Sonetos : 

ESPERANÇA

 
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Reavendo esperança após o nada
Jazendo noutro canto desta casa
O quanto do vazio não embasa
A história noutra lenda revelada,

Ainda que se veja desenhada
A lenda mais audaz, intensa brasa
O passo sem sentido algum se atrasa
E não se deixa ver a velha estrada

Há tanto consumida pelo fogo
Perdida mesmo quando em firme rogo
O tempo não perdera alguma luz,

Porém de tanto crer no que não vinha,
A senda mais feliz jamais foi minha
E apenas ao vazio me conduz.


Cansado de lutar contra o que venha
E ter no meu olhar esta impressão
Do tolo caminhar em direção
Ao quanto com certeza não convenha,

Ainda que se saiba a velha lenha,
Os dias com firmeza me trarão
Apenas a saudade de um verão
E nele cada passo nunca tenha

Somente outra certeza senão esta
Do medo que deveras nos atesta
A sórdida presença da lembrança

Rondando o quanto teime no futuro
E do não ser apenas me asseguro
Enquanto sem sentido a voz se lança.

3

Já não me caberia acreditar
Nas curvas do caminho ou mesmo até
Por onde a vida trace em leda fé
As tramas mais audazes de um luar,

Não tendo nem sequer onde parar,
A sorte se desdenha e sei quem é
Que tanto poderia e mesmo a pé
Não deixa do infinito procurar,

Um sonho que se faz realidade?
Apenas um lampejo em claridade
Ou mero ocaso em vida discrepante,

O tanto que me reste, finalmente
Somente toma parte do que mente,
E molda o quanto ausência me garante.

4

São versos que se fazem sem temer
A sorte desairosa do jamais
Poder ter no futuro atemporais
Momentos mais repletos de prazer,

Não tento acreditar e mesmo ver
Após os velhos erros, vendavais
Os dias que se mostrem desiguais
Negando qualquer calmo amanhecer,

Resulto deste infausto e sigo assim
Procuro algum lugar dentro de mim
Aonde eu não perdesse a dimensão,

Dos erros costumeiros e talvez
Ainda quanto mais já se desfez
Enfrente novos tempos que virão.

5


Acredita decerto piamente
Nos dias mais felizes? Mero fardo
Aonde cada passo eu já retardo
E tento acreditar no que se mente,

E mato sem saber uma semente
E gero invés do sonho um novo cardo,
Cada palavra dita, algum petardo
E nele o mundo perde o quanto sente.

Restando muito pouco ou quase nada
Daquilo que se fez em nova estada
Apresentando apenas incerteza

Do passo sem firmeza em plena queda,
E o prazo aonde o fim já se envereda
Não deixa que se vença a correnteza.

6


Um universo novo em meio ao caos?
Apenas ledo sonho de algum santo
Ou mesmo a cena feita em desencanto
A sorte não se eleva em tais degraus,

Os dias mais audazes, mesmo maus
E o que me resta apenas traz no canto
Dos velhos infestados pelo manto
Puído ou se perdendo em podres naus,

Apresentar no olhar uma esperança
E crer ser mais possível a mudança
É como alimentar a imensa fera,

E sei que na verdade desde agora
Somente o que inda reste nos devora
E deixa o quanto quis em tosca espera.


Não tento acreditar no que não veio
E sei jamais viria para mim,
A florescência morta no jardim
Expressa o meu caminho em devaneio,

Não pude acreditar e se receio
A história se desenha sempre assim,
Iniciando em vão no mesmo fim,
O tempo se presume sempre alheio,

Arcando com meu mundo sem sentido
Apenas me entranhando aonde olvido
O passo num vazio interminável

Depois de cada engodo, novo engano
E o mundo onde decerto ora me dano,
Jamais seria enfim mais habitável.

Negar uma vontade e crer, cismar
Vencendo o quanto possa ressurgir
E ter no olhar além do vão porvir
A imensidão espúria deste mar,

Já não pudera mesmo me entregar
E vendo o quanto possa redimir
O engano de quem tanto ao presumir
Não teve outro caminho a se mostrar.

Apenas o que vejo dita o rumo
E deste navegar onde me esfumo
Enfrentaria a sorte desumana,

E tendo tão somente a negação
Ausenta deste passo outra versão
Enquanto a própria história hoje me engana.


Jogado sobre as pedras deste cais
Meu barco não traria nova senda
E quando imaginasse em tal contenda
O tempo noutros dias desiguais,

Reúno os meus anseios temporais
E vejo o quanto o sonho não desvenda,
E sei desta emoção em leda lenda
E nela outros anseios onde trais,

Vestígios de uma sorte morta e crua
Olhando para além eu busco a lua
E bruscamente a mente nada vendo

Envolta no silêncio desta sorte,
Apenas sem ter nada que conforte,
O mundo se anuncia amargo e horrendo.

10


Desnuda-se ilusão e o passo traça
A fútil sensação de novo encanto
E quando procurasse em todo canto
Uma emoção expressa tal fumaça

E o prazo determina o quanto embaça
E nisto o que se visse em luta e pranto
Apenas desenhando o desencanto
Marcando com terror a rua e a praça,

Não pude e não tivera qualquer ponto
Aonde sem saber onde me apronto
Eu vivo esta incerteza do vazio

E nele se anuncia o que não veio
Olhando para além vivo o receio
De quem adentra o sonho mais sombrio.


11

Durante tantas noites solitárias
Imerso nas lembranças de outros dias
Enquanto na verdade não virias
As horas são audazes e corsárias

E invadem sendas loucas, temerárias
E tentam transformar em melodias
As ânsias mais atrozes e trarias
Somente as mesmas vagas luminárias,

Encontro nos anseios de quem ama
Apenas a verdade me mera chama
E dela me aproximo embora saiba

Que toda fantasia tendo um fim
Jamais eu poderia crer em mim
Aonde esta emoção já não mais caiba.


Negar outro momento e crer no verso
Ansiosamente exposto nas janelas
E quando este vazio me revelas
Talvez como se fosse este universo

Audaciosamente enquanto imerso
Nos ermos onde tanto em dor atrelas
Seguindo este cenário rompo celas
E tento acreditar onde o disperso,

Repare cada luz e saiba bem
Do quanto da esperança nisto tem
Embora inutilmente, este é o fato,

E sigo sem proveito e sem razão
Vivendo os dias tolos que virão
E neles solidão; sempre constato.

13

As mãos da vida tecem no vazio
A imensa sensação da queda e sigo
O tempo sem saber de algum abrigo
Enquanto cada passo eu desafio,

Vestindo esta ilusão e sei do frio
E nada mais que possa inda persigo
Sabendo inconsequente do perigo
E nele outro momento ora desfio,

E bebo o sortilégio de assim ser
Tentando adivinhar mero prazer
Aonde no final nada haveria,

Somente esta esperança tola e rude
E quando o dia a dia desilude
Restando dentro da alma esta agonia.


As flores de uma vida sem futuro
Despetaladas ânsias de outro sonho
E sei do quanto possa e decomponho
Ousando neste passo em ledo escuro,

E quando alguma luz cedo procuro
Ainda sendo o passo mais bisonho,
Apenas o vazio onde componho
Meu verso se traduz em solo duro,

Não pude e não teria qualquer chance
De crer no passo aonde o tanto alcance
Marcando com acordos mais sutis

Os nobres desenhares, vida amarga
E o tanto quanto tenho a voz embarga
E nega na verdade o que mais quis.

15


Consolo-me em saber do fato quando
A vida se pressente noutro rumo,
Mas sei do quanto possa e já resumo
O tempo noutro vago desabando,

O marco mais atroz se desenhando
E nele cada passo traz no sumo
O tanto quanto pude e se me esfumo
O mundo se perdera em contrabando,

No caos sem ter apenas um alento,
O todo desenhando o quanto tento
Vestindo esta esperança em luz e sorte,

Apenas do meu mundo sem proveito
O quanto se quisesse e não aceito
Transforma qualquer sonho que conforte.

Nos seios sempre fartos do querer
Por vezes me entranhando e me perdendo
No canto aonde o tanto fora adendo
A vida se desenha em desprazer,

O quanto pude mesmo conceber
E sei do todo ou quando sou remendo
Vivesse tão diverso do que estendo
A luta sem sentido a se prever,

Não tento acreditar em luz nem mesmo
Enquanto solitário eu ensimesmo
E vago por estrelas que não vêm,

Depois de certo tempo sem apoio,
A vida se perdendo do comboio
Outra esperança chega e perde o trem.

17

No corpo de quem tanto fora mais
Do que se imaginara no passado,
O verso sem sentido enquanto brado
Expressa o que se faz em temporais,

Não tendo na verdade novo cais
O barco sem saber do desolado
Anseio deste tempo desfraldado
Imerso sob fúrias, vendavais,

Não quero que se faça o que não tente
Sequer o meu caminho imprevidente
Ou mesmo sem saber do quanto resta

Minha alma se anuncia sem proveito
E bebo do que possa e não aceito
Sequer a noite amarga e mais funesta.

18

Respiro o quanto reste da esperança
E nada mais pudera ter nas mãos
Tentando acreditar em podres grãos
Que o tempo em solo espúrio agora lança

Jogado contra o medo da mudança
Os dias adentrando velhos vãos,
Os passos se repetem entre os nãos
E deixam para trás a confiança

Marcar em discordância o que não veio
E ter no olhar apenas tal receio
Pousando no infinito enquanto sinto,

Meu mundo sem temor e sem discórdia
A vida se moldando em tal mixórdia
Amor quando existira foi extinto.

Jamais irei contigo, companheira
O passo em mais diversa direção,
Expressa os dias tolos que verão
A sorte que julgara costumeira,

Não tendo na verdade quem me queira
A luta se desenha em solo vão
E o bando se perdendo em dimensão
Diversa da que possa e não se inteira,

A marca da pantera, o beijo bom,
Teus lábios e a delícia de um batom
Pousando sobre os meus em noite cálida

E quando se imagina a sorte pálida
Ressurge do passado em força tal
Tramando outro momento sem igual.


20


Nos ermos mais distantes e sombrios
Dos sonhos entre incautos passos vejo
O tanto quanto possa e se desejo
A vida se expressando em mansos rios,

Deixando no passado os desafios
E neles outro engodo malfazejo,
O rumo que deveras eu prevejo
Acende da esperança tais pavios,

Encontrarei a sorte que desenho
E nela quanto mais em ledo empenho
Ainda em aproximo do jamais,

E bebo em tua boca o que queria
E nisto imensa luz em fantasia
Encontra mansamente o calmo cais.




Não quero a dor aguda que ora trace
O tempo aonde o mundo não traria
Sequer a menor sombra da alegria
E nem sequer o quanto diz repasse

Das dores do passado e se mostrasse
Apenas o que resta em ironia
Ou mesmo na verdade moldaria
A luta aonde o tempo destroçasse

O verso sem sentido e sem proveito
Do quanto com certeza me deleito
Em erros costumeiros da emoção,

Uma esperança ronda esta janela
E sei desta nudez que se revela
Em sórdida e diversa dimensão.


22

Respiro alguma sorte e nada vindo
Somente o que se fez em tom feroz,
A vida se perdendo em nova foz
O manto se descobre agora findo,

E o verso noutro verso se abstraindo
Enquanto nada vejo além e após
Aposto no que tento e sendo atroz
O marco de um passado se sentindo,

Depois do que viria em tom suave
A luta na verdade mais agrave
Engodos entre caos e nada além

Da marca mais audaz, felicidade
Que quanto mais inútil ora se brade
Expressa o que deveras nunca vem.

23

Os sonhos que pudessem persistir
Envoltos nesta luz e nada além
Do tempo aonde o tanto não mais vem
Perdendo qualquer rumo de um porvir,

E sei do quanto possa redimir
E vicejando a vida sem ninguém
E nela o que se mostre sei tão bem
Do verso que tentasse presumir,

Ocasionando a queda de quem tenta
Vencer em mansidão qualquer tormenta
E nada mais se vendo senão isto,

O pantanal dos sonhos envolvendo
O corte mais audaz atroz e horrendo
Enquanto simplesmente ora desisto.

Cantos enamorados da ilusão
Aonde uma esperança habitaria
Vencendo o quanto resta em utopia
Matando pouco a pouco outra emoção,

Jorrando como fosse uma explosão
E nada mais do tanto em fantasia
Explode aonde o cais se moldaria
Nos erros de um espúrio coração,

Alego o que não veio e nem se faz
Apenas o que tanto sei mordaz
E atrás desta incerteza o rumo seda

Marcantes dias mortos do passado
E o verso noutro tempo desolado,
Pagando com terror, mesma moeda.


25

Ainda se buscara algum conforto
E confrontando a vida com o sonho
Apenas o que possa e não componho
Traduz o quanto sigo semimorto,

E sei desta expressão em fino aborto
Marcando com terror dia medonho,
E nada mais teria onde proponho
Somente após tempesta um manso porto,

Negar o meu caminho e crer no quanto
A vida se mostrara e quando canto
Tentasse num momento alguma sorte

Diversa da que toca e me desnuda
E nisto o quanto vejo em dor aguda
Apenas com certeza desconforte.


Nas armas esquecidas no porão
As tramas de quem tanto quis o brilho
Do rumo sem sentido aonde trilho
E vejo a mais dorida dimensão,

Dos erros costumeiros desde então,
Ensaio um passo além ledo andarilho
E bebo o caminho em empecilho
Diverso dos anseios que se vão,

Cevando neste solo mesmo ingrato
O tanto do vazio que resgato
Impede qualquer passo em firme luz,

Ao verso sem sentido e sem descanso
Enquanto na verdade nada alcanço
Meu mundo noutro engodo se produz.

27


Jorrasse em meu olhar outro futuro
Diverso do que tanto me legaste
A vida se desenha sem desgaste
E apenas outro cais quero e procuro,

O solo da esperança sendo duro
O vértice renega então esta haste
E o peso da verdade que negaste
Não deixa qualquer passo mais seguro,

Esbarro nos meus erros, e sei quando
Meu mundo noutro tanto desabando
Marcando com terror o dia a dia,

Não tendo qualquer chance, eu já me perco
E bebo do vazio e sei do cerco
Aonde o meu caminho eu perderia.

Não pude e nem tentara acreditar
Nas tramas mais audazes da paixão
E sei dos dias tolos que virão
E nada do que possa caminhar,

Jogado pelos cantos bar em bar,
Os ermos da esperança mostrarão
Apenas o que rege a solidão,
E dela nada possa aproveitar,

Somente o descaminho a se traçar
Negando novos dias e emoção
Diversa da que possa desde então
Apenas outro passo destroçar,

Jazendo sobre as pedras, nada tenho
E sei do quanto possa em ledo empenho
E venho com meus olhos plenos de água

Tentar acreditar noutro momento
E sei que na verdade ainda tento
Vencer o quanto tenho em medo e mágoa.

29

Nas tramas mais sutis onde se vendo
O temporal dos sonhos sem sentido
O mundo em manto velho e já puído
O canto se anuncia e me perdendo,

Aonde se quisera em estupendo
Caminho o tanto quanto dilapido
Do marco da esperança e desprovido
Do encanto vejo o todo qual remendo,

Apresentar encanto agora exposto
A vida na verdade a contragosto
Agostos enfileira em puro inverno

Nos antros de minha alma em horda e súcia
A sorte da mulher, doce pelúcia
Encontro como fosse o meu inferno.

30

Resumos entre espaços mais dispersos
Errático momento em tom atroz,
E nada poderia em minha voz
Sequer o quanto cresse em mansos versos,

No vento se perdendo em mais dispersos
Cenários sem saber por onde nós
Possamos desvendar momento após
A vida sem singrar tais universos.

Apresentando o fim e nele o fato
Aonde sem temor tento e resgato
Os erros costumeiros, sonho e queda,

Ainda quando muito me aproximo
Enfrento a tempestade em lodo e limo
E o passo no vazio se envereda.



31

A paz que se tentasse em tal intimidade
Viver sem mais temor e nisto acreditar
Na fonte que perdera a luz forte e solar
Vivendo o quanto quero em plena liberdade,

Mas quando se aproxima a fria realidade
O tanto que se quis já não podendo alçar
A vida se desenha e sei que sem lugar
Apenas o não ser agora toma e invade,

Vestígios de outra espera e nela em ondas tantas
Enquanto na verdade o quanto desencantas
Expressa muito mais que mera fantasia

E gera outra esperança embora mais sutil,
O quanto se quisera o tempo dividiu
E nada mais decerto aqui já restaria...


Não pude e nem talvez inda tentasse além
Da sorte desejada e há tanto adormecida
A senda mais audaz refuga enquanto a vida
No fundo sem juízo ao nada sempre vem,

E bebo do caminho enquanto em teu desdém
A luta se anuncia há muito consumida
Nas tramas do vazio e sei da empedernida
Vontade de lutar enquanto o nada tem,

Apresentar um passo e acreditar no fundo
Aonde com certeza eu busco e me aprofundo
Inundações diversas de sonhos do passado,

Um mar que se perdera em ondas sem sentido,
Do quanto ainda tenho o todo dilapido
E trago outro cenário apenas esboçado.


Reparo cada engano e vejo o que se visse
Depois do meu caminho em sórdida aventura
O tanto quanto resta a morte configura
E a vida não passasse enfim de uma tolice,

O marco mais audaz e nada mais se ouvisse
Senão a voz cansada e nela se assegura
A luta sem proveito em noite sempre escura
E sigo sem saber restando tal crendice,

O verso sem proveito a vida sem razão
Os tempos mais sutis e neles se verão
Apenas o que rege um passo sem saber

Do quanto poderia a sorte me mostrar
E quando se anuncia o tempo a desnudar
O tanto que se quis jamais gere prazer.


34

Beber do quanto possa em sonho tal
Depois do que se visse noutro engano
O mundo quando invade ledo plano
Expressa este momento desigual,

Encontro cada sonho em vão sinal
E sei do meu caminho e já me dano,
Ainda sem saber o quanto explano
O medo se transforma em ritual,

Não tento acreditar no quanto venha
E sei deste cenário em turva senha
Legado de outra sorte em descaminho,

Depois de tanto tempo solitário
Enfrento o mesmo rude itinerário
E sei que no final irei sozinho,

Resplandecesse o sol onde não há
Sequer a menor sorte ou esperança
E nada do que tento agora avança
Marcando com terror o que virá,

Negando o quanto reste aqui ou lá
Depois da solidão vivo a mudança
Sabendo do meu mundo em temperança
E a morte com certeza o rondará,

Nefastas noites dizem do vazio
E quando noutro passo desafio
O mundo sem segredo e sem apoio,

Ainda quando vejo o dia a dia,
A luta se transforma em agonia
Secando em vaga origem meu arroio.

36


Nas tramas mais audazes o que espero
Traduz além do nada que conheço
Sabendo já de cor seu endereço
O velho sentimento que insincero

Invade quando muito o que mais quero
E sei desta ilusão em adereço
E o meu caminho agora reconheço
Tropeço após tropeço em mundo fero,

Apresentar o caos e nada ter
Somente o que pudera recolher
Das mortes já deixadas no caminho,

E sei do meu anseio sem remédio,
A vida se anuncia em pleno tédio
E sigo o meu momento ora sozinho.

Não tive e não teria qualquer chance
De crer nalguma luz após a treva
E na alma o que se quer e não se ceva
Ainda no vazio ora me lance,

O verso sem saber por onde avance
A solidão espreita e sei que neva
Aonde esta emoção jamais longeva
Amortalhando o tanto num relance;

Depois deste nuance em esperança
A vida se perdendo sem pujança
A sórdida presença do real,

Expressa no caminho esta desdita
E quando novo sonho necessita
Eu bebo este oceano em mágoa e sal.

38


Não mais me caberia acreditar
Nas tramas de uma vida aonde o nada
Encontra com certeza a velha estrada
E perde o rumo logo ao mergulhar

E vejo quanto possa no luar
Beber a sorte tanto imaginada,
Depois do que se visse desenhada
A morte não se faz por esperar,

Apoio onde não resta nem o sonho,
E quando o meu anseio decomponho
Medonhamente eu vejo o fim de tudo,

Não tento caminhar contra este vento
E sei que mesmo quando a sorte eu tento,
No fim sem mais defesa ora me iludo.

Restauro com meu verso o meu caminho?
Não pude discernir qualquer sinal
E sigo sem saber do velho astral
Aonde com certeza irei sozinho,

Ainda que se perca em tanto espinho
Ousando acreditar no roseiral,
O manto se transforma e bem ou mal,
Apenas só não quero ser mesquinho.

Mas sei que do quanto espero inutilmente
E mesmo quando o sonho tanto eu tente
Invalidez transcende o canto em paz,

E nada do que se fez expressaria
A sorte mais audaz e noutro dia
O tempo sem sentido algum se faz.

40


Quisesse apresentar qualquer momento
Aonde o que se vê possa fazer
A vida mais diversa e no prazer
O tanto quanto quero e até fomento,

A solidão não traz este elemento
Que busco e sei no farto amanhecer
Ousando nas estâncias do querer,
Ainda sem temer o forte vento,

Um tempo após o tempo mais cruel
E abrindo em azulejo o imenso céu,
A vida poderia nos traçar

Um dia mais suave e em plenitude
O quanto do passado ora transmude
Expressa o mais divino caminhar...


41


Já não me caberia melhor sorte
Não fosse a minha vida mesmo assim,
Iniciando a queda chego ao fim
E nisto nada trago que suporte

Alento? Na verdade não conforte
Meu canto sem saber do que há em mim,
Apenas discordando de onde vim
Tentando no vazio o velho norte,

Ainda sem saber o que viria
Apresentando o caos em fantasia
A luta se desenha e sei do fato

Aonde com promessas não se faz
O mundo a cada ausência perde a paz
E apenas esperança vã constato.


Resgato cada passo e sigo em luta
Diversa com o tanto que me dera,
Deixando para trás a primavera
Ao menos a esperança é mais astuta,

Mas sei do quanto possa e já reluta
Marcando o que deveras destempera
E gera no vazio esta quimera
E nela a força traça sempre bruta,

Espero alguma luz e nada veio
Somente o mesmo prazo e sem anseio
O meio de seguir perdendo o lastro,

Ainda que se queira acreditar
Num rumo mais diverso e me moldar
Ao menos no não ser ora me alastro.

Encontraria apenas a verdade
Depois de tanta luta sem proveito
E quando nos espinhos onde deito
Enfrento o quanto tento e desagrade,

A rústica expressão que agora invade,
O manto se desfaz e nega o leito
Ao sonhador sem nexo e sem direito
De ter noutro caminho a liberdade,

Ausento dos meus passos e prossigo
Sem ter sequer a sombra de um abrigo
Ou mesmo acolhedora fantasia,

Negar qualquer espera noutro tom,
O dia se desenha e sei sem dom
O canto que decerto esperaria.


Não tento acreditar no que não veio
E sei que não viria de tal sorte
Que tanto quanto o passo me conforte
Apenas desenhando este receio,

Enfrento com temor o quanto anseio
E bebo sem sentido algum o corte
E nada do que deixe como aporte
Suporta o meu caminho em devaneio,

Esbarro nos enganos de quem sonha
E sei da solidão dura e medonha,
Mas tento acreditar noutro cenário,

Embora todo amor já não desnuda
A face mais atroz e sei aguda
Do passo onde se fez desnecessário.

45


Restauro com meu verso o que presumo
Talvez inda me salve do fastio
E bebo com ternura o desafio
E sei da solidão mero resumo,

Vivendo com temor onde me esfumo,
E vago sem saber do velho rio
Morrendo pouco a pouco ora desfio
O tempo sem saber onde o consumo,

Apenas o momento dita o não
E vejo noutro fardo a sensação
Do vago desvendar em passo rude,

Não tendo outra saída vou ao fim
Bebendo o quanto resta vivo em mim,
E deixo para trás a juventude.

Não quero e não pudesse ainda ver
O mundo mais diverso do que tento
E quando do passado num momento
A luta se desenha em desprazer

Não vejo o quanto quis amanhecer
Depois do meu caminho e desatento
Marcando com terror e sofrimento
O nada aonde o pouco pude ter,

Apenas o final se desenhando
Aponta o meu anseio desde quando
A luta se presume noutro passo,

E sei do quanto é rude o meu caminho
E marco com meu tempo mais daninho
O quanto na verdade me desfaço.

Não trago o coração liberto ou vejo
Após a tempestade esta bonança
E quando a solidão invade e avança
Eu bebo deste sonho benfazejo,

O manto mais audaz quando o prevejo
No fim de todo encanto teima e alcança
Deixando sem sentido a confiança
E nisto outro momento em paz desejo.

Restauro com meu sonho o que não tendo
Apenas semeasse o mesmo adendo
E vivo sem proveito o quanto teime,

Ainda quando a vida audaz nos queime
E mostre sem sentido a imprevisão,
As horas mais felizes se verão?


48

Nascera do vazio em tom audaz
E mesmo quando o rumo em reticência
Pudesse desenhar em consciência
O mundo aonde o pouco tenta ou faz,

Resulto do que um dia quis em paz
E vejo sem saber da impertinência
Do tanto quanto possa em vã ciência
E nisto outro momento sou capaz,

E bebo o que não tinha e nem tivera
Somente desenhando a longa espera
De quem noutro cenário se perdeu,

O verso que pudera ter em luz
Agora no vazio não conduz
E o mundo se imergindo em treva e breu.

No pranto sem saber de algum alento,
A voz de quem se fez em tons sutis
Demonstra o quanto fora este aprendiz
Bebendo com terror o velho vento,

E quando no final eu me alimento
E sei do todo na alma sem teu bis
E vejo o que deveras tanto quis
E nisto outro caminho agora invento,

Reparo com meu passo o que não tive
E sei da solidão em que convive
O verso com o sonho e nada mais,

Despisto com meu canto o que se cria
Ausento desde quando em poesia
A luta enfrenta dias mais banais.

50

Medonhas faces dizem do passado,
Mas quero acreditar neste futuro
E sei do quanto possa e me asseguro
Do tempo noutro tempo desenhado,

Pousando mansamente não me evado
E bebo a sensação e já procuro
Vencer o que pudera e não torturo
Meu canto noutro engodo decifrado,

Restauro com o sonho o dia a dia
E vendo o quanto resta em alegria
O mundo não pudera ser assim,

Encontro o que inda tenho em esperança
E o passo sem sentido quando avança
Espera reviver cada jardim...
 
Autor
MARCOSLOURES
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 14/03/2011 08:57  Atualizado: 14/03/2011 08:57
 Re: ESPERANÇA
Ola Marcos! Sao tantos os seus sonetos que nao consigo le-los todos mas aproveito para dizer que admiro imenso a sua obra! Um abraco!