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Conto de Um Conto

 
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Numa fase de minha vida, uma vez por ano, por 11 seguidos, participei de pescarias com muitos amigos por esse Brasil afora. Numa dessas, dentro de uma canoa pescando tucunaré, o piloteiro contou uma história que me deixou muito furioso e você, caro leitor, vai ver o motivo. Ano seguinte fui convidado por uma turma, dentre eles vários dentistas, fomos ao pantanal, saindo da cidade de Corumbá pelo rio Paraguai. Na manhã seguinte ao nascer do sol, tomamos o barco e enquanto alguns pescadores foram tomar café, outros subiram uma escada que ia dar no convés onde se pode ficar a vontade para arrumar a “traia” de pesca. Todos esperançosos de pescar muitos peixes, contando as vantagens pessoais de outras pescarias, então, chamei a atenção dos presentes naquele ambiente e comecei falar da minha felicidade de ter conseguido estar ali para desfrutar daquele paraíso e por muito pouco teria perdido esta oportunidade, porque quase fui preso numa confusão sem sentido.
No dia anterior a nossa viagem perto do horário de fechar os bancos, lembrei-me de tirar mais dinheiro para a viagem. Próximo do local onde trabalho tem uma agência, fui lá e ao chegar deparei com uma fila para entrar, a porta eletrônica tinha dado problema, mas já estavam consertando. A fila chegava até a calçada, não eram tantas pessoas assim, é que a construção dessa agência tem pouco recuo da rua. Logo a minha frente uma senhora idosa de uns 75 anos, acredito eu, com gestos de mal humorada pela demora.
Dois garotos em cima de seus esqueites descendo rua abaixo, quando um deles não conseguiu desviar de todo e esbarrou em mim, desequilibrei-me, cai, de leve, sobre a velhinha de posse de uma bolsa a tira colo. Com aquela cara de brava, mira na altura do meu ombro, talvez por preguiça de levantar a cabeça e encarar meus olhos, foi logo perguntando se eu estava bêbado ou estava querendo aproveitar de uma anciã. Tentei lhe explicar o incidente, mas a senhorinha não me deu nenhuma chance, continuou a bater com a língua nos dentes e blasfemar contra minha pessoa, a ponto de chamar a atenção do guarda que abriu a porta lateral e nos levou para dentro da agência, colocando-nos diante do gerente de óculos fundo de garrafa, que quis saber do ocorrido. Quando eu abri a boca, ela, em voz alta, atravessou e pediu ao guardador de dinheiro que chamasse a polícia para me prender porque eu era ladrão, teria lhe roubado os R$ 250,00 da sua bolsa e podia me dar buscas que ia encontrar a quantia. Ao ouvir aquilo me arrepiei todo, porque tinha comigo, na carteira, exatamente aquela quantia.
Naquele impasse o senhor míope e dono de um bigode invejável deu uma de Pôncio Pilatos chamando a rádio patrulha que parecia estar do outro lado da rua só esperando. Dois fardados aproximaram e digiram até aquela mesa de julgamento sem veredito e a estranha figura foi logo despejando todas as farpas exigindo que verificassem meus bolsos. Por sorte o cabo me chamou de lado e ouviu minha versão que foi confirmada pelo segurança, isso me aliviou por um momento. O policial dirigiu-se a ela e indagando, se por ventura, não havia a possibilidade tê-la esquecido o dinheiro em sua casa a exemplo de sua tia, que vai sempre ao banco, pagar alguma conta, mas acaba esquecendo-se de levar o dinheiro. A mal humorada levantou a voz e pergunta a autoridade se ele estava chamando-a de caduca e que tivesse mais um pouco de respeito, porque ela tem idade de ser no mínimo sua avó. Não deixou por menos e falou de novo que se me revistassem iriam encontrar o dinheiro dela.
Interrompendo minha narração, um dos pescadores tomando as dores minha, levantou e disse que eu era paciente demais se fosse com ele já havia mandado a velha calar a boca e o outro, sentado ao meu lado, também afirmou que a essa altura já teria deixa a anciã falando sozinha. Mas, disse-lhes que não poderia fazer nada com aquela frágil mulher. Mas o homem de bom senso, o cabo, fez lhe uma proposta que iríamos até a casa dela e se não encontrássemos o dinheiro, eu, além de devolver o valor reclamado, seria preso. Ela aceitou e lá fomos nós adentrar no camburão em destino de sua casa.
No caminho ela não fechou a matraca com sua língua ferina, ainda bem que em vinte minutos chegamos à porta da casa, um sobrado, e ela mora na parte superior. Na entrada o vizinho de plantão na janela perguntou para ela sobre o que esta acontecendo, a reposta não poderia ser outra, diz ser por causa desse ladrão, apontando para mim. Ao subir a escada que dá acesso a sua residência o policial perguntou-lhe que lugar ela guarda o dinheiro. Sem ares de cansada pelo esforço da subida, disse, de forma rude, que coloca numa caixinha acima da geladeira.
Entramos e fomos direto ao local indicado, lá estava a bendita abaixo de um relógio despertador daqueles que se compra em camelôs por míseros reais. A velhinha pegou o relógio e deu para eu segurar enquanto abriu a caixa e dentro estava os R$ 250,00. O profissional da lei solicitou-lhe que pedisse desculpas para mim, no entanto, a criatura rebelde disse que não, se alguém tivesse de pedir as tais desculpas seria eu por tê-la derrubado. Aquilo me enfureceu por demais e sem que percebessem, enfiei o relógio no bolso do paletó. Despedimo-nos e desci a escada entre os policiais. Chegando próximo aos últimos degraus o relógio desperta, triiim, triiim, triiim..., que sufoco. Ai, eu acordei, já dava a hora de levantar para tomar o avião com destino a Cuiabá. Imaginem, quase fui jogado no rio.

 
Autor
Barsanulfo
 
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