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ENTREVISTA

 
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ENTREVISTA
(Jairo Nunes Bezerra)


Sob o sol escaldante do sertão paraibano, caminho em busca de uma casa onde mora o Sr. Josias de Alencar, um centenário de 102 anos. Pouco a pouco surgiu à minha frente uma velha casa, ladeada por uma vasta extensão de terra, aqui denominada de quintal, que se destacava das demais terras inférteis, pelo verde que abundava em seu perímetro. No pequeno alpendre da casa se distinguia uma rede esverdeada e, a poucos passos, encostado à parede, um velho violão. Repentinamente, como por magia, surgiu à porta, um velho alto com andamento de moço, aparentando 70 anos. Era o Sr. Josias... A apresentação foi simultânea , ambos nos aproximamos. Identifiquei-me e o coloquei a par da curiosidade que me tinha levado até ele: A de ouvir a sua história de vida. Muito hospitaleiro, se colocou à minha disposição. Senti-me à vontade, e fui direto ao assunto: Queria saber dele o segredo da longevidade. Sorrindo e tranqüilo, começou: Herdara dos pais a casa em que morava com grande extensão de terra, onde sempre plantara os mais variados tipos de verduras e além dessa horticultura, cultivara também variadas fruteiras. Em terreno, anexo, tinha a sua criação de galinhas e cabras. Tudo isso era o que o vinha mantendo até esta data. Com orgulho, disse que nunca pagara Imposto de Renda, IPTU, IPVA, condomínio, seguros, prestações. E, nunca entrara num super mercado e farmácia. Todas as suas alimentações eram naturais da proximidade em que morava. O seu alimento diário era uma variação que fazia com os produtos cuscuz,
macaxeira, verduras, ovos, galinhas e carne de bode. A sua energia eram ainda o gás e o seu fogão as lenhas. Consumia até bebendo, a límpida água de um velho poço, que nunca secara. Jamais possuíra geladeira, televisão, telefone e rádio e também nunca elegeu nenhum presidente. E continuou...

Eu totalmente à vontade, fui mais longe: Perguntei-lhe se ele achava se aquilo era viver. Ele sorriu exibindo os dentes brancos e completos, e confidenciou-me: Nunca fui casado e já dormi com todas as mulheres da região. E ainda continuo. Também sorrindo afirmei: “Isso é viver!”. Acrescentou ainda que tem uma boa voz e que dedilha o violão diariamente. Diante de mim, não mais estava um velho e sim um jovem feliz. Um belo exemplo de vida! Terminei a entrevista com dores nas mãos, pois o aperto de mãos dos sertanejos nas despedidas é uma torquês.

Agora, aqui meditando, penso: Talvez estivesse mais jovem, se tivesse agido como Sr. Josias, consumindo remédio caseiro, caminhando muito e consumindo mais verduras. O Violão já tinha e as centenas de mulheres?... Agora é tarde. Isso é bom do começo!... Mais ainda posso ganhar alguns anos de vida se deixar de pagar Imposto de Renda, IPVA, Taxa de Luz, telefone, condomínio, IPTU, super mercados, transportes, assistência médica, taxa de bombeiro etc. Posso sim... Mas se virar presidente.



 
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Jairo Nunes Bezerra
 
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