Poemas : 

13 de Pluvioso

 
estou de volta aos anos 90
quando a vida era maravilhosa
e eu não sabia:
& perder tempo era tão divertido
a única diferença era o medo da morte
(que agora não sinto, não sinto frio, não sinto nada, só fome)

aprendi a dizer em um péssimo inglês
o que só sinto em português
no meu peito e carne e ossos e sangues brasileiros

talvez eu seja um espantalho no campo de centeio

flui a minha vida 25 anos de solidão e sol e fracassos e mordidas nos lábios e língua e livros vazios
que entendo melhor com o tato dos dedos a acariciá-los
que com o suave admirar dos meus olhos cheios de veias e manchas vermelhas e lágrimas presas nas bolas dos meus olhos.

talvez em francês a minha dor soe mais bela
que em qualquer outro idioma
mas que se fodam as bonitas e as feias
o que importa é que somos hipócritas
todos discípulos dissimulados da Igreja de Bukowski
todos deprimidos com o mal du siècle vendido em comprimidos álvares de azevedo corporation
sofrendo o sentimento do mundo de Drummond
incorporando caboclos e putas ao nosso hálito
tudo em full HD

& nada no mundo nos faz mais felizes
do que entender inventar bobagens infelizes
pendurar em nossos versos os versos que gostaríamos de ler
nos jornais em tatuagens em muros pichados em músicas em intelectuais em livros em bundas
nada de arte clássica
nada de estética
nada de alma
não temos mais alma

ah, quem dera ter beijado a boca de Rimbaud poeta!
ter feito sexo fingido com o fingido do Walt Whitman
mas não me permitem as horas
já é tarde para soluçar bocejar amar cagar & qualquer coisa que caiba no verso sem medida

& independentemente do que digam os sábios do mundo contemporâneo poetas filósofos historiadores budas kerouacs de merda: persisto em ser diabo
ao contrário dos meus amigos inimigos detratores apedrejadores leitores escritores da minha vida & morte eternamente perdidos

a minha Vida é o fim do mundo

 
Autor
ferlumbras
 
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