Amanhã acordarei como hoje me deito:
Morto.
Isento de Ti, sem caricias.
Isento de Ti mesmo.
Isento de mim.
Acordarei e pensarei mais:
Mais dor trovará sobre mim.
Custa tanto ser diferente. Para melhor.
Não fumar e beber. Gostar da borga mas também de ler.
E a vida arremessa-nos sempre a igualdade à cara.
Numa limpeza da consciência.
Amanhã acordarei, e a biologia nada me dirá.
Pois toda a minha atenção estará na mulher que passa.
Toda a minha mente perde a disciplina para o prazer de a saber despida.
Quase da vontade de pegar no cigarro, para aquecer a traqueia que tão gélida torna a conversa.
Tão pálida a cigarette, refulgindo-se em ironia.
Tão seca.
Tão relaxante.
A inutilidade arrasta-se pela rua,
E sinto pedaços de mim enterrarem-se por entre a calçada.
Oh, porque sou assim,
Afortunado e ingrato
Olhos cerrados e vontade enlaçada
Daqueles dias em que morro
Isento de Ti
Isento de Tudo