Oiço-te manhã de chuva, em latidos de cães,
a dizer de mim, mais do que penso.
Desentrelaço o silêncio,
e, gota a gota, uma a uma,
escuto-te no arrepio de carraças fixas sobre o pelo.
De carraças que se não amedrontam
no bafo denso dum tempo.
Não mais que o silêncio a varrer o frio desta manhã.
Não mais que uma rosa amarela a enlaçar
o rosto na timidez de um lenço.
Este, que enroupa fio a fio, o cabelo espargido
dos astros p'los cabeços.
Nos meus olhos a voracidade inconcebível
de um fogo que arde extinto,
sem combustível,
sem oxigénio…
Um fogo buliçoso e pleno a resvalar
em lâminas desiguais,
quais labaredas furtivas sobre vagas,
no desacerto do verbo.
À força suprema de uma oscilação insana,
abocanho o sal da lágrima que se não isenta
de te amar na alma,
de ser afago,
recado de chuva e pranto
no teu rosto
no teu lábio entreaberto
em que se oculta a prova de que a gota é mar,
é mar principiado,
Oceano aberto no mutismo silenciado do canto.
MT.ATENÇÃO:CÓPIAS TOTAIS OU PARCIAIS EM BLOGS OU AFINS SÓ C/AUTORIZAÇÃO EXPRESSA