O xixi do minúsculo cachorro
escorreu na borracha ressecada
do pneu do carro abandonado.
O pingo de chuva fria
que hesitava em cair da lisa folhagem,
finalmente, num rebrilho de luz,
escoou para a calçada vazia de gente.
A luz do poste da praça,
a duras penas do meu olhar interrogante,
conseguiu varar as folhas das árvores.
O carro que a minha pusilanimidade
jamais me deixaria possuir
acaba de estacionar na minha frente.
[sou fraco: ah, se eu pudesse...]
O cheiro que eu esperava ansioso
quando ela vinha em minha direção
não aconteceu.
Já sei! Já sei! Descobri
que eu vivo sem saber ter —
nunca aprendi!
Mas não saber ter
é uma maneira sentiente de ter,
ter aquela vontade espicaçante...
— de ter!
Essa vontade de chuva fina,
busca o quê?
A casinha na montanha?
A cama do aconchego?
Por que tenho essa vontade
de que a chuva seja mansa, fininha,
constante, quase fria... se estou só?
Ô loucura... Isto aqui, ó,
isto aqui é um carrossel,
um carrossel solto na chuva,
não tem fim!