Poemas : 

UMA ELEGIA MALDITA, QUASE UM ANÚNCIO DE MORTE

 
aos meus amigos poetas portugueses, irmãos, alex moraes, domingos da mota e josé torres. e também ao poeta maior brasileiro ferreira gullar - consagro.

há dias em que a puta da minha vida
não é a minha vida
e nem eu tenho o direito de exigi-la
onde minha mulher com as pernas
prontas e abertas para o ato de amor
pede que eu venha e sinto medo dos seus olhos

há dias em que não tenho direito nenhum
sobre o ato porco de ser homem
e a vida me passa solta como um carnaval de rua

há dias em que penso em estrangular-me
e depois retornar numa quarta-feira de cinzas
mas minha mulher me cobraria a ausência num feriado nacional

há dias em que penso em visitar as cinzas
cruas de todos os meus mortos
mas paro no primeiro bar
e percebo-me no vazio do copo
depois de um trago se não eu fui quem morreu ou morri ou deixei de morrer
mas minha mulher talvez pudesse
não gostar da sua precoce viuvez

e é quando - meus amigos - eu me morro
num dia santo qualquer sem deixar pistas

______________

júlio


Júlio Saraiva

 
Autor
Julio Saraiva
 
Texto
Data
Leituras
970
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
6 pontos
6
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 03/01/2011 10:22  Atualizado: 03/01/2011 22:28
 Re: UMA ELEGIA MALDITA, QUASE UM ANÚNCIO DE MORTE p/ Julio Saraiva
Julio Saraiva,


existem pessoas e pessoas.
existem homens e homens..
há os que passam desapercebidos por dentre multidões
há vezes, em que não conseguimos, nem mesmo, discernir um homem de um "animal", tb..
qual mundo tão grande este, julio..

mas,
embora nao te conheça pessoalmente, e também apesar do pouco tempo que "te sei", digo::

não existem homens iguais a vc, por um sentido de verdade..
não existem muitos, quero dizer..

aqui.
vc diz e escreveu sobre a "sua" morte.
mas,

é morte, e.somente por que vc escreveu..(sobre isso)

e.
te digo, julio: Vive!!
vive cada um dos teus dias que te vêm.
vive pra alegrar o coração dos teus amigos..
vive pra escrever o que lhe der na telha.
pra mandar tantos quantos forem necessários, à merda..
vive pra amar quem te ama, também.


apenas,
vive, homem..

pois.
não há tantos, assim, iguais a vc, por aí..
(e erros, todos temos/fazemos/insistimos)

e.
é um mundo muito grande..
e teu, também é.


Um Abraço!!
(e se cuida..)


Alex Moraes.


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 03/01/2011 11:53  Atualizado: 03/01/2011 11:54
 Re: UMA ELEGIA MALDITA, QUASE UM ANÚNCIO DE MORTE
"No mundo há muitas armadilhas
e o que é armadilha pode ser refúgio
e o que é refúgio pode ser armadilha

Tua janela por exemplo
aberta para o céu
e uma estrela a te dizer que o homem é nada
(...)
No mundo há muits armadilhas
e muitas bocas a te dizer
que a vida é pouca
que a vida é louca
E por que não a Bomba? te perguntam
Por que não a Bomba pra acabar com tudo,
já que vida é louca?..."


Ferreira Gullar, em 'No mundo há muitas armadilhas"

isto é pra dizer-lhe que é triste o seu poema; maldito, quase um anúncio de morte.

beijão irmão.



Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 04/01/2011 00:28  Atualizado: 04/01/2011 00:42
 Re: UMA ELEGIA MALDITA, QUASE UM ANÚNCIO DE MORTE
Amigo Júlio,

Agradeço a convocação para esta "elegia maldita", juntamente com os outros que reconheço, mas que não conheço pessoalmente; mas bem melhor do que "um quase anúncio de morte", seria bebermos um copo em louvor à vida, num bar, num café, num restaurante, num tasco, onde a sede e a fome de amizade se transformasse numa ode.
É que para aproveitarmos a vida só temos dois dias; para a morte, teremos uma eternidade.
Obrigado pelo que me toca.

Domingos da Mota