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MEUS PEDAÇOS

 

Em sombras de sombras me perdi,
falho de mim então me duvidei,
de mágoas e tristeza me esqueci,
do que fui um dia e não mais serei.

Sou um pedaço de outros tantos
pedaços, nas linhas com que me coso,
sou desassossego e demais prantos,
a luz se me perdeu, onde a mão pouso.

Essa mão que a escrever me é doída,
por tudo o que fui e não sou mais,
por sobre o ombro, cabeça pendida,
sou sentimento e desordens emocionais.

E nesta escuridão inflexível me vejo,
no espelho oblíquo, não me reconheço,
destituído de tudo, nada antevejo,
que me diga aqui, ao que pertenço.

Sou coisa dada ao nada, e nada influi,
que este meu ser, que é só pensamento,
arrelias me traz, e a si se conclui,
num completo e atroz alheamento.

Meus dias fastidiosos correm lentamente,
como que a lembrar minha reclusão,
só quando a noite vem, em seu poente,
se me depara laivos de discreta emoção.

Então me narro e enfim me disponho,
ao amor que infunde minha alma,
mas breve, breve me contraponho,
porque me falta aqui a douta calma.

E assim sozinho, incerto, sou eu a sós,
no quarto escuro, que me obscurece,
lembro sem esforço, quando éramos nós,
com tudo aquilo que não esquece.

Jorge Humberto
02/07/11

 
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jorgehumberto
 
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