Poemas : 

[Carrossel na Chuva]

 
O xixi do minúsculo cachorro
escorreu na borracha ressecada
do pneu do carro abandonado.

O pingo de chuva fria
que hesitava em cair da lisa folhagem,
finalmente, num rebrilho de luz,
escoou para a calçada vazia de gente.

A luz do poste da praça,
a duras penas do meu olhar interrogante,
conseguiu varar as folhas das árvores.

O carro que a minha pusilanimidade
jamais me deixaria possuir
acaba de estacionar na minha frente.
[sou fraco: ah, se eu pudesse...]

O cheiro que eu esperava ansioso
quando ela vinha em minha direção
não aconteceu.

Já sei! Já sei! Descobri
que eu vivo sem saber ter —
nunca aprendi!

Mas não saber ter
é uma maneira sentiente de ter,
ter aquela vontade espicaçante...
— de ter!

Essa vontade de chuva fina,
busca o quê?
A casinha na montanha?
A cama do aconchego?
Por que tenho essa vontade
de que a chuva seja mansa, fininha,
constante, quase fria... se estou só?

Ô loucura... Isto aqui, ó,
isto aqui é um carrossel,
um carrossel solto na chuva,
não tem fim!

 
Autor
crstopa
Autor
 
Texto
Data
Leituras
931
Favoritos
1
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
9 pontos
1
0
1
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
MomentosDeAmor
Publicado: 19/09/2011 11:56  Atualizado: 19/09/2011 11:56
Participativo
Usuário desde: 15/09/2011
Localidade: Mato Grosso Do Sul
Mensagens: 39
 Re: [Carrossel na Chuva]
Profundo sentir, vc e essa sensibilidade tocante! que muito me encanta, claro, naveguei nos detalhes, até cheguei a sentir esse vazio ofegante no peito, parabens Carlos, minha total admiração. Cy