Poemas : 

Escola do Tempo e Outras Incongruências Mágicas

 
Deveras há uma ponte,
Dessas de corda e madeira
Suspensas sobre um nevoeiro,
Que nos leva a outros lugares:
Lugares difíceis de alcançar
Pelos que não sonham.

Lugares há em que só chego com a saudade,
Desses nunca me esquecerei.

Outros que só existem na minha cabeça
– Esses não quero nunca alcançar,
Pois se um dia existirem
Deixarão de ser vontades minhas,
E um homem sem vontade
De iludir-se;
De viver;
De sofrer;
Nada mais é que um homem como tantos outros,
Que nunca saberão o que dizem,
E só escutam o que falam.

Há lugares em que nunca estive,
Que me satisfazem tanto
Só por serem lembrados como viagens
Que nunca fiz.
E, talvez, nem as queira fazer,
Pois me satisfazem em ser apenas isso:
Lembranças infinitas;
Outras vidas que pude viver
Apenas pela ausência delas.

Essa ponte, esse nevoeiro,
Não são eternos,
Não ficarão para sempre aqui no meu caminho:
Haverá a hora em que o sol levará para longe
As nuvens negras,
E a chuva fará com que se apodreça
A junção das cordas que suspendem a ligação entre esses Mundos.

E tudo, enfim,
Cairá no fosso mais profundo e belo da História:
O esquecimento necessário.
– A imperfeição da vida é mais bela,
Pois é mais curta que qualquer poema,
E sentindo-a já a tenho.

Terei de voltar os olhos para olhos d’outros,
Enxergar uma rota nova em novos olhares...
Ou quem sabe no céu, nas estrelas,
Dentro de mim,
Na perdição do Abismo,
Hajam novos horizontes na falta de perspectivas?

Rotas novas para pés cansados,
Pés novos para rotas tão velhas...
Por que somos instruídos pela vida,
E o Tempo insiste em ser essa Escola tão desumana,
Que só funciona em fuso anti-horário,
Dando-nos o que não precisamos,
E tirando de nosso alcance
A chance de darmos às mãos,
Escritor e Leitor,
Ao menos uma vez?

Talvez o divino não seja nada além de desumanidade.

Quem me dera ser apenas poeta como nesse instante,
E só durante esse segundo ser eterno,
Sem me preocupar demais em ser alguém além desse nada.

Minhas lágrimas são palavras,
E desse constante afogar
Formo minha poesia seca e árida,
Com traços dessa metafísica que é a minha Realidade.

 
Autor
ferlumbras
 
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