Poemas : 

JOÃO NA TERRA DOS CONCRETOS DE PLÁSTICOS

 
E do ventre sofrido de Maria
surgiu na caatinga do sertão
chupeta de cacto
berço de espinho
nasceu João.


De Maria, nasceu o messias do sertão
pé queimado no chão vermelho
corrida pra buscar pão.
Suor seco, água em pó
lágrimas para refrescar o rachado das mãos
nem mesmo o joelho caído sobre a morte
era suficiente para Deus mandar um pedaço de sorte.

Correndo do sol de todos
se cobriu no pau de arara
e os cabeças chatas foram todos atrás de água,
o rumo era incerto, só em deus confiavam,
mesmo que ele lá em cima nunca tenha os amado.
Rumo a salvação é a terra prometida,
o sol lá não é tão forte e lá tem muita comida.


Chegando na famosa terra, de terra não tinha nada.
Tudo era plástico, tudo era de aço
as plantas, os carros,
até o bom dia era fabricado.
O mar de dinheiro que haviam lhe falado,
só existiam para alguns,
e esses nem português falavam.

Olhando ao seu redor,
viu que estava mais ferrado,
as lágrimas antes vermelhas de terra,
agora eram pretas de fumaça.

Com suas trouxas de roupas,
foi tentar arrumar serviço,
de chinelo de dedo, foi barrado num bairro dos ricos,
numa loja riram do seu sotaque, na outra disseram que não tinha mais idade.

Agora, João percebeu que tinha outro chão
Aquele batido de pisadas do diabo, agora é uma calçada de asfalto.
Sem rumo, sem direção, correu na contramão,
gritou pelo seu criador
essa terra aqui
é mais seca que a minha,
a fome aqui
mata mais que lá em cima,
o sol disso aqui
queimou tudo o que eu não tinha,
a vida aqui
não tem dó da minha sina.


João, com fome, orou e fez o plano.
Levar da colheita de concreto
tudo o que couber no estômago
comeu
bebeu
riu

dançou

Nunca comera tanto E um sorriso ele ganhou.
Mas pra cabra da peste a vida é dura,
o sol de todos, o encontrou.

Agora joão, dos homi ele correu,
na terra de concreto e plástico
um tiro ele recebeu.
O sangue vermelho e ralo
no asfalto preto escorreu.
A dor aguda da bala nas costas,
João nem sentiu, só viveu.
A lágrima, não era mais vermelha de terra,
e nem preta de fumaça.
Era uma lágrima pura, só pra quem recebia a graça.

A morte era o caminho.
A cidade prometida agora ele encontrava,
água para beber á vontade,
até mainha estava lá com saudade.
O banquete era para todos,
sem distinção da pele ou social.
O amor entre todos era verdadeiro,
não existia interesse, apenas a alma.

 
Autor
FranciscoBeserra
 
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