Uma grade é só uma grade,
absurda economia de espaço,
toda feita de barras de aço,
é divisão, sem profundidade.
Transformadora da idade,
tudo envelhece, fica baço,
reveste-se de tal cansaço
quando retira a liberdade.
Grade, porque tanto te odeio!
Só te vejo do lado de dentro,
deste, tudo parece mais feio.
Mas serás somente o centro
do lado em que me permeio,
do lado em que me esventro.
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.