Rio de águas puladeiras,
Pedras pontiagudas, poços sorrateiros,
Leva nas veias de inquietas corredeiras
O meu frágil barco a navegar.
Na velocidade das quedas,
Faz água, quase tomba...
Sustos e mãos suadas,
Que se agarram pelas bordas;
As frouxas bordas, finas bordas...
Maluca montanha-russa,
Ondulando vai-e-vem descompassados.
Tão depressa o trambolhar nas águas!
Tão pouco tempo para ouvir,
Os chamados sonoros dos bem-te-vis saltitantes,
O piado aflautado das siriemas ariscas,
O balanço preguiçoso dos buritis ao vento,
Apenas momentos, relances,
Do cheiro do capim marmelada,
Dos currais entardecendo,
Dos assa-peixes tristonhos:
Pouso bêbado de delicados coleiros equilibristas.
Zune o barco nos remoinhos,
Balança nas curvas das águas,
Tocadas pelos braços dos velhos jambeiros cansados.
Zune a sonhar na espera,
De que uma laçada certeira
Traga o barco para a margem,
E que laçador e laçado,
Possam ver e ouvir juntos,
Sons e cenas do sertão
Antes que com as águas,
Vá o meu barco errante,
Desaguar no oceano.
Se assim for, eu não serei
Nem mais barco, nem mais sonho
Serei água: só mais água fragmentada e chorosa,
Que vira chuva e desaba,
Nos campos da minha infância.