Evento : 

POEMA(S) DE VIDA INTEIRA

 
I - (sem título)

A poesia de uma vida inteira
Constatando no final
Ser a vida
A mais bela poesia
Ainda não "escrita"
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II - Uma vida inteira no aprendizado do amor

A mais pura magia de um momento eternizado
Presenciando o grande milagre da vida, dia a dia
Aquele em que o coração se convulsionou e o sol raiou
De forma pura e singela a vida amando amar quem ama ela
Tal coração assim vivendo neste aprendizado, amando se desapegada mente
Teria os pés úmidos de tinta e percorreria caminhos, estradas, deixando um rastro de simples poesia
Seres microscópicos olhariam para cima e veriam caminhos de luz, construídos por nossa "Maestria"
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III - poema de uma vida inteira

A poesia de uma vida inteira
Se minha, seria pequena
Pois sou poeta menina
Demente contente
Na alegria alienada
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IV - Breve vida de um poema

O pai, um bêbado, ainda doente de amor mal curado.
A mãe, uma mente conturbada, envolta aos vícios do pai.
Foi concebido numa noite qualquer, num canto qualquer de um bar imundo.
A gestação foi curta, poucos minutos, até nascer sobre a folha de um guardanapo de papel, pela caneta emprestada de um garçom; num parto rápido, como um escarro que despejava ali as secreções daquela doença, doença que trazia em seu corpo: sua herança genética.
Mas nasceu velho, enrugado, marcado pela dor: a cara do pai.
E naquele ambiente, tão logo foi apresentado à bebida, sugando o resto de cachaça de um copo que tombou sobre ele. Pela mesma cachaça, seu pai também tombou e foi levado embora junto com a mãe desmaiada. Abandonado ali na mesa, foi em seguida assassinado pelo mesmo garçom que ajudou no parto, numa morte também rápida. Sem velório foi enterrado no lixo.
Vida breve! Morreu sem nunca ter sido lido, sem sequer saber que foi um poema!
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V - poema de vida inteira

a vida é apenas um cenário
onde preparo a saída do poema
é o verde humilde que está prestes a morrer

enclausurado

uma barra de ferro brilha repetições
nos ombros e nas costas

-afilhado cinzento das tragédias gregas!

a vida é apenas um jogo
que eu jogo entre o relógio de areia
e a casa de porcelana quente
entre o cavalo de barro vermelho
e Adão cego
bebendo enxofre da mulher triangular.

a neblina do próprio Eu adensa-se
e no nome do silêncio maduro
as estrelas perdem-se nas cavernas forradas de ouro

-lâminas cortando simétricas as revoluções crepusculares

que outro simulacro abre fendas no coração do homem
que se ajoelhou
cabeça baixa sem honra nem orgulho ;mármore negro

que tarde finda traz a mulher
com a criança nos braços
e na sua rédea a foice cansada do campo de trigo

para quando a palavra perfeita que na virtude se acende de morte ou de ideia.

na ampla paisagem da vida
onde o mar de Todavia revela-se na gaveta
o tempo do sonho alimenta-se da constelação dos planetas profundos
e a mulher liberta a criança do Nada
e dá-lhe o leite do seu peito
enquando o homem ergue a cabeça da razão

e o que fica do passado é a curiosidade de um braço interminável
de dor e de palavras
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VI - "POEMA DE VIDA INTEIRA"

Não existe poema
meia vida...

não existe poema
meia luz, meia voz,
que não seduz,
que viva só...

meio vivo
é poema morto
sem adorno e flores
no seu horto...

e poema morto
é poema enterrado,
para que seja vida
há de ser cravado

cravado no fundo da alma
de quem lê, de quem sorve
pela janela dos olhos
um poema de vida inteira,

um poema de existência plena
-daqueles- que não se esquece,
-daqueles- que morre o poeta,
mas a obra permanece...
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VII - Sonho de vida inteira

Na minha vida
tive beijos e muitas feridas,
solidão e cansaço,
tive pureza e amasso,
lutas contra causas perdidas.

Na minha vida tive um sonho.
por ele, bati a muitas portas,
conheci muitas figuras tortas
e vi poucos olhares risonhos.

Por ele, escrevi muitos versos em vão
e muitas rimas sem fim,
rios de tinta gastos nesta ilusão,
chegando a dormir em jardins
sem nunca deixar de ouvir o coração.

Muitos poemas escritos,
muitos poemas lidos.
O livro nunca foi publicado,
aparentemente este foi um sonho apenas sonhado.

Depressa todo o mundo se esqueceu,
depressa se findou a alegria,
também meu sonho morreu
juntamente com a poesia.

Mas o brilho nos olhos não se apaga
e ainda hoje continuo a escrever
o que a minha alma propaga:
"o futuro há-de ser o que eu quiser!"
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VIII - poema de vida inteira

hoje, envolve-me a liteira
com rudeza familiar,
com crueza torta.

amofina-se-me a beira,
já encurtada de ar,
que, frio, ainda arranha a porta
sem que o queira.

nem sempre foi assim

já fui castelo,
coisa grande feita de mim
livro cheio saído prelo
as pedras, afinal, eram papel
e as letras só pareciam mel.

hoje, o cheiro de bolor
chega a ser enternecedor
mas corta-me em partes desiguais.
uma, maior, foge das demais
outras morrem-me nas mãos
com insuficiência de irmãos.
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IX - Poema de Vida Inteira

Lá na casa de mamãe, começou a minha vida
No momento de meu parto, eu chorava, papai ria.
Eu nasci gordo e saudável, com bem mais de quatro quilos
Era o quinto filho, em casa, filhos de Encarnação e Emílio

Amamentado no peito, crescia a não ter fim.
Era um menino lindo, mas, depois, fiquei assim
Minha infância, bem feliz, eu era um menino arteiro
Eu me divertia muito, pois não precisava dinheiro

Comida boa, e farta, refeições bem caprichadas.
Que saudades, de minha mãezinha, que tinha as mãozinhas de fada.
Bons amigos, brincadeiras, e a vida ia passando
Aprendi a gostar do vinho, e do bem fui me afastando

Eu, que era um bom aluno, com boas notas no boletim
Cheguei-me mais à bebida, troquei escola, por botequim
Bebi a mais não poder, tornei-me um alcoolista
Já não queria o trabalho, eu vivia pessimista

Os anos iam passando, e eu vivia no boteco
Saia de lá caindo, como se fosse um boneco
Mamãe morreu, foi pro céu, enquanto eu estava na bebida
Minha vida virou um escarcéu, eu já não tinha saída.

Todos pensavam assim. Quem iria acreditar?
Um dia, sem me despedir, abandonei o meu lar
Papai, irmã, os familiares, todos eu abandonei
Quantas decepções para eles eu causei!

Andando nas ruas, ao léu, eu era a decepção
Passei fome, passei frio... Eu desconhecia o perdão.
Um dia, porém, o meu Deus teve misericórdia de mim
Numa casa me acolheu, e me trouxe para si

Eu fiquei livre do vício, conheci a minha amada
Casei-me, ganhamos um filho, a vida foi retomada
Eu até virei poeta, e comecei a rimar
Pois todo homem é poeta quando se dispõe a amar

Hoje eu sou muito feliz, por viver a minha sorte
Já não tenho o que temer, nem tenho medo da morte.
Ao meu filho, deixo um legado de amor, alegria e paz
Ele também já faz versos, e é um homem capaz

Minha vida ao pé da cruz é uma vida de vitória
Desta forma chega ao fim,o resumo de minha história
Esperança, desespero,vitória, e até brincadeira
Foi assim que foi escrito, meu POEMA DE VIDA INTEIRA
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X - Fluo em (bio)grafias

Desço cantando chuva,
faço-me sussurro,
aconchego-me em vales;
obnubilo fundos.
Turvo-me e
transpareço-me;
bebo a sede do mundo.
Desço em ventres,
meandro-me em corpos,
revolvo-me em entranhas,
levo tudo,
lavo o sujo.
Vaporizo... e alcanço
o céu.

fúria e calmaria,
pedra e líquido,
saciedade e sabor;
minhas dualidades,
minhas bipolaridades.

Pela lua que me atrai
Pelo sol que me evapora
Pela nuvem que me leva
Pelo calor que liquefaz-me
Pelo lago que me cala
Pelas plantas que me esperam
Pelas bocas que me bebem
Pela terra que me acolhe

Fluo dividida...

[E sou vida inteira!]
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XI - A DANÇA DA VIDA

Amaciei as palavras difusas
Que rolaram pelos meus dedos esguios
Afaguei cada sílaba na penumbra da minha sede.

Geometricamente alinhadas
Falam de ausências silenciando medos
Calcinados pelo tempo...

Casas a corar ao sol e esfregonas a lamber o chão
Repletas de sonhos incompletos e paredes vazias
Com olhos de águia como que revivendo vidas
Embrulhadas pelo vento,
Rasgando o espaço perpetuado pelo som agudo das feras.

Em cada prateleira tudo permanece estático
Em contraste com o rodopiar das gentes
Entrando e saindo como folhas de outono
Varridas pelo tempo na dança da vida...

O gesto se faz canção que chora e sente
As multidões caminham e todo o universo palpita
Entre o bailado do sol e da lua,
Que geme ao som do teclado que nunca deixa de tocar
No frenesim saltitante da música folk.

A nudez da minha pele mistura-se
Com o palpitar das emoções
Timbradas em papel mata-borrão.
Uma audaz fantasia persegue-me
Delineando cada passo ondulante no asfalto negro
Que marca o limite entre a realidade e o sonho.

Será que posso levar-te ao jardim do outro lado do espelho
Antes que a noite se dilua no tempo e a voz
Se perca pelos caminhos?
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XII - "POEMA DE VIDA INTEIRA"

Não me ofereças um poema
no dia da minha morte.
Não morro,
porque também não vivi.
Caminhei apenas em bermas de estradas,
procurando a sombra ou,
pelo menos,
lugares pouco iluminados.
Não quis ser muito vista,
nem conhecida, nem muito amada,
porque também não soube ver,
nem conhecer, nem amar,
como devia.
Nunca me disseram,
e eu também não descobri,
ou não fui aceitando,
que poderia existir uma Pedra Filosofal
e que viver, sonhando,
era, na verdade, viver.
Talvez numa curva longínqua, mas cheia
de sol,
eu tenha sonhado fugir dos subterrâneos.
E talvez tenha saído,
mas não da forma que me era essencial.
Daí, esta não-existência,
ou semi-existência,
este não saber, nunca,
se estou, porque devia,
ou se não devo, ou se não quero.
Os dias passam
todos
iguais a todos os dias.
Não sei se é cansaço,
ou seca rotina,
ou inútil angústia,
ou tudo junto,
mas sei que não pode viver,
nem vive,
quem sente o dever de viver.
Por isso,
é a sombra que me convém.
Não sou cor, nem luz, nem coisa
nenhuma.
Só quero ser cinzas, quando parar de existir.
Quero ficar aqui,
na casa onde morei,
raiz e seiva de flores que não verei
e, quem sabe, não terei.
Não quero lápide, nem memórias, nem
poemas,
nem amigos, que não tenho.
Não sou poeta, não faço hinos à paixão,
não sei viver poesia.
Vivi, em tempos de Vida, não eu,
parece-me,
mas a outra, aquela
de quem se gostava naturalmente,
aquela que é lembrada,
e não esta sombra que se pisa e ignora,
amarga, dura e só.
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XIII - Poema de vida inteira

Estou sem razão,
fora do meu juízo perfeito.
doidejando e foliando.
Sou insensato,
estou fora de mim,
alegre, vaidoso,
apaixonado e orgulhoso,
da minha vida inteira.

Estou sem razão,
fora do meu juízo perfeito,
afrontoso e abominoso,
estou fora de mim,
magoado e dolorido
estou extravagante
arrebatado e extremoso,
com a minha vida inteira.

Estou sem razão,
fora do meu juízo perfeito,
demente, louco,
sem nada do passado,
para me orgulhar,
sem nada no futuro,
para alcançar,
nesta minha vida inteira.

Sei que estou sem razão,
fora do meu juízo perfeito,
brincando de viver a vida inteira.
Mas, é a MINHA VIDA inteira !
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XIV - A poesia de toda vida

a poesia de toda vida
esteve por tempos contida
nos vãos pequenos das janelas
atrás das sombras da porta
onde os olhos jamais alcançaram
como um tesouro de pirata
escondido no fundo do oceano
com riquezas infinitas
coisas que no dia a dia
passaram por nós despercebidas
a verdade do espelho de cada dia
o instante que transfigurou-se
em segundos apenas
aquelas flores que nasceram
nos jardins do vizinho
o espanto de um susto
a côr do silêncio
um pensamento que persistiu
a tão sutil densidade das coisas
o sabor melado da alegria
a mão seca que tocou a agonia
a fidelidade dos sentimentos puros
a imagem lúcida perdida no tempo
a poesia de toda vida
nasceu e morreu com o tempo
não foi vista pelos olhos distraídos
tentou acenar tantas vezes
desesperadamente quis dar sinal de vida
mostrar que estava ali para ser sentida
nasceu fresca e jovem em todas estações
mostrou sua beleza, até que envelheceu
mostrou nas rugas o segredo da poesia
mas invisível, não sobreviveu...
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XV - POEMA DE VIDA INTEIRA

âmago dos sentidos
sangues dos gemidos
dores finas
fibrilas clandestinas
e incautos corações
calem as orações
que aprenderam
e leiam-me, como nunca antes me leram!


de todos os inícios
aos mínimos indícios
pecado livre e original
de ónus e de aval
dores aprofundadas
coisas não faladas
colo de vossa mãe
murro no nariz e o sangue que essa dor tem!


primeira desilusão!
quem vos deu a mão?...
- eu, das coisas não precisas!
por respeito às divisas
enterrastes-me fundo
e empobrecestes o mundo
rasgando horizontes
até o último beijo secar para sempre as fontes...


sei-vos céu e inferno
flores que morrem no inverno
a etern(a)_idade na mão
dos amores de verão
a ansiedade de ser
lentamente, a morrer
o uso e o hábito
dos mesmos papéis, dos mesmos anéis, dos mesmo êxitos...


grito que vos morreu
filho que não vos nasceu
dia que vos sorriu
fruto que não vos surtiu!

palavra que vos magoou
e a primeira bofetada, que dano irreversível vos causou?!

passo que não coube
e as marcas por sarar, os dias por contar, alguém os soube...?

...
só eu, Poema que ninguém leu!


por vós
guardo em mim a (vossa) vida inteira
sou este Poema cheio, que vos porta a voz...

pela metade, ninguém o escreva, ninguém o queira!
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XVI - PERENIFÓLIO

tudo que a inspiração me trouxe
foi este cantar nostálgico e súbito.
fez com que meus olhos chorassem
escondidos atrás destas velhas mãos.
quando senti os versos escorrerem
em torrente entre meus trêmulos dedos;
os bendisse, por os recolherem todos...
Sem perceber do segundo seguinte,
deixei então que todas as lágrimas
regassem o branco papel, fertilizando-o,
para que algo bom germinasse de mim;
crescesse, florisse, perfumasse e frutasse...
celebrado como um poema de vida inteira,
sempre que for sentida a minha ausência.
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XVII - Momento ou poema de vida (inteira)

E Eu, dividido e disperso no tempo.
Dia por dias, passados e futuros, que me imprimem fotocopia.
Imagino-me na totalidade, repartido por folhas diversas
Respeito instruções, a vida fora do corpo, de uma gráfica universal
Sigo à risca e metodicamente o manual do sapiens republicado
Onde à nascença foi carimbado o meu nome.
...
Para amanhã, já me dei à luz
Alimentei-me de rotina para morrer ao fim do dia
Mas hoje, sem a asma que sei que sentirei amanhã pela manhã
Sem o ar de frete que me trazem outros na cara na fila do transito
Sem trabalho, sem almoço, sem cigarros, sem mais trabalho a tarde toda
Sem o embrulho no estômago… jindungo no cu de todos os meus eus
Sem luzes agarradas aos faróis na fila de volta a casa
Sem banho, sem jantar, sem bola na Tv, sem cama e sem sono
Hoje, sem nada do que me fará ser eu amanhã.

Delírio passado ou verborreia inútil
Nasci em partos complicados e criei-me igual todos os dias
E nem num apenas, me mandei a merda e fiquei a dormir.
Noites, insónias suadas
E guilhotinas suaves para encadernar vida em pensamentos.
Lição futura ou caustica previsibilidade.
Crio-me de novo, cómodo, e de novo e para o ano inteiro
Amamento-me e cresço nos lençóis surrados da preguiça de os mudar hoje
...
E eu, tantos
Já sou tantos, antes e depois, que agora, não sei qual sou realmente
Que importa, sou todos, uns iguais aos outros
E de todos, não quero ser nenhum de mim
Convoquei-os, mesmo àqueles que já esqueci
Reunião, assembleia-geral, eu com os meus eus reunidos à minha volta
Todos intimados a escrever sobre quem sou.

O tempo não existe
E eu, momento, folhas brancas.
Folhas brancas
Ou uma vida inteira.
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XVIII - Poema da vida inteira

Outrora, qual a Aquiles,
Quase me devoraste,
Escamandro furioso,
Procela borrascosa – desmesura.
Espremeste-me contra paredes,
Pegaste-me pelos gorgomilos,
Exigindo-me tudo o que não tinha,
Tudo o que perdi ou vendi,
Tudo o que sempre exigiste de todos:
Venalidade!
Enquanto três bocas
Choravam ruidosamente.
Nestas horas, roubaste-me
Até meu corcel negro,
E quando pedi ajuda, decretaste:
“ – Não sei se é verdade... te vira, rapaz!”
Grande artista da esquiva e da omissão,
Quase me arrancaste todas as lágrimas,
Fazendo-me sinistros convites ao mar.
Terrível alquimista,
Transformaste todo meu mar e sal
Em pedra, todo meu céu e lume em lodo.
Entretanto, estou aqui:
Mil vezes amado, desprezado,
Mil vezes perdido e sem caminho,
Mil vezes sem profecia ou futuro
A te encarar nos olhos... vivo!
Com os ombros curvos
De quem muitas vezes baixou a cabeça,
Em cadeira, de quem quebrou
Orgulhosa cerviz.
Hoje, estou aqui te encarando,
A esboçar um sorriso,
Sem perigo de virar pedra.
Outros choram, lamentam-se,
Preferem puxar o gatilho da melancolia,
Embriagar-se da memória dos que partiram.
Comigo não é assim:
Já não sinto sede ou fome
Na língua seca, no estômago enjoado.
O esquecimento é o bálsamo
Que ofereces a esta esponja ressequida.
Hoje, vozes compungidas
Calaram-se em meu peito,
Aguilhões a me ferirem
Já não fazem mal
À carne afeita à dor.
Agora, admiro tardes iluminadas e frescas
Que tanta luta ensombrou, esfriou,
Que tanto arrependimento transformou
Em noite e tempestade...
Sinto-me faltoso, por isso humano, completo.
O futuro não mais me inquieta: vivido está!
Perdido está!
O passado dia-a-dia julga-me,
Mas vou sempre sorvendo as velhas mentiras
Que imobilizam toda a culpa
E as revoluções deixadas por fazer...
O presente reduziu-se a um zéfiro suave,
À profunda aceitação.
Este momento sem perspectivas, metas,
Ou pegadas encapsula-me.
Sou duro, carne de pescoço.
E agora?
Pergunta que já não cabe mais:
Agora estou completo, perdido,
Perdido...
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XIX - Poema de vida inteira

Aborto vivo,êxtase carnal,espirito recluso.
linhas divisórias em neon disperso
conjugam as primeiras palavras,
espasmos luminosos trilhando a cela branca
absolvem a mãe insana com frieza.

Alimentado com fúria,
pulmoes mecanicos engolem o ar contaminado,
sereno atropela a infancia,violentado
despe-se a noite como lobo
diante da sombra da eterna lua.
contorcida estrada,masturba-se.

Gaiolas verticais de concreto e aço,novos muros,
bonecos desfeitos,lívidos parecem vivos,
novos irmaos postiços.
Não importam-se,rastejam na tempestade
sem qualquer grandeza ou redenção.

Ainda jovem salta do sonho
na torre cintilante da nova era
Da cátedra,da raça,da mentira na novela,
rígido esplendor assoma-se ao redor do automato despedaçado.
poema sujo e grotesco de breve existencia vazia.
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XX - Poema de vida inteira

Não sendo curta
Nem comprida
É já tanta
A consumida
Que seria
Uma mentira
Tomá-la
Por inteira

E o poema
Contrafeito
Insignificante e relegado
Talvez até vendido
Na candonga
Por tuta e meia...

Que despeito!
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XXI - As ... do poema na ! da Vida


Às vezes parece que desistimos de vez
Mas sempre erguemos da queda a persistência

Nem sempre o caminho se encontra luminoso
E nem sempre o silêncio é a luz do nosso chão

Somos precários em cada quotidiano do nosso diário
Na fragilidade indefesa de uma folha de papel
Susceptível e predisposta à inscrição da sua história
Em cada página com que o mistério do amanhã
Sem o prever nem o temer se faz presente

Nem sempre a vida espelha a face que julgamos
Neste olhar estático e estanque sobre a sua hora
Sem galgarmos o muro lamentável de um momento
Buscando na distância do tempo o fundamento de cada dia

Cada dia é uma vela acesa nas margens do nosso caminho
Circunscrevendo-se entre si o sentido da nossa existência.

A vida é este contínuo propósito de a escrevermos
No parapeito de uma janela aberta ao fortuito dos dias
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XXII - Poema de Vida inteira [nua e crua]


Pela janela do tempo
Derrama a chuva lá fora
Sem memórias pendentes
Espera a volúvel, o agora.

Vida, a desconhecida
Hipócrita mascarada
Ora é fada madrinha
Ora é bruxa malvada.

Um enigma impossível
Só dúvidas e incertezas
Inacessível e inefável
Fonte de falsas belezas.

A vida é uma encenação
Ópera de sibila ufana
Cada ato propala o final
Ironia, comédia humana.

Mas, existe um horizonte
Que desvela a vida inteira -
Arte, ‘espetáculo estético’
Das metáforas do poema.
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POR FAVOR LEIA

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Atenção:

agradece-se aos votantes que não alterem o alinhamento cronológico da lista, isso facilita o nosso registo de votos, na tabela criada para o efeito. Não há necessidade de a ordenarem por preferência, basta colocar os pontos atribuídos, em função do vosso próprio alinhamento de preferências, à frente de cada poema. Obrigado.


§§§§§§




A votação, exclusiva aos participantes, será feita via mp, através de lista enviada a cada um, e decorrerá até ao final do dia 22 de Março de 2013.


Relembra-se que a não participação de voto implica a anulação do concorrente.

Votem em consciência, depois de ler (com gosto) todos e cada um dos trabalhos, eles merecem!

...e, claro, nunca será demais frisar que está vedado o auto-voto, os participantes nunca devem (nem podem) votar no seu próprio trabalho!


E L-P
 
Autor
Eventos Luso-Poemas
 
Texto
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