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NA BEIRA DA FLOR

 
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Vejo-te com os olhos indelicados e as mãos sujas e brutas, enterrado em areia movediça, em escolhas tortas. Vejo-te em carros sem direção, em estradas que dão círculos e morrem. Às vezes estás deitado nas costas da fome, na sarjeta que some e te engole, te mastigando sem classe apenas para te cuspir. Estás a sumir dentro de nuvens e maldições.

Viro de costas sem saudade, sem angústia ou qualquer coisa que o valha. Aqui jaz o teu tempo e as palavras que não foram. Dezembro é um trem descarilando no calendário, uma gastrite consumindo as entranhas mofadas da agonia.Tanto faz a poesia que morreu no teu corpo. Quem se importa com os vestígios do dia?

Minha face é a morte que se vai pela noite sem lua quando tudo não era nem eu nem você. Atravessei dezembro e janeiro e o ano já foi inteiro sem promessas, sem sentido. Nunca mais as músicas abafadas e sem promessas, nunca mais os desertos sufocantes da dor. Cheguei na beira da flor sem pétalas ou beleza. Toda a indelicadeza cabe no que exijo esquecimento. Daqui para frente, apenas o vento, somente o vento sem tempestade.


Karla Bardanza
 
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Karla Bardanza
 
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Enviado por Tópico
Karla Bardanza
Publicado: 30/01/2012 12:12  Atualizado: 30/01/2012 12:12
Colaborador
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Mensagens: 3263
 Re: NA BEIRA DA FLOR
obrigada pelas leituras.

Karla B

Enviado por Tópico
Transversal
Publicado: 30/01/2012 20:35  Atualizado: 30/01/2012 20:35
Membro de honra
Usuário desde: 02/01/2011
Localidade: Lisboa (a bombordo do Rio Tejo)
Mensagens: 3755
 Re: NA BEIRA DA FLOR
"Viro de costas sem saudade, sem angústia ou qualquer coisa que o valha
Atravessei o ano inteiro sem promessas, sem sentido
Estás a sumir dentro de nuvens e maldições
exijo esquecimento, o vento sem tempestade"

Como eu gosto de te ler Poetisa. Magnifico. Obrigado.

Abraço-te