Poemas : 

O general

 
("Depois de fortemente bombardeada, a cidade X foi ocupada pelas nossas tropas.")

O general entrou na cidade
ao som de cornetas e tambores ...

Mas por que não há "vivas"
nem flores?

Onde está a multidão
para o aplaudir, em filas na rua?

E este silêncio
Caiu de alguma cidade da Lua?

Só mortos por toda a parte.

Mortos nas árvores e nas telhas,
nas pedras e nas grades,
nos muros e nos canos ...

Mortos a enfeitarem as varandas
de colchas sangrentas
com franjas de mãos ...

Mortos nas goteiras.
Mortos nas nuvens.
Mortos no Sol.

E prédios cobertos de mortos.
E o céu forrado de pele de mortos.
E o universo todo a desabar cadáveres.

Mortos, mortos, mortos, mortos ...

Eh! levantai-vos das sarjetas
e vinde aplaudir o general
que entrou agora mesmo na cidade,
ao som de tambores e de cornetas!

Levantai-vos!

É preciso continuar a fingir vida,
E, para multidão, para dar palmas,
até os mortos servem,
sem o peso das almas.


José Gomes Ferreira
( 09/06/1900 — 08/02/1985)
Autores Clássicos no Luso-Poemas

 
Autor
José Gomes Ferreira
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 07/01/2012 13:48  Atualizado: 07/01/2012 13:48
 Re: O general
Fabuloso

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 07/01/2012 13:49  Atualizado: 07/01/2012 13:49
 Re: O general
Concordo com o Umav.