mesma noite. Antes da alva já eu visitava o templo de Artémis. Típico. Já eu tinha visitado inúmeros templos gregos, simétricos e suspensos em colunas...
Eu sabia que tinha que depositar algo valioso numa daquelas sete maravilhas que eu iria passar, embora as duas primeiras fossem as que eu de certo tentaria não escolher.
Ora, houve uma que me agradou bastante devido à sua singularidade, o mausoléu de Halicarnassus. Era um pouco mais forte que o templo de Artémis, mas não sei porquê, deu-me uma sensação de que se uns terramotos acontecessem, todo o complexo cairia.
Segui caminho pelo mar até chegar a Rodes. O complexo surpreendeu-me bastante. Uma gigantesca estátua de bronze que honrava o deus grego Apolo marcava os limites entre o mar e os portos.
Quando olhei para a estátua notei também alguma fragilidade, portanto parti...
O mais surpreendente da Babilónia eram os seus jardins suspensos, considerados numa maravilha intocável pela revolta do cansaço. Quando lá cheguei, ouvi o rei a planear um grande monumento que revelaria o sucesso dos atlantes ao mundo. Aquela ideia provavelmente seria a ruína do império, portanto fui e levai a relíquia que me fora incumbida.
Após outra caminhada pelo mar mediterrâneo, avistei o farol da cidade de Alexandria. Imponente! Mas de certa forma eu pressentia que tudo o que estivesse junto à costa era falível. O farol também era uma vasta biblioteca. Esta cobiça pelo melhor levaria à guerra e ao caos.
Juro que pensei em desistir, em voltar à minha terra e receber a desonra. Desta vez, decidi partir como um Homem! Sem andar sob a água,sem percorrer o mundo em instantes.
Converti-me no tesouro que guardava e cheguei calmamente ao último destino. Demorei dias até chegar lá, talvez semanas.
Olhei de alto a baixo as pirâmides egípcias e coloquei o tesouro entre elas. Antes de voltar a Alexandria, soube que a Atlântida tinha caído. Os deuses resolveram despedaçá-la como quem destrói uma flor.
Resolvi ficar no deserto, escondido nas grutas. Anos após a queda da minha terra natal, soube que seis das maravilhas haviam também sido derrubadas pela ira divina. Apenas a maravilha do deserto tinha resistido. As pirâmides. Deixei-lhes a paz, num sítio quase morto. Talvez tenha errado perante a Atlântida pela minha estupidez infantil, mas algo no meu coração diz que eu fiz bem em deixar a paz naquele local e sinto que concluí a minha demanda...


Pedro Carregal

 
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PedritoDomus
 
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