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Silenciofagia

 
Quando as palavras não vieram
mover-me os dedos,
o silêncio, em segredo,
era um cão ferrenho a morder
os calcanhares de uma voz
perdida
pelos corredores áridos
da memória.

As horas não eram vividas
em lugar algum
apenas giravam os ponteiros
de um relógio
sóbrio em seu rodopio estanque
na parede
de um vazio azul.

Não se sabia se havia ali ou
não
a premissa de um novelo

quando as palavras não vieram
mover-me os dedos.

Algo se faltava
e um nada dentro de um nada
sugava
as minhas mãos
ao vácuo dos cabelos

e o rosto
como um cão-sem-dono
farejava
em meio ao abandono
algum sinal

pertinente
no ar.


by Gabriel Nogueira Ferreira in O corpo remoto (2009)


Gabriel Nogueira Ferreira
Psicólogo e Poeta

 
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Guma
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Enviado por Tópico
Felipe Mendonça
Publicado: 22/10/2012 10:40  Atualizado: 22/10/2012 10:40
Usuário desde: 01/12/2011
Localidade: Rio de Janeiro
Mensagens: 533
 Re: Silenciofagia
Sim, há momentos de silêncio e vazio em que nos devoramos. Gostei deveras destes versos. Parabéns pelo belo poema. Grande abraço.

Enviado por Tópico
thiagodebarros
Publicado: 22/10/2012 12:43  Atualizado: 22/10/2012 12:43
Membro de honra
Usuário desde: 11/01/2012
Localidade: Brasília
Mensagens: 709
 Re: Silenciofagia
Quebro o silêncio para dizer que tuas letras comunicam.
Parabéns.

Enviado por Tópico
Sterea
Publicado: 22/10/2012 12:47  Atualizado: 22/10/2012 12:47
Membro de honra
Usuário desde: 20/05/2008
Localidade: Porto
Mensagens: 2999
 Re: Silenciofagia
Li e converti-me, posso dizer.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 24/09/2014 00:16  Atualizado: 24/09/2014 00:16
 Re: Silenciofagia
curioso,intrigante e um pouco assustador imaginar esse tipo de silêncio